Leonor desceu do cavalo, ajudada por Agoirá, que agia como se fosse uma sombra da moça. Sempre que Leonor precisava sair de casa, antes mesmo que ela o chamasse, ele já estava a postos atrás dela.
Agoirá não estava fazendo isso por pura servidão. Não. O embate entre os dois havia criado um afeto do índio por Leonor. Era como se ele a considerasse uma irmã. E como tal tinha o dever de protegê-la.
Mãe Maria vinha logo atrás, em um carro de boi com os baús de Leonor e João Guilherme. O menino estava montado em um dos bois, se divertindo a valer.
Uma das escravas de Dom Constancio, vendo o grupo chegar, bateu a sineta alertando a casa.
Dona Eugenia apareceu no alpendre e, levantando as volumosas saias que usava, desceu as escadas recebendo Leonor.
- D. Leonor! – ela abraçou a jovem. – Que alegria recebê-la em nossa casa.
- Obrigada, D. Eugenia. – Leonor agradeceu beijando o rosto da senhora.
- Essas são as coisas de vosmecê e de vosso irmão? Boa tarde, rapazinho!
- Boa tarde, senhora. – João Guilherme respondeu meio acanhado. Ele era bastante tímido com estranhos.
- Venham! Entrem. – Eugenia os convidou. Depois olhou para uma índia e ordenou. – Genoveva, ajude os criados de D. Leonor com os baús.
- Sim senhora. – a índia fez um sinal para outros dois índios mais jovens e eles ajudaram Igaracê e Agoirá. Mãe Maria seguiu com eles.
As duas mulheres e o menino entraram na casa. Com certeza, depois da casa de Dom Brás, a casa dos Olinto de Siqueira era a mais espaçosa. E a mais rica também, como convinha a um rico comerciante.
Leonor admirou os quadros na parede e as velas dispostas em castiçais de ouro e prata.
- Muitas coisas vieram com Constâncio quando ele veio para cá. – explicou D. Eugenia. – Nossa casa foi fechada e eu fui para o convento. Quando eu vim, trouxe o resto dos pertences de nossa família.
- E a casa de vosmecês no Reino?
- Está alugada. Como só restamos eu e Constâncio, ele decidiu alugá-la para um fidalgo conhecido. Mas ainda há o palácio construído por nosso avô na região do Baixo Alentejo.
- Ah sim. – a moça tocou uma tapeçaria na parede. – Isso é muito bonito. A senhora que fez?
Eugenia tocou a tapeçaria com carinho.
- Eu a terminei. Minha mãe e eu a começamos. Ela tecia um pouco, eu outro pouco. Era um trabalho de mãe e filha. – seu rosto sombreou-se de tristeza. – Quando ela morreu, eu continuei. Em casa, no convento e aqui.
- Eu sei tecer também. Temos uma roda de fiar em Rio Santo e aqui na vila. Sei bordar também.
- Sabes bordar?! Ah minha Virgem! Eu adorava bordar com as freiras.
- Minha mãe também aprendeu com as freiras. Mas no convento do Carmo, em Lisboa.
- Eu também estudei num convento carmelita. Quem sabe, eu até conheci vossa mãe.
Leonor ia responder quando D. Constancio apareceu.
- Finalmente! Como esperei por esse dia, D. Leonor.
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A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos
Historical FictionLeonor vivia sua vida simples e ordenada no seu pequeno paraíso. Corajosa, vivia com o pai e cuidava dos irmãos com desvelo de mãe. Mas, durante um ataque pirata à cidade em que vivia, tudo mudou quando cruzou o caminho de Thomas Horton, um dos coma...