Confronto

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Eu ia sair do hospital. Depois de uma longa e entediante semana, eu ia sair daquele lugar. O médico tinha me receitado alguns remédios para que eu ficasse sob controle. Medida de proteção era o que ele tinha dito, porém, eu sabia que era só uma tomada de decisão para que eu não tentasse aquilo de novo. Se ele soubesse como tinha doído, nunca se preocuparia com isso.

"Bom dia" tia Deyse entrou no quarto abrindo as cortinas

Não respondi. Ainda estava tentando digerir o assunto de duas noites atrás. Ninguém daquela família de merda tinha o direito de ter me escondido aquele segredo. Mas ninguém parecia se importar.

"Tenho uma surpresa pra você" ela ficou séria e andou até a porta

Meu coração acelerou. Quem sabe ela tinha dado um jeito de convencer Carlos e ele estava ali pra me pedir desculpas. Quem sabe ela não o tinha levado para fazer as pazes comigo. Mas minha tia não sabia sobre ele, nem sobre o que tinha se passado, então não poderia trazê-lo.

Minha esperança se foi completamente quando Margot passou pela porta

"Você acha que nasci em Tróia para considerar isso um presente?" tornei de mal humor cruzando os braços na altura do peito

"Não começa Anne" Margot retrucou andando a passos largos e sentando na poltrona ao lado da minha cama "pode sair Deyse" ela acenou sem encarar minha tia

Depois de um suspiro, ouvi a porta bater. Eu encarava fixamente a janela à minha frente

"Já sabe porque estou aqui?" Ela começou em tom calmo

"Pensei que você soubesse" debochei. De todas as pessoas que eu conhecia, Margot era a última que eu gostaria de ver

Ela deu um sorriso sarcástico

"Você se parece com Suzanne... em tudo" a voz dela... era de pena?

"E você pode se passar por irmã do próprio diabo, também se parecem muito... em tudo" falei sem pensar, a raiva me cegava

"E eu era, mas ela morreu e ainda sim, me deixou problemas" ela suavemente se recostou na poltrona, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Na boca um sorriso maldito pairava

O autocontrole que eu nem sabia que tinha foi colocado à prova. Respirei fundo e perguntei sem olhar na cara dela

"O que quer?"

"Quero dizer que me arrependo de ter feito o que fiz. Quer dizer, me arrependo de ter mentido pra você, mas não de ter educado como eduquei... todos nós temos que aprender valores e condutas"

"Para não nos parercemos com vadias" observei com ironia e vi que mesmo assim ela me lançou um sorriso feliz

"Isso! É exatamente isso Anne, ninguém precisa de parecer com Suzanne! Todas as mulheres deviam ser recatadas como eu. Cuidar da casa, do marido e dos filhos e principalmente não deixar que as crianças se percam no mundo. Por isso eu infringi um pouco mais de severidade na sua educação. Por ser filha de Suzanne..." ela fez uma pausa em seu discurso histérico e descabido. Falava rápido e quase não tomava fôlego "achei que fosse puxar alguma coisa dela e acabar caindo no mundo. Só quis proteger você" ela juntou as mãos no colo mais calma

"Você queria me proteger? Me educando de forma insana para que eu não caísse no mundo?" Eu encolhi. Pensar naquilo era ridículo e hostil.

"É! Ninguém merece ser como Suzanne! Você ainda não entendia nada das coisas; era um bebê, então eu pensei que se anulasse completamente a presença dela, talvez pudesse educar você de forma apropriada" ela se levantou pegando no meu braço. Tinha um brilho maluco nos olhos e me deu medo vê-la naquele estado "Tudo o que fiz foi pensando no seu bem Anne, mas você tinha que ter se envolvido em coisas erradas não é? Tinha que aparecer drogada em casa. Eu não queria outra Suzanne na minha vida querida, entenda, eu não podia conviver com outra Suzanne, nem com uma remota ideia disso, então te coloquei pra fora" ela ria e enquanto falava apertava meu braço com mais força

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