Doze Meses

Março - O terceiro mês

Fevereiro tinha sido um mês longo para um período de apenas vinte e oito dias, mas finalmente tinha acabado. Eu estava preparada para lidar com meu trabalho e os dois traíras. Havia treinado minha cara de paisagem durante todo o fim de semana. Seria até interessante ver como aquilo se desenrolaria

"Oi gente" eu falei exultante, mas por dentro toda a frágil armadura que eu tinha construído, começou a definhar

Sara me encarou meio alarmada. Meu uniforme estava justo no meu corpo, mostrando todo o peso que eu tinha perdido. apesar do meu cabelo continuar igual, meu rosto estava coberto por maquiagem suave que tenho certeza que todos ficaram surpresos. Daniel não teve coragem nem sequer de aparecer por lá. Muito bom, eu pensei. Pelo menos ele tinha tido a decência de me deixar ter meu momento de dor e angustia bem velada, sozinha.

"Oi Danubia" fui até onde ela estava e dei um abraço nela. Senti-a ficar rígida, provavelmente Daniel já havia contado sobre o término.

"Não se preocupe querida está tudo ótimo" eu sorri e dei um tapinha em seu ombro "não é culpa sua se você não consegue segurar essa boceta, que a propósito deve estar distendida de tanto levar pica não é?!" Eu fiz o máximo de esforço para falar alto, mas sem gritar ou parecer de propósito

"Anne!" Sara quis me repreender. Algumas pessoas se viraram para olhar

"Ora o que foi Sara? Você não sabia que a nossa querida amiga Danubia tem um caso com qualquer filho da puta que aparece? Veja por exemplo o caso do... deixa para lá, eu não tenho nada a ver com isso" virei e me sentei na minha cadeira me sentindo um pouco balançada.

"Você não é santa, Anne" ouvi o sussurro baixo de Danubia, ela estava vermelha.

"Você tem razão minha querida, e justamente por isso é que você deve ter cuidado, posso ficar pior"

Parecia que ela nem estava ouvindo aquela conversa. Nem um reclame, nem um grito, nem uma explicação. Mas não importava mais. Eu teria o que eu queria, custasse o que custasse.

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"E o seu namorado?" Meu pai perguntou antes de ir dormir um pouco. Devia estar muito estressado com o serviço pois já tinham se passado dois dias. Como sempre estava com os olhos vermelhos e respirava com dificuldade "ele não apareceu no sábado"

"Ele não é mais meu namorado. Nós terminamos" eu falei querendo encerrar o assunto que nem tinha começado

"O que houve?" Meu pai perguntou franzindo os olhos

"Não houve nada. Eu só terminei com ele" dessa vez eu fui ríspida

"Tudo bem. A propósito, você está bonita"

Eu sorri

"Obrigado" eu me virei, mas mudei de ideia "o que está acontecendo com você ultimamente?"

Meu pai parou no corredor e se virou novamente para mim.

"Não entendi" ele desconversou

"Você parece cansado e meio aéreo recentemente"

"Eu só estou com alguns problemas, mas posso resolver isso" ele falou apressadamente passando por mim e indo para a cozinha. Que estranho!

"Ok" eu falei para mim mesma enquanto terminava de fazer minha lição de casa.

"O que eu já disse sobre sair desse jeito" minha mãe já veio em minha direção quando eu botei os pés para fora para ir à escola.

"Que não está criando vadias" eu repeti tranquila

"E então?" Ela falou como se eu fosse burra encarando minhas roupas e maquiagem escuras.

"Então que eu me visto como bem entender. Que eu saiba, você não me dá um centavo para minhas roupas, entoa não tem direito de opinar. Quanto a maquiagem, pode dar o mesmo recado que me deu à Elizabeth, que também se maquia todos os dias. Isso deve te manter ocupada, tentando enfiar juízo na vadia mais nova"

Antes que ela me lançasse qualquer coisa que estivesse ao alcance, eu me virei e me dirigi ao portão. Nunca tinha tremido tanto, mas nunca tinha me sentido tão satisfeita ao ver a cara atônita dela.

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"Nós precisamos conversar" Danubia pegou meu braço e o puxou

"Torne a pegar meu braço desse jeito novamente e você não perde por esperar" eu falei sibilante

"Tudo bem, mas nos podemos?"

"Mas é claro!" eu indiquei a mesa onde esperávamos a tortura das aulas começarem

"Eu sinto muito pelo Daniel" ela começou com cara de choro "ele não tem culpa"

"Não?" Eu confesso que me espantei um pouco

"Não, ele queria realmente ver você. Mas eu fiquei com ciumes"

"Ciumes? Você não disse que estava tudo bem?" Eu bufei um riso

"E estava, mas eu não consegui me segurar quando vi você e o Carlos, aí me veio a ideia de testar Daniel e ver se ele ainda sentia alguma coisa por mim. Sinto muito mesmo!" Ela pegou minhas mãos e uniu às dela

Eu respirei fundo. Então aquilo tinha sido por um homem? Achei que as mulheres que se rebaixavam a esse nível estavam em extinção. Aquela era a desculpa mais idiota que ela já tinha me dado.

"Tudo bem Danubia, eu perdoo você" eu dei um abraço nela. Sorrindo fomos para a sala de aula

Eu perdoava ela. De verdade. Mas ela pagaria por destruir um relacionamento que tinha tudo para dar certo. Ainda mais por um motivo tão mesquinho!