Eu estava lavando o quintal quando o telefone tocou. As férias de fim ano já tinham chegado e minha casa ia ser palco de uma festa de família onde eu teria que ficar sorrindo e acenando para todos e respondendo aquelas perguntinhas medíocres das minhas tias, sobre meus supostos namorado e a escola.Minha vida não era totalmente um inferno. Eu não gostava de sair muito de casa, o que já eliminava quase cem por cento dos problemas envolvendo adolescentes. Havia dias em que eu passava até doze horas me afundando em algum livro da biblioteca pública ou escrevendo alguns poemas. Eu nunca tinha os mostrado para ninguém por saber que eu nunca chegaria aos pés da minha escritora favorita. Passava horas imaginando se algum dia alguém publicaria alguma coisa minha e não encontrava uma maneira de pelo menos achar que sim.
"Você não vai atender?" Meu pai pergunta meio alto quando vê que estou com os fones de ouvido. Eu sempre os usava no ultimo volume, não importa o que diziam sobre ficar surdo na terceira idade.
"Só um minuto" pedi colocando a vassoura de lado e subindo as escadas de cimento. Não sei porque uma casa precisa de dois andares"Alô?" perguntei meio incerta. Definitivamente eu não tinha muitos contatos a ponto de algum deles querer me ligar
"Gostaria de falar com a senhora Anne Caroline" A mulher disse com voz meio robótica
"Sou eu" tremi um pouco pensando que provavelmente era um engano terrível
"Parabéns senhora Anne, você foi selecionada para trabalhar em uma de nossas empresas" ela disse tentando parecer alegre
Eu não disse que deveria ser algo terrível? Já faziam quase dois meses que eu tinha feito aquela porcaria de entrevista e não tinha obtido resposta, provavelmente alguém descobriu e agora estava tirando sarro com a minha cara."Hein?!" foi só o que eu consegui responder depois de alguns segundos diante do que provavelmente era um trote
"Você pode anotar o endereço para pegar o uniforme e saber do protocolo?" A moça no telefone tinha pressa
Eu tropecei no fio do telefone correndo para o quarto para pegar uma caneta. Na volta percebi que tinha machucado meu dedão.
Anotei todas as informações como se elas me dissessem a localização de um terrorista. Com medo, mas com uma satisfação indescritível. Finalmente eu provaria para minha mãe que eu era capaz de arrumar um emprego.
"Que bom" foi o que ouvi dela depois de um tempo na hora do almoço.
Meu sorriso estava enorme e meu pai partilhava da minha alegria"Só tome juízo hein" ele falou fincando um bolinho de bacalhau
Eu balancei a cabeça em afirmativo
"E não vai estragar tudo com essa sua cara de merda" Zara falou tentando parecer casual, mas eu sabia que ela não estava brincando.
"Você é uma idiota" eu revirei os olhos e continuei a comer
"Se vocês começarem com barraco na festa de Natal, eu juro que dou uma surra nas duas na frente de todo mundo sem pensar duas vezes" minha mãe interveio retumbante
"E eu vou rir muito" Elizabeth que até agora não tinha aberto a boca resolveu se manifestar
"E em você também mocinha" minha mãe se dirigiu a ela
Eu segurei o riso e mantive o foco no meu prato. Não era todo dia que Margot Castro xingava as duas dondocas das minhas irmãs.
Terminei de limpar a parte que me cabia e voltei ao quarto. Meus pensamentos não paravam de se voltar para o progresso que eu tinha conseguido. Apesar de não gostar muito da ideia de ter que ajudar em casa, o fato de que eu finalmente ia poder ter um pouco de grana e liberdade tinha me seduzido de tal maneira que eu já ansiava por aquilo.
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Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...