Trinta e Sete

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De manhã, enquanto D. Constâncio saía apressadamente de casa acompanhado de três homens e sem dar satisfações a ninguém, Leonor ajudava as índias a prepararem o café da manhã dos homens da casa e dos empregados.

Quando a família Duarte da Meira reuniu-se para dar graças aos alimentos e comer, D. Bernardo olhou para a filha.

- Leonor, pensei em tua situação e decidi mandar-te de volta para Rio Santo. Lá ficarás sob a guarda de Mãe Maria e protegida pelos meus empregados.

A jovem olhou para o pai por alguns minutos, para então perguntar.

- E por que razão meu pai?

- Não é seguro para ti ficares aqui. Vou conversar com D. Constâncio para que ele faça valor para indenizá-lo.

- Indenizar D. Constâncio, meu pai? - perguntou Martim.

- Por quebrar o compromisso de casamento com tua irmã. Nenhuma aliança, por mais poderosa que seja compensará a minha dor de ver minha filha infeliz.

Leonor olhou para o pai como se ainda não compreendesse as palavras dele. Em seguida olhou para Martim, que tinha um sorriso na boca cheia de pão. Pouco a pouco as palavras de seu pai lhe foram penetrando a mente a fazendo entender que estava livre!

- Oh meu pai! Que Deus o abençoe! Estou livre, Martim. Livre! - a jovem levantou-se da mesa e abraçou seu pai. O rosto lavado por lágrimas de alegria.

- Fez a escolha certa, meu pai. - o rapaz bateu de leve no braço do pai à guisa de cumprimento. - Tenho certeza que irás bem feliz para Rio Santo agora, não é Leonor?

- Sim! Eu preciso dizer a Isabel... Ela há de ficar feliz com a minha alegria.

- Espera Leonor. Deixe que eu comunico aos Cubas. Não quero que vás sozinha lá.

- Mas meu pai...

- Menina, posso ser sentimental contigo, mas não sou bobo. Não porás os olhos no inglês até que eu decida se ele é digno de ti. - a voz de D. Bernardo não admitia réplicas. - Se ele provar que não é um biltre, então tratarei de arrumar uma colocação para ele na colônia para que vocês possam se casar. Se ele te amar como ele diz, esperará por vosmecê.

- Ele se tornará digno como queres, meu pai. - Leonor respondeu com o fervor dos apaixonados. - O senhor verá.

- Que assim seja. Agora vamos terminar o nosso desjejum que eu tenho coisas a fazer.

A moça tornou a sentar-se. Mas ela já não tinha mais fome. A notícia que seu pai lhe dera era auspiciosa demais para que pensasse em comida. Livre! Agora era livre para entregar seu coração ao seu verdadeiro dono. Se casaria com Thomas e eles seriam felizes para sempre.

***

D. Brás subiu em seu cavalo. Ele aguardou os outros homens que o acompanhariam até São Vicente se prepararem também para então falar a D. Paulo.

- Veja bem, Paulo. Não devo levar mais de três dias para voltar de São Vicente. Basta que eu veja o que há de errado nos engenhos de lá.

D. Paulo acenou com a cabeça concordando. O sogro nunca delegaria suas obrigações a ninguém. Ele nunca afligiria a esposa, mas tinha a ligeira impressão que a idade já começava a pesar para o sogro.

A Terra e o Mar - o encontro de dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora