-Espera! – pede Annie – Você quer sentir o bebê mexendo? – pergunta ela esperançosa.
-Não precisa – responde com a mão na maçaneta.
-Não vai embora – pede Annie – Não precisa ter vergonha – sorri para a menina que agora a encarava – Vem aqui – fala chamando Carolina com a mão. A menina vai se aproximando até parar diante de Annie – senta aqui – dá espaço para que Carolina se sentar, a menina se senta e Annie pega uma mão de Carolina e coloca em sua barriga – Ela está chutando aqui – fala colocando a mão de Carolina do lado direito de sua barriga. Quando a mão de Carolina encosta na barriga de Annie o bebê chuta – você sentiu? – pergunta Annie sorrindo.
-Isso não dói? – pergunta Carolina baixinho.
-Não muito – sorri Annie – só dói quando ela chuta perto das minhas costelas, aí dói e eu chego a ficar sem ar.
-Ela faz muito isso? – pergunta Carolina alisando a barriga de Annie.
-Chutar? – pergunta Annie.
-Uhum! – responde Carolina.
-O tempo inteiro – ri Annie – Haydée disse que ela vai ser jogadora de futebol de tanto que ela me chuta.
-Eu te chutava assim também? – pergunta Carolina encarando Annie.
Annie fica completamente sem palavras diante da pergunta de Carolina, mas vê ali a oportunidade de se entender com sua pequena.
-Você era boazinha. Não me chutava muito não – responde Annie sorrindo.
-Se eu era boazinha porque você não ficou comigo? – pergunta Carolina com os olhos lacrimejados – Por que você não me quis? – pergunta tentando segurar a lágrimas que queriam sair de seus olhos.
Annie é pega de surpresa com a pergunta e reação de Carolina, respira fundo, segura as mãos a menina, a olha nos olhos e fala:
- Olhe para mim – Carolina olha para Annie com o rosto molhado por lágrimas que ela já não conseguia conter – Eu era muito nova – fala pausadamente tentando conter sua emoção – Sei que você não acha que isso é uma desculpa para o que eu fiz com você, mas sei que quando você ficar maior entenderá. Eu amava o seu pai biológico mais do que a minha vida, fazia planos de casar e ter filhos com ele, mas infelizmente todos os meus sonhos foram destruídos quando ele me violentou sexualmente, me bateu deixando-me cheia de machucados. Eu passei a odiá-lo a partir daquele dia. Quando descobri que estava grávida dele, fiquei com mais ódio, não queria ter você porque você me faria recordar de tudo que passei com ele, e isso me machucava muito. Eu não te odiava meu amor – acaricia o rosto de Carolina limpando as lágrimas – Eu só não estava preparada para ser mãe, era muito imatura, estava machucada, não sabia o que fazer, mas depois, conforme eu fui crescendo fui me dando conta do que eu tinha feito. Dei-me conta do monstro que eu havia me tornado por tê-la abandonado no momento em que você mais precisava de mim. Por muitos anos fui uma pessoa triste, não somente pelo que o seu pai me fez, mas também pelo que eu fiz com você. Eu não sabia o que pensar, ao mesmo tempo em que eu te queria, tinha medo de te fazer sofrer.
Annie limpa as próprias lágrimas que molham todo o seu rosto, olha para o rostinho de Carolina que também está chorando e segue falando:
- Contratei um detetive para te procurar, queria te encontrar de todas as formas para pedir perdão por tê-la abandonado. Quando descobri a alguns meses que você era a minha filha entrei pânico porque você esteve ao meu lado esse tempo todo. Fiquei com raiva dos seus avos e de seus pais por terem escondido isso de mim, mas parei um pouco para pensar e vi que na verdade eu não tinha que ficar com raiva, pois você cresceu com a sua família biológica, foi amada por todos, inclusive por mim. Mas sei que nada disso justifica o que eu fiz – abaixa a cabeça – Espero que um dia você possa me perdoar e volte a me amar como antes.
-Você não me odeia por agora ter descoberto que eu sou sua filha? – pergunta Carolina.
-Como eu posso te odiar meu amor? - sorri Annie – Eu te amo como Carolina, minha sobrinha querida e sapeca, e te amava como minha filha perdida. Tenho sorte por as duas crianças que eu mais amo na minha vida sejam a mesma pessoa.
-Você vai me tirar do papai e da mamãe? – pergunta – Vai me obrigar a morar com você e a tia Haydée?
- Claro que não bonequinha. Eu jamais faria isso, por mais que quisesse tê-la comigo, jamais obrigaria você a nada, muito menos te tiraria das pessoas que são seus pais verdadeiros, pois pai e mãe são os que criam que dão amor, e zelam por seus filhos. Eu tive a minha oportunidade para ser sua mãe e a desperdicei – fala Annie, abaixando a cabeça – Eu só quero que você me perdoe.
-Mas... Você é minha mãe – fala Carolina confusa – Você não me quer outra vez? – pergunta desabando em um choro sofrido.
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Cicatrices
RomanceEssa História foi escrita em 2009. E publicada nos sites: Xanainbox e Livrearbitrio. Infelizmente ambos os sites acabaram, e para minha surpresa e espanto. Recebi uma chuva de e-mails de leitoras querendo que eu publicasse a história no Wattpad. *...