Eu queria abrir os olhos. De verdade. Mas minha mente não estava me dando as coordenadas certas. Era estranho. Meu corpo parecia flutuar e eu tinha um gosto metálico horrível na boca, como se eu tivesse vomitado até meu caráter.
Não me lembro disso.
Também não conseguia ouvir muita coisa. Só leves zumbidos que iam e vinham sem contexo algum. Minha respiração estava sendo ajudada. Isso eu podia sentir. Meus pulmões se recusavam a me dar algum ar. Droga!
"Eu não vou aguentar perder você também princesa. Pelo amor de Deus, fica aqui" era uma voz grossa, porém, cadenciada. Acho que meus olhos teriam se enchido d'água se não estivessem fechados. Minha mão estava sendo levemente apertada
"Isso é culpa sua!" Uma voz feminina cortante se pronunciou.
Onde será que eu estava?
"Sinto muito senhora de Castro" um sussurro quase ininteligível foi dito
"Você é um adolescente hipócrita que acha que sente muito agora porque provavelmente a corrente sanguínea está lotada de drogas. Eu não quero saber dela andando com você entendeu? E se for preciso, eu coloco uma ordem protetiva para ela!" Eram quase gritos e tentei me remexer enquanto a voz me incomodava.
Aquilo só podia ser brincadeira
Escutei um barulho
"Calma Margot, tudo vai se resolver" outra voz feminina. Reconheci de imediato que era tia Deyse quem falava. Parecia que tinham se passado anos desde que escutara sua voz
O que minha mãe estava fazendo ali? Quer dizer, minha mãe não, a mulher que tinha me colocado para fora de casa?
Não fazia o menor sentido aquela palhaçada toda, mas a porra dos meus olhos nem queriam se abrir! Merda!
Outro barulho de porta se abrindo
"Carlos Ferraz" Uma voz grossa e imponente, de alguém que provavelmente tinha mais do que um e setenta de altura perguntou.
Aquele lugar estava ficando cheio demais para o meu gosto
"Sou eu"
"Sou o delegado Meira, você terá que nos acompanhar até a delegacia"
NÃO!
Era o que eu teria gritado se não estivesse incapacitada. Carlos não podia ir preso, não era culpa dele. Ele tinha me alertado, não era culpa dele!
Não ouvi nada durante um longo período
"Tudo bem" A voz macia de Carlos se fez ouvir e minha mão foi solta
Não vá embora! Era tudo o que meu coração gritava. Por favor, não vá embora!
"Sinto muito rapaz, você não vai estragar a vida da minha filha" A voz de Margot ressoou dura
A mesma mulher que tinha me enxotado de casa e me chamado de lixo? A mesma que não tinha ido me ver no hospital durante a minha tentativa frustrada de suicídio? Qual é! Ela estava bancando a santa e isso não me agradava em absolutamente nada!
Meu corpo não se movia. Eu quis gritar, me mexer, espernear, mas meu corpo não se movia, mas que inferno!
"Tudo vai ficar bem agora Anne" minha tia passou a mão nos meus cabelos que provavelmente estavam em desordem
"Você é uma idiota Deyse, sempre foi! Olha só o estado que você deixou as coisas chegarem!"
"E você era melhor como? Controlando a vida da pobre da menina até que ela se cansou e entrou nesse mundo? Você não é ninguém pra falar nada Margot! Você é a principal culpada dela ter se enveredado por esse caminho. Com as rédeas que você mantinha já era de se esperar que algo acontecesse" minha sibilou. Parecia com raiva
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Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...