O capitão Cocke reuniu no Roebruck, depois do ataque inicial, o que podia ser chamado de segundo escalão. O alarido dos piratas ainda continuava, saqueando e queimando.
- Agora que dominamos a cidade, vou reunir os lideres dela e mantê-los como reféns. Juntamente com as mulheres e as crianças. Cansados e com fome, darão até a alma para se livrarem de nós. Amanhã sir Cavendish chegará com o resto de nossa frota.
- O senhor sabe o que virá a seguir, capitão? – perguntou um dos marinheiros.
- Não sei o que Cavendish pode decidir de hoje para amanhã. As decisões dele mudam com a direção do vento. Apenas uma coisa me preocupa.
Os homens aguardaram ele completar seu pensamento.
- O selvagem que fugiu. Com certeza ele trará reforços. Temos que ficar de olho. - ele abriu um mapa que estava sobre a mesa. - a cidade tem duas fronteiras: o canal pelo qual entramos e por terra. Além de Santos, ainda há a Vila de São Vicente. Se ele foi para lá, espero que Cavendish não demore muito para seguirmos viagem.
Ele correu o dedo para cima no mapa, atingindo a vila de São Paulo de Piratininga.
- Agora, se os santos nos ajudarem e ele tiver ido por aqui, trará bem mais reforços, mas demorará mais tempo. Aquela jovem é perigosa. Bem mais do que eu esperava. Teremos que ficar de olho nela.
Alguns murmúrios de expectativa elevaram-se entre os homens. Claro que todos, sem exceção haviam notado a bela jovem. Por alguma razão desconhecida, Thomas não queria que nenhum deles chegasse perto dela.
Thomas aprumou-se arrumando a arma sobre o ombro.
- Ficarei de vigia essa noite junto com alguns homens. Aqueles papistas estão com tanto medo que não esboçarão nenhuma reação. Basta darmos alguns berros, e os separarmos. Ficarão com galinhas em noite de tempestade.
Os homens riram com a comparação. Cocke olhou para aquele que Cavendish havia descrito como sombrio e calado. Mas corajoso e leal.
- Pois bem, Horton. Destaque alguns homens que não estejam bêbados e dispense os que ficaram na igreja. Eles também têm direito de participar da festa.
- Sim senhor. – Horton se preparou para sair e pegar mais munição.
- Horton. – Cocke o seguiu.
Thomas voltou-se para o capitão.
- Senhor?
- Cavendish me contou a sua estória. Sinto por sua mulher e seu filho. Mas eu vi o quanto você ficou perturbado durante o ataque na igreja. Não se preocupe, filho. Deus não irá castigá-lo por causa de um bando de papistas
Thomas sentiu-se aliviado pelo capitão pensar que o temor a Deus tinha sido a causa de sua perturbação.
- Eu ficarei mais tranquilo quanto a isso, senhor. – ele deu um passo em direção ao arsenal.
- E Horton... Também achei a moça bela. Mas cuidado. Dizem que as sereias também são belas, mas elas podem te levar para o fundo do mar. – o capitão completou rindo.
Thomas sentiu o rosto esquentar e achou melhor pensar que era de vergonha.
***
Leonor terminava de amarrar uma atadura na mão de um jovem quando sentiu que a tocavam pelo ombro.
- Vosmecê não parou um minuto. Tem que descansar. – Era D. Eugenia de semblante tão cansado quanto o da jovem.
- A senhora que deveria estar descansando, D. Eugenia. Eu estou bem. A atividade não me deixa pensar no que está acontecendo lá fora. Mas a senhora tem razão. Venha, vou arrumar um lugar para deitarmos.
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A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos
Historical FictionLeonor vivia sua vida simples e ordenada no seu pequeno paraíso. Corajosa, vivia com o pai e cuidava dos irmãos com desvelo de mãe. Mas, durante um ataque pirata à cidade em que vivia, tudo mudou quando cruzou o caminho de Thomas Horton, um dos coma...