Leonor olhou para o teto e não se animou a sair da rede. Só conseguira dormir quando a aurora já se anunciava. Há dias assim. Dormindo só depois de exausta de tanto chorar. Sabia que os outros comentavam a seu respeito, mas Leonor não se importava. Tudo o que ela queria era uma noite eterna para poder dormir sem ter que enfrentar o amanhecer.
Sentia os olhos inchados, a cabeça lhe doía horrivelmente. Mas, pior do de que as dores físicas era a dor de sua alma.
Saber que Thomas não mais a estreitaria nos braços, não mais sentira o sabor e o calor dos lábios dele contra os seus. Sentir-se amada e protegida.
Uma raiva acumulou-se dentro dela. Por Deus, teria mesmo que se casar com D. Constâncio; um homem violento e cruel, mas rico e poderoso?
Leonor levantou-se da rede e foi até a janela. Ela arregalou os olhos ao ver Thomas parado na frente da casa. O que aquele louco estaria fazendo ali? Já não bastava toda a dor que ela passava toda noite? Ele haveria de lhe atormentar também durante o dia?
Rapidamente, ela saiu do quarto e desceu as escadas, encontrando-se com D. Eugenia.
- Minha filha, por que desceste? Ainda precisas descansar muito. Não parece que estás refeita das situações terríveis que passaste.
- Eu estou bem, D. Eugenia. Meu pai sempre dizia que nada como o amanhecer para não pensarmos no passado.
- Escutei vosmecê a chorar a noite. – a senhora fez um carinho no rosto da moça.
Leonor deu um sorriso singelo para D. Eugenia embora seu coração sangrasse.
Quando a moça começou a se dirigir à área externa da casa, um homem horroroso lhe barrou o caminho.
- Não, senhora. Não deve sair.
- O que?! Eu quero ir até a casa de D. Isabel de Proença.
- Tenho ordens de D. Constancio.
- Quem é vosmecê?
- Sou Francisco, a serviço de D. Constancio.
- Pois bem, Francisco. Acho que vosmecê deve saber quem eu sou.
O homem a olhou de cima abaixo. Leonor sentiu-se imunda com o olhar dele, mas não recuou.
- A noiva de D. Constâncio.
- Então... Vosmecê vai sair da minha frente ou não?
- Posso até sair, senhora. Mas vou acompanhá-la.
- O que?! Eu não vou ter um espião seguindo meus passos. Vou agora falar com D. Constâncio.
Francisco fez um ar de pouco caso, o que aborreceu mais a moça.
Ela caminhou até o escritório de D. Constâncio, parando quando ouviu vozes.
Para seu espanto e horror, D. Constâncio recebia Sir Thomas Cavendish, o corsário inglês.
***
- Aqui está! – D. Constâncio abriu o baú. – Quarenta mil peças de ouro. Sem dividir nem regatear, meu caro Cavendish.
Sir Thomas passou a mão pelas moedas, mergulhando sua mão até a metade do antebraço. Ele pegou uma das moedas do fundo.
- Você me ofende, irmão.
- Negócios entre piratas devem sempre ser baseados na confiança, não acha irmão?
D. Constâncio deu uma risada e Cavendish fechou o baú.
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A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos
Historical FictionLeonor vivia sua vida simples e ordenada no seu pequeno paraíso. Corajosa, vivia com o pai e cuidava dos irmãos com desvelo de mãe. Mas, durante um ataque pirata à cidade em que vivia, tudo mudou quando cruzou o caminho de Thomas Horton, um dos coma...