Dezesseis

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Os dias, então, começaram a seguir com lentidão irritante. Para aflição de Leonor, nenhum indicio de alguma ajuda estava vindo de fora. E nem Igaracê voltava com notícias favoráveis ou não.

Ela se sentia dividida. Parte dela queria muito que seu pai chegasse logo com reforços e escorraçasse os piratas da cidade.

Mas outra parte ficava preocupada se ele viesse. Com a quantidade de navios ancorados na barra, Leonor calculava que havia muito mais de trezentos homens a dominar o litoral. Nunca que seu pai conseguiria reunir em tão pouco tempo um número excedente de homens para combatê-los.

Agora uma rotina abatera-se sobre os colonos. Durante o dia, tudo parecia quase normal. A única diferença era que a igreja continuava fechada e que a oferta por víveres diminuíra. As famílias mais abastadas como os Cubas, os Adorno e os Olinto de Siqueira tinham suas próprias criações. Mas as famílias mais pobres tinham que contentar-se com a caça que conseguiam.

Mas, quando os piratas se aperceberam disso, os animais começaram a desaparecer dos criadouros. Então a fauna ao redor da vila começou a diminuir consideravelmente.

Na casa dos Olinto de Siqueira pouca coisa mudou. Com a melhora de D. Eugenia depois do ataque na noite de Natal, Leonor começou a ter mais tempo livre entre os afazeres da casa e a ajuda no hospital.

Nesses momentos era que ela percebia, à distância, alguém que a vigiava como um carcereiro ou um improvável anjo da guarda.

- Vamos Leonor, vosmecê tem que pegar a bola! – gritava João Guilherme.

- Se jogar ela mais longe, vou mandar vosmecê mesmo pegar, ouviste seu ingrato. – reclamando mais do que uma velha ranzinza, Leonor foi buscar a bola que o menino havia jogado para ela, mas com força, impossibilitando a moça de pegá-la.

Enquanto ela procurava a bola, viu que alguém a observava.

- D. Thomas? É vosmecê? – ela perguntou baixinho, com o coração aos pulos.

Thomas saiu de trás de algumas árvores.

- Então você me achou...

- Há alguns dias que eu sinto que vosmecê está por perto. Por que não está com seus companheiros, sendo um bom pirata, saqueando e queimando?

Ele sorriu com o desdém dela.

- Talvez eu não seja um bom pirata. Não embarquei nessa viagem para saquear e queimar.

Leonor colocou uma das mãos na cintura.

- Ora. Talvez uma alma se salve... – ironizou.

- Vai rezar para que isso aconteça? – ele perguntou com expressão maliciosa.

A moça ruborizou-se. Pois esse era o seu pensamento desde que ele a salvara daqueles malfeitores. Ela o colocava em suas orações todas as noites para que quando seu pai chegasse com reforços, ele já estivesse bem longe dali. E essa oração sempre lhe pesava no coração, sem que a moça não soubesse a causa.

- Rezo para que vocês saiam logo daqui e nos deixem em paz.

- Acho que essa é a intenção do meu comandante. Já não há mais o que levar.

- Leonor! Leonor! Não achaste a bola ainda? – eles ouviram o menino chamar.

- Eu tenho que ir... – Leonor queria mover-se, mas parecia que seus pés estavam presos.

A Terra e o Mar - o encontro de dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora