Janeiro - O primeiro mês

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Não havia ninguém. Absolutamente ninguém naquele lugar. Danubia já tinha me avisado que os mais ousados sempre chegavam atrasados, mas eu não imaginei que ela falava de todas as pessoas que estudavam naquele turno. Eu podia ouvir meus próprios passos ecoando pelo corredor. O pátio com seu tom verde abacate no chão não tinha sequer uma alma penada. Estava frio e no céu já tinha uma estrela.

"Mas que droga" eu falei baixo quando joguei a mochila de qualquer maneira em cima de uma carteira numa sala vazia

"Não fique triste" Danubia falou alto como sempre. As palavras tiveram mais impacto dado a sala sem mais pessoas

Eu pulei. Não imaginava que de todas as pessoas que podiam estar ali, ela já tinha chegado.

"Eu não vi você. O que faz aqui?" Eu perguntei com a mão no peito. Ela realmente tinha me assustado

"Eu vim estudar ora essa!" Ela se levantou dos fundos da sala e veio até mim, que tinha escolhido uma carteira na frente

"E porque não tem ninguém?" Eu espalmei as mãos para o vazio

"Porque ninguém veio" ela riu muito até ver a minha cara de poucos amigos "Tudo bem, não tem professores hoje, porque os alunos não vem. Eu também não ia vir, mas pensei que você poderia precisar de ajuda para se localizar" ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo

"Com certeza, muito obrigado. Não estou entendendo nada, a essa hora no turno da manhã as salas já estariam lotadas. O que houve?" Perguntei

"Tem um show hoje, uma festa muito badalada na casa de Carlos Ferraz... e de nada" ela suspirou como se pensasse que estava perdendo alguma coisa

"E eu devia saber quem é esse tal?" Estreitei os olhos me perguntando a importância desse carinha para uma escola inteira

Ela riu sem humor.

"Ele é o maior filho da puta que existe." Ela tornou com um pouco de raiva

"Nossa..."

"Na verdade, ele é meu paquera desde que me entendo por gente, mas nunca me olhou de forma apropriada." Ela falou pesarosa

Agora sim, eu tinha descoberto mais coisas em comum com ela, já que Daniel de vez em quando dava as caras na minha cabeça.

"Sempre acontece" eu disse na falta de palavras de consolo

"Ou eu pego ele esse ano, ou a minha vida vai estar arruinada" ela riu

"Não exagere, o que ele tem de tão especial assim para você"

"Sexo" ela falou de forma limpa

Meus olhos se arregalaram. Eu não estava acostumada a ter essas conversas. Eu acreditava que o sexo depois do casamento era o que poderia trazer uma vida estável e duradoura. Sair transando por aí como uma ninfomaníaca não estava nos meus planos.

"Mas você não disse que ele não te olha?" Perguntei curiosa

"Vamos dar uma andada e eu te explico" ela apontou a porta

Peguei minha mochila e saí com ela pelos corredores vazios. Os tijolinhos das paredes estavam aparentes e gritavam por uma reforma, principalmente a parte que tinha um pênis gigante desenhado

"Carlos é um filho da puta como eu já disse, ele trepa com todas as mulheres que quer. Não leva a escola a sério e recentemente se envolveu com o tráfico de drogas" ela falou aquilo como se todas as pessoas do planeta fossem usuárias de drogas não licitas. Eu estaquei

"Nossa isso é tao atraente" eu ri "e você ainda tem uma queda por ele? Qual é o seu problema?" Cruzei os braços na altura do peito

"Ele é lindo e, eu adoraria dormir com ele, mas aparentemente, ele tem namorada. Não me pergunte como nem porque, mas ele me atrai. E não seria problema algum para mim trepar com ele" ela mordeu o lábio inferior como se já tivesse imaginado aquilo umas cem vezes

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora