Capítulo 12

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-Nossa! – exclama Haydée passando as mãos no cabelo – Jamais imaginei que você tivesse passado por tudo isso, mas como a Carolina mesmo te disse: existe um mundo Annie e você faz parte dele – fala com carinho tocando o rosto de Annie - e você tem que se dar a oportunidade de viver novamente, de ser feliz.

-Eu não posso Haydée, eu não consigo esquecer aquela noite, eu não consigo esquecer aquele bebê – esconde o rosto entre as mãos chorando.

-Annie já se passaram 10 anos. Você é linda, saudável, tem uma carreira brilhante, tem uma família que te ama e que te apoia em tudo. Tenho certeza que aquele bebê encontrou pessoas que o amem – ergue o rosto de Annie fazendo-a olhar para ela - você não pode se martirizar por isso, afinal você era uma criança praticamente quando tudo aconteceu. Uma menina cheia de sonhos, que fantasiava uma vida ao lado do seu príncipe encantado, mas infelizmente as coisas não saíram como você imaginava. Sei que você sofreu muito e que ainda sofre, mas não pode se entregar, você não pode deixar que o que aquele desgraçado lhe fez há 10 anos atrás a impeça de viver, impeça você de ser feliz.

-Eu sei Haydée, mas é difícil, é mais forte do que eu. Há alguns meses eu decidi procurar aquele bebê, coloquei um detetive para buscá-lo. Naquele dia que eu tive aquela crise de choro ele havia me informado que por fim havia conseguido todos os registros de nascimentos, da data em que eu tive do meu bebê, da entrada e saída do mesmo, e havia conseguido a lista de assistentes sociais que trabalhavam no hospital naquela época. Não sei se vou encontrá-lo, mas espero que sim, sinto que só vou poder ser feliz novamente sabendo que ele está feliz.

- Isso é Simples, é só você perguntar para o seu pai onde ele deixou o seu bebê. Porque foi ele que o buscou no hospital e negociou tudo para a assistente social, não é?

- Foi, mas uma vez ele me disse que quem tratou de tudo isso foi a assistente social. Se eu conseguir chegar nessa mulher, eu acho o meu bebê. Eu quero fazer isso sozinha, não quero que meus pais se metam nisso. Eu que quis me livrar daquele bebê, eles não entenderiam essa minha súbita vontade de encontrar um bebê que me fez tanto mal há 10 anos atrás.

-No que eu puder ajudar, eu te ajudarei – fala com carinho.

-Você não me acha um monstro? – pergunta com receio.

-Confesso que fiquei assustada quando você contou que tinha um filho perdido por aí, fiquei ainda mais assustada quando me que tinha se livrado da criança, mas agora sabendo toda a sua história e entendendo todos os seus motivos, não te acho mais um monstro. Eu no seu lugar faria o mesmo. Quem gostaria de ter nos braços um bebê fruto de uma violência e de um trauma? Talvez se você fosse obrigada a conviver com essa criança o seu trauma seria ainda maior e com toda a certeza essa criança sofreria ainda mais em ser rejeitada pessoalmente por sua mãe.

-Na época eu pensava o mesmo, mas agora sei que aquela criança não tinha culpa de nada – chora – eu a abandonei no momento em que ela mais precisou de mim, quando ela mais precisava do meu carinho e da minha proteção – entrando em prantos – Eu não irei me perdoar nunca por isso.

-Annie – diz abraçando ela – Você era uma adolescente fragilizada, com raiva. Você não teve culpa de nada, não chora vai – limpando as lágrimas de Annie – Olha para mim – segurando o rosto de Annie – Eu vou sempre estar ao seu lado e vou te ajudar a encontrar o seu bebê, mas devo te avisar que o mesmo pode estar sendo criado por outra família, e já é grande. Tem dez anos de idade e pode não aceitá-la como mãe.

-Mas eu não quero ser mãe, eu não mereço isso, nem sei se estou preparada para ter um filho. O que eu quero é saber se essa criança é feliz. Eu quero pedir perdão por tê-lo abandonado.

CicatricesOnde histórias criam vida. Descubra agora