Vinte e cinco

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Leonor olhou para o teto e não se animou a sair da rede. Só conseguira dormir quando a aurora já se anunciava. Há dias assim. Dormindo só depois de exausta de tanto chorar. Sabia que os outros comentavam a seu respeito, mas Leonor não se importava. Tudo o que ela queria era uma noite eterna para poder dormir sem ter que enfrentar o amanhecer.

Sentia os olhos inchados, a cabeça lhe doía horrivelmente. Mas, pior do de que as dores físicas era a dor de sua alma.

Saber que Thomas não mais a estreitaria nos braços, não mais sentira o sabor e o calor dos lábios dele contra os seus. Sentir-se amada e protegida.

Uma raiva acumulou-se dentro dela. Por Deus, teria mesmo que se casar com D. Constâncio; um homem violento e cruel, mas rico e poderoso?

Leonor levantou-se da rede e foi até a janela. Ela arregalou os olhos ao ver Thomas parado na frente da casa. O que aquele louco estaria fazendo ali? Já não bastava toda a dor que ela passava toda noite? Ele haveria de lhe atormentar também durante o dia?

Rapidamente, ela saiu do quarto e desceu as escadas, encontrando-se com D. Eugenia.

- Minha filha, por que desceste? Ainda precisas descansar muito. Não parece que estás refeita das situações terríveis que passaste.

- Eu estou bem, D. Eugenia. Meu pai sempre dizia que nada como o amanhecer para não pensarmos no passado.

- Escutei vosmecê a chorar a noite. – a senhora fez um carinho no rosto da moça.

Leonor deu um sorriso singelo para D. Eugenia embora seu coração sangrasse.

Quando a moça começou a se dirigir à área externa da casa, um homem horroroso lhe barrou o caminho.

- Não, senhora. Não deve sair.

- O que?! Eu quero ir até a casa de D. Isabel de Proença.

- Tenho ordens de D. Constancio.

- Quem é vosmecê?

- Sou Francisco, a serviço de D. Constancio.

- Pois bem, Francisco. Acho que vosmecê deve saber quem eu sou.

O homem a olhou de cima abaixo. Leonor sentiu-se imunda com o olhar dele, mas não recuou.

- A noiva de D. Constâncio.

- Então... Vosmecê vai sair da minha frente ou não?

- Posso até sair, senhora. Mas vou acompanhá-la.

- O que?! Eu não vou ter um espião seguindo meus passos. Vou agora falar com D. Constâncio.

Francisco fez um ar de pouco caso, o que aborreceu mais a moça.

Ela caminhou até o escritório de D. Constâncio, parando quando ouviu vozes.

Para seu espanto e horror, D. Constâncio recebia Sir Thomas Cavendish, o corsário inglês.

***

- Aqui está! – D. Constâncio abriu o baú. – Quarenta mil peças de ouro. Sem dividir nem regatear, meu caro Cavendish.

Sir Thomas passou a mão pelas moedas, mergulhando sua mão até a metade do antebraço. Ele pegou uma das moedas do fundo.

- Você me ofende, irmão.

- Negócios entre piratas devem sempre ser baseados na confiança, não acha irmão?

D. Constâncio deu uma risada e Cavendish fechou o baú.

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