Quinze

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O tempo passava e, ao entardecer, tudo pareceu se acalmar.

- E agora? O que vamos fazer? – perguntou D. Catarina. – Metade da vila fugiu. As armas estão no poder desses biltres, e agora chegam mais deles. Vamos acabar ficando sem víveres.

- Minha amiga não te preocupe. – D. Isabel tentou consolar a pobre mulher. – Agora com a chegada desse comandante, seus homens tenham mais modos. Com certeza ele há de ser uma pessoa com quem se possa fazer algum tipo de negociação.

A velha senhora levou o lencinho aos olhos e fungou, sentando-se numa cadeira.

Leonor puxou Isabel para um canto longe dela.

- D. Isabel, acreditas mesmo que ele possa ser uma pessoa sensata?

- Bem, ele é um corsário, na verdade. Meu pai disse que corsários são nobres a serviço da Rainha.

- Nobres? Pois sim... Duvido que ele erga um dedinho para não deixar seus homens a badernar por aqui.

- Eu não sei Leonor... Só nos resta rezar e esperar.

- Alguma noticia de D. Brás? Ou de Paulo?

- Não, nenhuma. Não me deixaram falar com eles hoje. Aposto que os estão privando de água e comida para que aceitem qualquer condição que esses facínoras apresentem.

Leonor abraçou a amiga penalizada.

- Logo meu pai chegará com reforços. E aí eles verão do que somos capazes.

- Vosmecê já mostrou a eles. – Isabel segurou o rosto de Leonor notando a mancha vermelha. – O que é isso? Bateram em vosmecê?

Leonor baixou a cabeça com vergonha.

- Foi D. Constancio. Ele não queria que eu viesse ajudar e eu o enfrentei.

- E então ele o agrediu? Sabes, Leonor, eu até estava contente que havias arrumado um noivo. Mas depois de ontem... Esse inútil não serve para ser teu marido; e se eu tiver a oportunidade de dizer isso a D. Bernardo, eu o direi.

- Eu disse a ele o que achava da postura dele. Chamei-o de covarde. Que os outros homens de Santos não tiveram medo de expor-se a espada do inimigo, mas que ele escondera-se atrás de nossas saias.

- Leonor! – Isabel colocou as mãos na cabeça, completamente aturdida. – Não me admira que ele tivesse esbofeteado vosmecê. Ofendeste-lo em seu brio de homem, miúda.

- Pois se eu fosse homem, eu teria dito ou feito bem mais.

- Sim, eu sei. – Isabel procurou acalmar o ímpeto da outra. – Mas todo esse ardor só piora ainda mais a situação, Leonor. Promete-me que se ele for novamente violento contigo, sairás da casa dele e irás ter comigo. Promete-me?

- Não posso prometer isso a vosmecê, D. Isabel. Tenho medo do que ele possa fazer a D. Eugenia. Já presenciei cenas de cortar o coração. Nunca a deixaria sozinha com aquele biltre. Mas não te preocupas; meu pai deixou Agoirá a cuidar de mim e de João Guilherme. Ele já sentiu o que pode lhe acontecer se ele ameaçar a mim ou meu irmão.

- Tenho medo por ti. Bem, está ficado tarde e é bom que se vás. Teu criado a espera?

- Acho que sim. Pedi a ele que retornasse ao entardecer.

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