Confetti

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Eu tinha consumido minha vingança. Tinha acertado Danubia bem onde ela era mais sensível e finalmente ela tinha tido o que merecia. Na verdade, um pouco pior, já que ela tinha feito todas aquelas tatuagens para que Carlos a olhasse. Eu nem isso precisei fazer. Ele tinha vindo até mim e mesmo que o motivo fosse eu lembrar sua namorada morta, não importava porque eu o tinha beijado antes de Danubia e ela estava ali, presenciando a cena. Olhando para a minha bunda descoberta com cara de idiota enquanto as mãos de Carlos continuavam a apertar meu corpo sem se importar com o grito dela

"Mas que porra é essa?" Ela tornou a perguntar se aproximando e me puxando pelo braço, me obrigando a sair do colo de Carlos.

A erva do narguilé queimava mais rápido e minha cabeça já tinha ficado leve. Um amplo sorriso se fez presente em meu rosto.

"Você pode até não ter me escutado Danubia, mas eu jurei que isso ia acontecer. Não levei o término com Daniel tão bem assim. Eu sofri cara!" Coloquei a mão no peito fingindo. Sorrindo, arrumei minha saia e dei uma olhadela para trás. Carlos estava esparramado no sofá de couro como se estivesse alheio ao que estava acontecendo. Parecia ligeiramente frustrado. Talvez quisesse transar comigo no sofá mesmo, achando que eu podia ser uma de suas putinhas. Não ia acontecer.

"Filha de uma puta!" Danubia avançou para mim com a mão erguida, mas por algum motivo, meus reflexos me ajudaram. Um tapa dançou na cara dela.

"Não levante a mão pra mim Danubia" falei displicente

"Você não tinha o direito" ela choramingou com os olhos marejados

Dessa vez eu ri alto

"Eu? Eu não tinha o direito?" Minha gargalhada estava beirando a histeria "essa foi ótima. Eu não tinha o direito..." parei de rir e fui até ela que se afastara um pouco "Você! Vadia, não tinha o direito de enfiar essa língua maldita na boca do meu namorado! Devia ter pensado mil vezes antes Danubia. Eu não sou mais aquela idiotinha que todo mundo tinha certeza que eu era. Você teve o que mereceu!"

Ela somente me encarou por um longo momento e eu fiquei ali sorrindo feito uma imbecil vitoriosa. A verdade era que bem no fundo, estava me sentindo um lixo por ter devolvido na mesma moeda. Eu sabia como ela devia estar se sentindo e fiquei com pena. Bah! Aquilo era só resquício de idiotice. As pessoas desprovidas de caráter merecem ser punidas pelas mãos daqueles que sofreram. Quem sabe ela agora se tocasse que aquilo não devia ser feito com outras pessoas. Que a mulher do Weslley do financeiro merecia respeito assim como todas as outras mulheres de quem Danubia tinha pego os homens. Inclusive eu.

"Você não é melhor do que eu Anne" ela sibilou

Tornei a sorrir. Ela já tinha dito aquilo antes

"Eu nunca disse que era Danubia. Mas eu não preciso de confetes para as minhas ações. Posso andar sozinha"

Pela mesma porta estreita que tinha entrado naquela sala, eu saí.

No caminho para casa, peguei um baseado.

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"Onde você se meteu?" Era minha mãe que gritava. Parecia ter um megafone na garganta. E eu que achava ter me livrado dela, por ter virado a chave na maçaneta tão delicadamente... mas eu devia ter desconfiado já que as luzes estavam acesas...

Não me importei muito de início com os gritos dela. Minha mente ainda estava focada no que acontecera no caminho até ali...

Eu estava caminhando para a pracinha da cidade. Queria pensar um pouco na minha noite e a maconha não estava ajudando. Eu pensava em nada e em tudo. Pensava no que meu pai ia achar se soubesse que eu estava fumando maconha, pensava em como ele tinha me deixado de forma tão horrível. Sem aviso, nem chance de despedida. Meus olhos estavam secos, mas meu coração sangrava. Sem notar, caminhei até o cemitério que não ficava tão longe de onde eu estava. Meus saltos estavam me matando, mas valeria a pena.

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora