Tragam flores, Eu morri

206 30 38
                                    

Eu estava dentro de um sonho. Sei disso porque eu tinha Carlos ao meu lado e também tinha uma família. Meu pai sorria para nós enquanto virava um bife na churrasqueira. Eu estava completa e imensamente feliz por isso. Minhas irmãs e minha mãe estavam conversando alegremente enquando eu me levantava para ajudar meu pai. Me sentia em paz. Devolvi o sorriso que ele me lançava, mas a imagem começou a tremular

"Um litro de soro" alguem gritava "ela precisa de uma transfusão! Agora!"

Não entendi muito bem o que aquele cenário significava. Eu queria voltar pro papai, então fechei os ohos de novo. Mas ele não estava mais lá.

"Oh querida, eu sinto muito!" Aquela era tia Deyse? O que ela estava fazendo ali? Estava me atrapalhando a voltar para meu pai. Eu quis dizer isso a ela, mas ela não me ouvia. Droga!

Fechei os olhos novamente. Não vi absolutamente nada por um longo período. Gritei por papai, mas ele não apareceu. Mesmo sendo um idiota, chamei também por Carlos, ele podia me ajudar a procurar, mas ele também não deu as caras. Merda! Então eu ia procurar sozinha, ele que se danasse. Mas por mais que eu procurasse, parecia nunca achar o sonho de novo. Ele tinha se perdido em algum lugar do meu subconsciente. Talvez o castigo de quem tentasse suicídio fosse procurar eternamente pelas pessoas que ama.

Comecei a querer gritar novamente por papai e evocar a imagem magnifica que eu tinha dele, mas tudo cessou novamente...

Abri os olhos e me assustei um pouco. Eu estava em um ambiente estranho e não imaginei que poderia ser algum lugar no inferno, já que geralmente os suicidas vão pra lá.

Não tinha ninguém ali. Era um ambiente estranho e sombrio, mas que eu reconheceria até no inferno se fosse o caso. Eu estava numa cama de hospital e meus braços estavam sendo perfurados por agulhas enormes. Meus pulsos estavam doloridos e minha cabeça rodava mais do que no dia do baseado. Minha cama ficava de frente para a janela que estava coberta com uma cortina dessas, de várias repartições. Estava escuro lá fora pelo que pude perceber. Abaixo da cortina, um sofá cinza modesto estava olhando para mim

"Você não chega nem perto do de Carlos" falei para o móvel que continuou mudo

Lembrar dele agora não ajudava muito, mas a lembrança do conforto que ele me dava já era suficiente pra me aquecer.

Tentei me levantar, mas como minhas pernas estavam um pouco moles,  voltei pra cama. Um monitor cardíaco denunciava que eu estava me alterando. Sinistro!

"Porra!" Sussurrei. Eu queria comer alguma coisa. Meu estômago estava caindo aos pedaços e me sentia ligeiramente enjoada. Analisei meus punhos. Estavam enfaixados e doloridos.

Me recostei novamente nos travesseiros brancos que estavam ali. Apesar de ali dentro também estar um pouco escuro, analisei  mnha roupinha. Não era tão ridícula quanto eu pensei que seria se algum dia estivesse em um hospital. Ela tinha alguns desenhos que eu não identifiquei de início. Sorvetes? Sim, eram sorvetes. Mas que diabo, eu estava fazendo com uma roupa de sorvetes? Eu estava na ala pediátrica? Aquilo só podia ser brincadeira!
Bufei. Também com o meu tamanho, até eu me confundiria. Fiquei ali naquele recinto estranho e escuro até que a porta abriu. Eu fechei os olhos, no caso de ser algum médico me olhando feio por ter cortado meus pulsos. Clichê, não?

Não! Eu consegui cortá-los com o fio de nylon que eu tinha levado da minha casa. Ele ia servir para consertar algumas peças de roupas, mas resolvi dar um sentido mais emocionante. Uma dica? Não testem isso em casa! Dói pra cacete! (apesar de ter dado resultado... ou quase)

"Você podia ter morrido mocinha" a voz de tia Deyse soou calma, porém afiada. Pelo visto, minhas pálpebras tremiam denunciando o meu estado de vigília.

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora