Vinte e oito

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Gente, preparem os lenços. Esse capítulo me emocionou muito, por que tenho dois irmãos e não consigo me imaginar sem eles...

Leonor e Carmo estavam chegando a casa quando ouviram um grito. As duas correram para casa e se depararam com a pior cena que podiam imaginar.

Mãe Maria estava ajoelhada perto de um corpo. Agoirá estava de pé cabisbaixo. A frente da camisa dele estava suja de sangue e D. Eugenia era atendida por duas índias que abanavam um leque perto dela. A senhora parecia ter perdido os sentidos.

Leonor registrou toda a cena em segundos e, em seguida, ela viu o pequeno par de botas.

Parecendo estar em transe, Leonor deu a volta por trás de Mãe Maria. Ela sacudia o corpo para frente e para trás, murmurando palavras em voz baixa enquanto a mão acariciava os cabelos do menino.

Uma flecha de penas vermelhas adornava o objeto e estava fincada no peito da criança. Uma mancha rubra de sangue circundava o ferimento.

- Eu achar minino, moça Leonor. Mas não ser rápido o bastante. – Agoirá murmurou.

Leonor olhou para ele, mal registrando suas palavras. Em um canto afastado, D. Constâncio fumava um cachimbo lentamente.

A moça começou a olhar aqueles rostos, a sala parecia girar ao seu redor, a mancha de sangue saltava aos seus olhos. Uma agonia, uma raiva, uma dor atingiu seu peito e grito subiu em sua garganta.

- NÃO! – e ela caiu aos prantos ao lado do corpo do irmão.

- Não! Não! João! Fala comigo! – ela começou a mexer nos braços do irmão. Tocou o ferimento, o rosto dele, enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto. – João! Para de brincar e fala comigo!

Ela olhou para Mãe Maria que continuava a balançar o corpo para frente e para trás.

- Mãe Maria, ele... ele... – Ela se virou para Agoirá. – Agoirá, faz alguma coisa... Ele... – os soluços a sufocavam.

O índio acocorou-se ao lado da moça.

- Fazer nada não, moça Leonor. Minino se foi com o vento.

- Mas vosmecê anda pelas terras dos espíritos, vosmecê disse! Traz ele de volta, Agoirá. – a moça sacudia os ombros do índio. – Eu te ordeno! Traz meu irmão de volta!

- Agoirá não pode, moça Leonor... – o índio queria poder fazer qualquer coisa para tirar o desespero de Leonor, mas estava além de qualquer um naquela sala.

- Meu menino.... Meu bebê... – Leonor acariciava os cabelos dele. Imagens de João Guilherme passavam pela sua mente. Ele um bebê, aprendendo a andar na areia branca e macia de Rio Santo, pulando de pedra em pedra ou subindo em arvores. Beijando seu rosto quando ela foi trazida depois da captura pelos piratas.

- Ah meu Deus! – ela gritou em desespero. - João! Volta pra mim, irmãozinho... Volta pra mim... – pegou na mão dele, notando que estava fechada.

Curiosa, ela forçou os pequenos dedos a abrirem. Dentro da mão do menino, uma pequena flor de cor branca. Era a sua favorita. Primavera. Cresciam abundantemente na região com diversas cores.

- Muitas dessas ao redor dele, moça Leonor. Ele segurava muitas dessas. – esclareceu Agoirá.

- Flores? Ele tinha ido colher flores?

- Ele sabia... – disse Mãe Maria – que esta era sua flor favorita, minina. Sabia que vosmecê tava tristonha e quis te alegrar.

- Por mim... Ele foi buscar minhas flores favoritas... – Sorrindo entre as lágrimas abundantes, Leonor acariciou o rostinho do irmão. Ele parecia tão tranquilo... Parecia dormir. – Ah, João Guilherme... O que eu vou fazer da vida sem vosmecê.

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