Em meio a quietude da mata e sob a luz da lua, o amor de Thomas e Leonor finalmente floresce...
Thomas avistou Agoirá sentado em um rochedo e juntou-se a ele.
- Moça Leonor bem?
- Sim. - foi a resposta monossilábica de Thomas.
Agoirá o observou por um momento e voltou sua atenção a mata à sua frente.
- E moço de longe bem?
- Hã? Sim, eu estou bem também, obrigado. A dor de cabeça passou. - Thomas sentou-se ao lado do indígena.
- Moço de longe não parece bem.
- Por que, posso perguntar?
- Olhos dizem que moço de longe triste.
- Ah é? Pois eu não estou triste coisa nenhuma.
- Não? - Agoirá virou-se para ele. Os olhos escuros do índio pareciam desnudar a alma do inglês. Thomas lhe sustentou o olhar por alguns segundos e depois desviou.
- Perdi meu navio, meus companheiros por ela, índio. Não sei se conseguirei voltar para a Inglaterra algum dia. Qualquer bom súdito dessa colônia pode me enfiar uma bala no peito e estará prestando um bom serviço. Fiquei aqui mesmo sabendo que era errado. Ela é uma dama e eu o que sou? Nem um pirata mais. Sou um João ninguém que nada pode oferecer a ela. - Thomas voltou a cabeça na direção onde Leonor estava - A não ser o meu amor eterno.
- Sim. Moço de longe mudou sua vida por moça Leonor, mas moça Leonor não pode mudar vida por moço de longe. É isso?
- É. Ela já está com a vida traçada. Casamento marcado. Não posso exigir que ela trocasse tudo isso por uma vida errante. O que aconteceu hoje provou que eu só atrapalhei a vida de Leonor. Quisera eu nunca tivesse vindo para cá.
- Moço de longe covarde?
- É claro que não! Posso provar isso a você agora! - Thomas levantou-se exaltado.
Agoirá não moveu um músculo.
- Então prova. Não para Agoirá, mas para a moça Leonor. Amor não pode ser medido, apenas sentido. Índios sabem disso desde curumim. Amar como respirar. E isso, moço de longe sente por moça Leonor. E moça Leonor também sente por moço de longe. Senão não tinha arriscado vida no fogo em engenho. Moça Leonor vive por moço de longe. Moço de longe vive por moça Leonor?
Thomas ficou algum tempo em silencio assimilando as palavras do índio. Nenhuma mulher em toda a sua vida haveria de pegar em armas, enfrentar selvagens. A única mulher corajosa o suficiente estava ali ao alcance de suas mãos. A mulher que lhe amava a ponto de sacrificar sua honra, seu nome e sua vida por ele. A única mulher com quem ele poderia encontrar paz.
Ele levantou-se e com passos rápidos voltou para onde ela estava. Apenas para ver a capa sobre qual ela se deitara largada sobre a relva. Pegou a capa e começou a andar à procura dela.
Alguns metros à frente ele divisou um brilho claro na mata. Seria ela? Ele andou até uma parte afastada da lagoa. Uma pequena queda d'água o alimentava e a água corria para um pequeno regato mais à frente.
Na margem ele viu os sapatos e o vestido de Leonor. Súbito, ela emergiu das águas como uma deusa aquática. A água da pequena queda caia sobre ela envolvendo-a como um véu. Vestia suas roupas de baixo que, coladas ao corpo esguio, teve sobre ele um efeito mais erótico do que se ela estivesse nua.
Os cabelos molhados seguiam reto pelas costas até abaixo da linha da cintura. O camisão de renda que ela usava colava-se ao corpo como uma segunda pele e ela não tinha consciência da presença dele ali. Nadava totalmente assimilada à natureza à sua volta.
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A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos
Historical FictionLeonor vivia sua vida simples e ordenada no seu pequeno paraíso. Corajosa, vivia com o pai e cuidava dos irmãos com desvelo de mãe. Mas, durante um ataque pirata à cidade em que vivia, tudo mudou quando cruzou o caminho de Thomas Horton, um dos coma...