Eu estava ótima. Bem, não ótima, ótima, mas estava bem na medida do possível. Minha mãe não me enchia mais o saco por causa das minhas roupas nem maquiagem. Estava dando um tempo "amaciando" Danubia fingindo que estávamos bem. Nos últimos tempos tenho conversado mais, rido mais, brincado mais. Mas tinha uma coisa me afetando. Meu pai já não estava tão bem. Às vezes eu o via tremendo, ou suando incontrolavelmente. Pensei que fosse Parkinson, mas ele nunca dizia nada. Só falava que ia ficar tudo bem. Eu acreditava nele, mas as coisas sempre falavam o contrario.
"Você pode me trazer água?" Ele pediu enquanto almoçávamos.
"É claro papai" eu disse. Ele já tinha acabado com uma jarra de um litro e meio
"Obrigado" ele sorriu meio tremulo
"E como vai o trabalho?" Minha mãe perguntou como sempre fazia
"Vai bem, mas ando me estressando demais ultimamente" ele suspirou
"Tente relaxar papai" Zara pela primeira vez falou algo útil
"Você devia fazer uma viajem" Elizabeth sugeriu
"E com que dinheiro?" Ele perguntou " ainda estamos pagando a divida, meso que não pareça"
Senti a tensão tomar conta. Minha mãe se remexeu inquieta. Aquilo era culpa dela e de Zara que tinha exigido aquela maldita festa. Até eu me senti um pouco deslocada. Estava ajudando como podia, mas ainda não era o suficiente
"Vamos dar um jeito" consegui sorrir e coloquei o copo com água na mesa
"É, vamos sim" ele bebeu como se não se hidratasse há anos.
**********
Por mais que eu estivesse com roupas diferentes, eu me sentia mais ou menos igual. Meu jeito estava diferente, mas meu cabelo não estava ajudando a transição ser completa. Eu já tinha começado a fazer um tratamento contra espinhas e minha pele estava consideravelmente mais bonita. Peguei meu celular e disquei alguns números
"Sara, nós precisamos sair"
"Pra onde?" A voz um pouco metálica perguntou
"Vamos dar um jeitinho na aparência" eu falei animada "te mando o endereço por mensagem. Esteja lá as três"
O salão era grande. Tinha muitas cadeiras espalhadas pelo lobby para quem estava esperando. Uma secretária de cabelos longos e sorriso impecável me deu as boas vindas
"Eu queria fazer uma coisa no cabelo" eu disse hesitante
"E o que seria?" Ela me perguntou ainda sorrindo
Se eu tinha dito alguma coisa, é obvio que eu não sabia o que era
"Não sei, vou decidir quando alguém me atender" eu sorri alegre
"Tudo bem, temos um cabeleireiro disponível agora pode ser?" Ela checou a agenda
"Mas que ótimo, pode ser"
"O que está planejando?" Sara me perguntou com uma cara meio desconfiada
"Relaxa menina, eu só vou dar um jeito nesse cabelo" eu andei entre as várias prateleiras de esmaltes, tinturas e coisas de salão.
"E o que eu faço aqui?" Ela cruzou os braços atrás de si, avaliando o local
"Pode fazer as unhas se quiser, eu pago!" Eu parei pegando uma caixinha de tinta
Vi o sorriso dela se alastrar. Parecia que ela não fazia as unhas há décadas.
O processo começou quando eu soltei aquele prendedor maldito. Meu cabelo saiu todo espigado e não se mexia. Que vergonha!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...