Vinte e quatro

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D. Bernardo olhou para o sol à sua frente e calculou. Devia ser quase meio da manhã. Hora de apear-se e comer.

Ele ergueu a mão direita e a tropa parou. Ele desceu de seu cavalo, dando tapinhas no pescoço do animal. Era seu companheiro de viagem. Um bom animal.

Os tropeiros logo trataram de arranjar as caças para assar. D. Bernardo tirou do alforje uma botija de água. Ele nunca bebia vinho ou outra bebida enquanto estava em expedição.

- Olhe meu pai. – Martim chamou a sua atenção. – Será um fugitivo?

D. Bernardo olhou na direção apontada pelo filho e estreitou a vista. Um índio corria na direção deles.

- É Igaracê! – D. Bernardo acenou com a mão para o índio.

- Igaracê?! Aqui?! – surpreendeu-se Martim. – Será algo da parte de Leonor, meu pai?

- Isso nós vamos descobrir agora. – ele começou a se deslocar para frente ao encontro de Igaracê. O índio praticamente desabou aos pés de seu senhor.

- D. Bernardo... – Igaracê ofegou cansado. – Finalmente eu encontro o senhor...

D. Bernardo ajoelhou-se no chão e amparou o índio nos braços, lhe dando água para beber. O pobre bebeu grandes goles do líquido.

- Gonçalves, vê algo para ele comer. O umbigo dele está chegando ao espinhaço. – mandou D. Bernardo. O homem correu para atender ao seu patrão.

Mais tranquilo, agora que tinha achado o seu senhor, Igaracê fechou os olhos e começou a respirar mais devagar.

- Diga Igaracê. Por que vosmecê está aqui? Foi Leonor? Ou João Guilherme? Aconteceu algo com meus filhos?

- A vila foi atacada, D. Bernardo. – contou Igaracê.

- Como foi? Quando foi?

- Na noite do Deus menino. Todos estavam na oca dos padres.

- Sei. Na igreja. E o que mais? – quis saber D. Bernardo.

- Igaracê gosta da fala dos padres. Mas Agoirá não. Então Igaracê acompanhou moça Leonor para oca dos padres, mas esperou do lado de fora. Aí, Igaracê ouviu trovão vindo do navio e tudo caiu. Gente gritava e corria. Tudo mundo fugia.

"Canhões...", pensou D. Bernardo. "Foram piratas."

- E minha filha?

- Moça Leonor correu para Igaracê e disse: "Igaracê, corre e encontra meu pai!" E Igaracê correu.

- E depois? – perguntou Martim. – Minha irmã...

- Igaracê ouviu moça Leonor gritar brava. Igaracê se escondeu para ver moça Leonor bem. E o homem levou moça Leonor de volta oca dos padres. Igaracê procurou D. Bernardo todo lugar, mas ninguém viu D. Bernardo.

- Nós fomos mais para o sul. Mas é bom que estejamos perto de Cananéia. Chegaremos à Santos em dois dias.

- Mas Leonor está sendo mantida refém! – declarou Martim. – meu pai, precisamos livrar minha irmã.

- Calma Martim. – D. Bernardo bateu no ombro de Igaracê e o índio deitou suspirando aliviado por ter cumprido sua missão. – Não sabemos em que pé está tudo lá em Santos. Quantos piratas estão dominando a vila. Eu voltarei com Igaracê para a vila e levarei Romão e João Afonso.

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