Vinte e um

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D. Constâncio andava de um lado para outro quando Cavendish chegou acompanhado de outros dois homens.

- Está atrasado! – O português reclamou.

Cavendish olhou para o homem e respondeu:

- É, eu sei, mas gosto de manter um suspense. Trouxe o que eu lhe pedi?

D. Constâncio jogou um saco de moedas para ele. Cavendish a apanhou com agilidade.

- Está aqui. Dez mil peças de ouro por minha noiva.

- Fico feliz que tenhamos feito negócio. Devolverei a noivinha assim que voltar ao navio.

- Espere! Minha noiva precisa de uma lição e um incentivo. Vou busca-la amanhã pela manhã. Assim, uma noite em seus porões a deixará bem maleável.

Cavendish riu.

- O senhor é um homem mau, D. Constâncio. Por que fazer isso com a pobrezinha?

- Vai me dizer que ela o conquistou, Sir Thomas? Aliás, seu imediato também se deixou levar por seus encantos. Ele se bateu com meus homens por causa dela.

- Horton?! Impossível! Aquele lá sofre com a morte da mulher e do filho e só pensa em encontra-los no além.

- Bem, parece que, depois de conhecer a minha noiva, ele mudou de ideia. Quero-o longe dela, Cavendish! – exigiu D. Constâncio.

- Ah, o amor... Pode deixar El cuervo. Não precisa ficar com ciúmes. Vou afastá-lo dela.

O outro assentiu com um aceno de cabeça. – Vou buscá-la amanhã pela manhã. Até lá, cuide bem de meu investimento, Cavendish.

O pirata fez uma reverencia zombeteira e saiu com seus homens. D. Constâncio sentou-se atrás de sua mesa voltando aos seus afazeres. Logo foi interrompido.

- D. Constâncio! D. Constâncio! – clamou um homem entrando no armazém.

- Ora essa! Será que um homem não pode trabalhar em paz! Quem é você, animal? – gritou ele levantando-se da mesa.

- Meu nome é Luís Sanches. E sou marujo em um de seus navios, o Alentejo, senhor.

D. Constâncio voltou-se a sentar-se.

- Muito bem. Ele trouxe as especiarias que pedi?

- Sinto muito, D. Constâncio. O Alentejo foi atacado na costa da Capitania do Rio de Janeiro. Perdemos toda a carga, senhor.

- O que?! Quem ousou? Reconheceram os patifes?

- Sim senhor. O navio era inglês, comandado por um tal de Barker. Ele disse que estava às ordens de Sir Thomas Cavendish, corsário da Rainha Elizabeth.

-Maldito! – D. Constâncio bateu com o punho na mesa com fúria. – Ele me leva dez mil peças de ouro e rouba um dos meus navios?!

- Toda a tripulação foi morta, senhor e o navio afundado. Eu escapei porque nadei entre os destroços e fui resgatado por um navio espanhol que ia para as colônias espanholas. Eles me deixaram próximo da vila de Cananéia.

- Sim, meu bom homem. Graças a Deus vosmecê sobreviveu. Vá, descanse e tome um trago por seus companheiros mortos. Aqui está. – D. Constâncio jogou uma moeda para ele e o pobre esfarrapado saiu fazendo uma desajeitada reverencia.

- Simón! Simón, seu mandrião dos infernos, onde está vosmecê? – D. Constâncio gritou, enquanto rabiscava em um papel e o selava.

Um homem barbudo correu ao encontro dele. Vestia roupas grosseiras e botas de cano longo. Seu rosto era marcado por uma cicatriz horrenda que cobria toda a lateral esquerda do seu rosto. Um tapa-olho cobria a orbita vazia. Dizia-se que ele havia sido atacado por um tubarão.

A Terra e o Mar - o encontro de dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora