Narguilé

327 31 43
                                    

"Você está uma gata!" Danubia desceu do carro com um salto alto vermelho maravilhoso e um corpete que me fazia imaginar uma dominadora. As calças pretas estavam coladas no corpo

"Obrigado, não preciso nem mencionar você" apontei para ela que tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo.

"Não, não precisa" ela riu e nós entramos no carro

A casa de Carlos não era longe da minha e nós íamos de carro para não ter que andar à pé de saltos altos.
Luís veio abrir a porta. Estava muito bem vestido em sua blusa de algodão vinho e sua calça cáqui. Sua corrente sempre pendendo do pescoço.
Dessa vez a música era menos enérgica e as pessoas pareciam se mover em câmera lenta. Antes que eu pudesse respirar, senti que o ar estava impregnado com alguma substância  ilícita

"Onde será que está aquela delícia?" Danubia perguntou já andando pela sala enorme a procura de Carlos.

"Ele deve estar lá em cima" chutei não fazendo ideia de onde ele realmente estava.

Subimos e procuramos por todo o andar de cima, mas nem sinal de Carlos. Cada minuto que passava o ar ficava mais impregnado com o cheiro de drogas e me peguei indo involuntariamente na direção de um copo de vodka. Eu me sentia eletrizada pelo ambiente e pela primeira vez queria ficar deliberadamente bêbada. Percebi que me sentia feliz quando estava assim.

"Pra quem era uma santinha, você está bem desenvolvida, não acha?" - Danubia me olhou também pegando um copo.

"Minha mãe é um pé no saco" Eu disse fazendo uma careta e virando outra dose. "Quero esquecer isso"

"Ao contrário da minha que é um doce" ela riu debochada e eu senti um pouco de inveja

Eu não tenho ideia do que me deu. De repente senti meu corpo aquecido pela bebida e um sentimento de poder se apossou de mim. Era como uma apoteose. Eu era o máximo. Me deixei levar pela batida mais forte de uma música que começara a tocar e caminhei entre os corpos que estavam ali. A luz roxa que incidia no rosto das pessoas me lembrava do purple drank e de como eu sentia falta dele.

"Precisamos achar Carlos" sussurrei no ouvido de Danubia que dançava aos beijos com Luís

O objetivo não era Carlos? Mas que diabos!

"Ele está lá embaixo. Não sei se é uma boa hora para você ir lá" Luís me olhou com um tom superior, como se soubesse de alguma coisa fora do meu conhecimento

"Ah sim, não tem problema, eu falo com ele depois" dei um sorriso falso e puxei Danubia pelo braço "Precisamos ir ao banheiro" tornei incisiva

"Me espere aqui gato" ela deu um selinho em Luís "eu já volto"

Passamos por algumas pessoas doidas de ecstasy no caminho, até que Danubia quase berrou

"Ei, o banheiro não é aí!"

"Cala essa boca escandalosa!" Devolvi um olhar repressivo. Ela nunca ia falar baixo? "Vamos ver Carlos" completei diante de sua cara desgostosa que logo se abriu

"Ah, então tudo bem!"

Andamos até um canto à esquerda. Tinha uma porta lá que Carlos não abrira quando me apresentara à casa. Testei a maçaneta. Estava aberta. Minha vez de sorrir.

"Vamos"

Descer àquelas escadas parecia levar uma eternidade. Minhas mãos estavam suando como se eu estivesse em uma missão secreta. Nós não estávamos fazendo nada demais. Eu queria ver Carlos pela bebida anestésica e pelo baseado que me deixava leve como uma pluma. Danubia por outro lado, iria comigo ao inferno se fosse por ele. Além do mais, qualquer pessoa que perguntasse, estaríamos perdidas por serem muitas portas pela casa.

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora