Andando pela praia perto de Rio Santo, Leonor olhou o mar a sua frente. Quantas mudanças haviam acontecido em sua vida desde da última vez que olhara o mar dali. Perdas dolorosas como a morte de João Guilherme. E alegrias como a união de Agoirá e Carmo e a sua própria com Thomas. E mais uma que era um segredo só seu.
Depois de ter salvado a vida de Leonor, D. Bernardo achou justo dar a liberdade de Agoirá. Ainda deitado no leito se recuperando do tiro dado por D. Constâncio, o índio recebeu a boa notícia do próprio D. Bernardo.
Ainda feliz com a decisão do pai, Leonor se surpreendeu com a tristeza de Carmo.
- Carmo? O que tens? Não está contente por Agoirá? - a moça perguntou
- Sim, D. Leonor. Carmo contente. Mas ao mesmo tempo triste, porque Agoirá vai embora.
- Ah, mas ele ainda tem que se recuperar. Eu sei que vosmecês se tornaram amigos e... - Leonor parou de falar quando viu a expressão de dor da menina índia. Ela não considerava Agoirá um amigo. Ela o amava.
E é claro que, estando apaixonada, Leonor haveria de querer ajudar a índia a conquistar o amigo.
Sempre que podia delegava os cuidados ao ferido para Carmo o que ela desempenhava com o máximo cuidado e prazer.
Até que um dia, ao entrar no quarto onde ele estava, Leonor flagrou os dois beijando-se.
A índia saiu do quarto sorrindo feliz e com o rosto afogueado. Deu de cara com Leonor que sorria. A índia ficou envergonhada e baixou a cabeça.
- Não te apoquentes, Carmo. O amor nos deixa bobas.
Alguns dias depois, já recuperado, Agoirá pediu permissão a D. Bernardo e a Leonor para casar com Carmo. A moça se sentiu recompensada pelo amor que viu no rosto do índio. O amor de Carmo havia aplacado a amargura de Agoirá. D. Bernardo e Leonor haviam deixado bem claro que os dois eram livres para irem embora na hora em que desejassem. O casal preferiu ficar.
Agora, Carmo era mais do que uma criada. Era uma amiga e bem-vinda, depois que Isabel havia partido para Portugal após morte de D. Brás. E, passados mais de um ano do drama ocorrido no Natal, a casa dos Duarte da Meira se preparava para ir para a vila comemorar mais uma vez o nascimento do menino Jesus.
Ela olhou na direção da casa e viu seu irmão Martim se aproximar. Sentiu um nó na garganta ao lembrar que, passado o Natal, ele iria singrar os mares para conhecer Portugal. Ela sentiu medo que Thomas quisesse ir também. Afinal, como herdeiro de D. Eugenia era de se esperar que ele quisesse conhecer Portugal. Mas para seu alívio, ele declarou que estaria delegando essa tarefa a Martim, pois um inglês em terras papistas seria um tanto perigoso. Tanto que para a doação de D. Eugenia tivesse valor em Portugal, D. Brás teve que se valer de amizades e uma quantia em dinheiro para que o direito de herdeiro de Thomas fosse válido.
Mas tudo estava acertado. As mesmas pessoas que gerenciavam os bens dos Cubas em Portugal agora cuidavam dos bens de D. Tomás Henriques, que era o nome que Thomas havia assumido como herdeiro de D. Eugenia.
Mas Portugal era somente um nome no mapa, uma terra distante separada deles por um oceano inteiro.
Durante aquele tempo, Thomas havia tomado algumas lições com John Whitehall de como era proveitoso ter dupla cidadania. Assim os seus navios tinham proteção tanto inglesa quanto espanhola. E os dois lucravam muito com isso.
Mas, quando o dia de trabalho chegava ao fim e ele podia ir para casa e olhar para a jóia mais preciosa que a nova terra havia lhe dado, ele agradecia aos céus por ter embarcado com Thomas Cavendish.
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A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos
Narrativa StoricaLeonor vivia sua vida simples e ordenada no seu pequeno paraíso. Corajosa, vivia com o pai e cuidava dos irmãos com desvelo de mãe. Mas, durante um ataque pirata à cidade em que vivia, tudo mudou quando cruzou o caminho de Thomas Horton, um dos coma...