Vinte

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Nunca D. Eugenia havia corrido tanto em sua vida. Ela entrou na casa como um furacão.

- Constâncio! Constâncio! – ela chamou aos berros.

D. Constâncio veio de seu escritório extremamente irritado com a gritaria.

- O que foi, Eugenia? Porque vosmecê faz tanto barulho?

- Leonor... – a velha senhora tentava falar com o pouco ar que ainda lhe restava. – Leonor foi levada!

Ao escutar os gritos, Genoveva e Mãe Maria correram para acudir. A velha índia juntou as mãos no peito ao ouvir falarem de sua menina.

- Do que vosmecê está falando, velha tonta? Quem levou Leonor? - o irmão perguntou.

- Os piratas. O chefe deles a aprisionou.

D. Constancio empalideceu e logo em seguida ficou tão vermelho que Eugenia ficou com medo que ele tivesse um ataque.

- Como assim? – Ele gritou. – Como ele ousou?

- Estávamos perto da praia. – começou a senhora a contar, aceitando um copo de água que lhe dera Genoveva. - Padre Afonso rezava a missa quando esses bandidos caíram sobre nós. Leonor me escondeu e atraiu a atenção de um pirata para si. O índio, aquele que a segue como uma sombra, salvou a menina. Mas um dos piratas pegou a santa imagem de Santa Catarina e foi para o mar.

- E o que aconteceu?

- Ele a jogou no mar, Constâncio. A imagem de Santa Catarina, que veio de Portugal com D. Catarina Góis.

- Eu não quero saber de santa nenhuma! O que aconteceu com Leonor?

A senhora fungou, ofendida e continuou sua história.

- Leonor quando viu o que ele tinha feito, pegou uma pedra e jogou nele. É claro que ela fez aquilo por pura raiva. A pedra nem chegou a acertar o homem. Mas ele se assustou e balançou o braço que já não estava muito aprumado e caiu no mar.

- Decerto salvou-se o facínora...

- Não. O homem não sabia nadar e desapareceu na correnteza; sendo assim, o líder dos piratas aprisionou a menina Leonor.

D. Constâncio ficou olhando para a irmã como se ela fosse falar mais alguma coisa.

- E é só isso?

- Só isso? - Perguntou D. Eugenia. - Sua noiva está nas mãos desses facínoras e você pergunta se é só isso, Constâncio. Pegue seu exército particular e vá buscá-la.

- As coisas não são bem assim, Eugenia. Eu não tenho um exército com vosmecê diz. Tenho empregados, pessoas que nunca pegaram numa arma. E eu não vou entrar em conflito com esses piratas. Com certeza, irão pedir algum resgate por Leonor.

Nesse momento, uma das índias chegou à porta do escritório.

- O que é? - perguntou D. Constâncio.

- Um rapaz, senhor. Quer lhe falar. Diz que traz notícias de D. Leonor. - ela estendeu um pedaço de papel para ele.

D. Constâncio rompeu o lacre e a leu. Olhou para a índia e ordenou:

- Mande-o entrar. Anda, molenga!

A índia correu para atender o seu senhor, enquanto D. Constâncio voltava-se para D. Eugenia.

- Eugenia, suba para casa e não se preocupe com Leonor. Vou pagar o que for possível para tê-la novamente.

Se D. Eugenia achou a mudança de atitude de D. Constâncio estranha, nada comentou. Saiu da sala e encontrou-se com o rapaz ainda nas dependências do comercio do irmão. Era um dos piratas.

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