Dezessete

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Dom Constâncio servia-se da penumbra da taverna para ver e ouvir o movimento ao seu redor. Logo dois homens se reuniram a ele.

- Até que enfim, inúteis. Porque a demora? Aliás, a demora e a incompetência! Não conseguiram prender uma donzela indefesa? Dois homens para uma tarefa tão simples

- Não foi tão simples, dom Constâncio. Sua noiva não era tão indefesa assim. Aquela miserável...

Dom Constâncio agarrou o outro pelo pescoço e colou o rosto dele na mesa.

- Tenha mais respeito com aqueles que são superiores a vosmecê, seu infame.

- Sim, senhor! Sim senhor!

Dom Constâncio o soltou e o homem continuou o seu relato.

- Como eu dizia senhor, a donzela não era indefesa. Ela me feriu com um punhal. E o homem que a acompanhava era hábil com uma espada.

- Besteira! - Dom Constâncio bebeu pouco mais do vinho, no entanto, sem oferecer aos homens. - Aquele selvagem não saberia nem pegar numa espada.

- Mas não era nenhum selvagem, D. Constâncio. - o homem mais baixo respondeu. – Era um dos piratas.

- O quê?!

- Isso mesmo. Ele disse que a dama estava sob sua proteção.

- Não acredito. – D. Constancio coçou o queixo.

- Pode acreditar, D. Constâncio. Ele era um exímio espadachim e sua noiva tem uma pontaria de canhoneiro, senhor - o mais baixo tocou a atadura na cabeça.

- Então um dos piratas resolveu tomar minha noiva sob sua asa... E vosmecês sabem quem ele é?

- Alto, jovem, olhos azuis...

- Guzmán eu perguntei se vosmecês o conheciam. Não pedi uma descrição de mulher apaixonada.

Guzman sentiu arder de raiva. Se aquele homem não fosse um dos mais ricos da colônia, ele enfiaria aquela garrafa de vinho nele em um lugar onde o sol não batia.

- E então? Quem é ele?

Guzmán e o outro homem olharam para os lados, pensando em como responder aquela pergunta, quando o espanhol ergueu os olhos.

- Ali, D. Constancio! – ele fez um sinal com a cabeça. – É aquele ali.

D. Constancio virou a cabeça e viu um homem que entrava na taverna naquele momento. Era o mesmo do ataque na igreja. O homem que havia perseguido Leonor quando a louca mandou um dos selvagens atrás de D. Bernardo.

Naquele dia ele não prestou muita atenção no pirata, por motivos óbvios. Queria passar despercebido. Mas, agora, D. Constancio avaliava bem o homem que entrava. E, pelo cenho franzido, não estava gostando do que via.

- Quero falar com ele. Tragam-no aqui.

Guzmán e o outro homem entreolharam-se. Eles já haviam enfrentado aquele homem e sabiam que ele era bom no manejo da espada.

D. Constancio fez um gesto de irritação e levantou-se, pegando a caneca com o resto de vinho, encaminhou-se para onde o homem estava.

Thomas estava sentado em uma das mesas e olhava pensativamente para a caneca a sua frente, quando um desconhecido se sentou.

Lentamente, ele virou a cabeça demonstrando todo o seu descontentamento com a intromissão.

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