A falta que você me faz

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"Você não vai acordar?" Tia Deyse perguntou já acendendo a luz e me sacudindo

"Só mais uma hora!" Pedi sorrindo.

Por dentro estava quebrada, tinha passado a noite inteira conversando com Carlos sobre tudo. Como Margot tinha manipulado a família, sobre como eu tinha tido uma infância esquisita e agora uma adolescência ferrada. Ele gentilmente só me escutava falar e falar e falar, inclusive da falta absurda que eu sentia do meu pai de vez em quando.

"Nem pensar mocinha!" Ela arrancou a minha coberta e eu tentei puxá-la de volta "Levanta logo dessa cama!" Eu tinha pego o costume de pegar uma carona com tia Deyse até o trabalho, afinal, ela ia abrir a loja mesmo.

"Ah, tudo bem! Vou só tomar um banho!" Pisquei muitas vezes antes de me levantar

"Eu não tenho o dia todo!"

Tomei um banho rápido me livrando da cara amassada e fui pra cozinha. O café como sempre estava uma delícia. Na minha família ele era sempre forte e muito escuro. Entrei no carro com um suspiro

"Pode me contar agora o que houve" Tia Deyse sentou do meu lado e me encarou. Eu precisava contar aquilo pra alguém antes que me consumisse e me destruísse por inteiro

"Eu resolvi seguir seu conselho e fui procurar Carlos" suspirei pesado

"Quando foi isso? Por que não me disse antes?"

"Calma tia" eu ri um pouco e logo depois franzi os lábios

"E então? Parece que não deu muito certo" ela me olhou

"Ao contrário. Nós dormimos juntos outro dia... aquele dia em que ele ligou dizendo que eu tinha pedido pra avisar que estava na casa de Danubia"

"Bem que eu desconfiei de algo. Achei que você tinha perdido seu telefone"

"Na verdade tia, eu estava bêbada" confessei com receio de que ela pudesse ter uma reação inadequada

"Isso se encaixa melhor, mas ainda não me diz como é que você foi parar na cama de Carlos" ela olhava pra frente, prestando bastante atenção na estrada

"Não vai me passar um sermão por ficar bêbada e dormir com um cara?"

Eu estava assustada por não levar um xingo?

"Gosto que seja sincera comigo Anne, e não vejo porque te passar um sermão. Você já sabe muito bem o que está fazendo da sua vida. Eu não vou interferir em nada a menos que isso me afete diretamente e me traga problemas." Ela me olhou sorrindo

"Uau... hã, obrigada... eu acho" balancei a cabeça.

Ainda que minha tia prezasse pela família, estava na cara que ela não tentaria controlar ninguém, apesar de viver dando seus conselhos em forma de uma quase ordem

"Mas parece que ainda tem algo te incomodando querida"

"Eu não sei o que fazer com Danubia" suspirei "ela não tem falado comigo e ela diz que gosta de Carlos desde que nos conhecemos"

"E você transou com o paquera da sua amiga? Que vadia!" Ela riu alto

"Tia! Eu não transei com ninguém!" Fiz uma careta "estou pedindo um conselho para não brigar com ela. Mas eu também gosto de Carlos... e ele de mim. Nós só dividimos a mesma cama sem transar, mesmo assim, isso só aconteceu uma vez... e Danubia, bem, ela diz que gosta dele mas dorme com qualquer um" conclui o pensamento percebendo que ela podia só estar empatando minha vida

"Danubia tem... bala na agulha!" Ela disse simplesmente antes de parar em um cruzamento.

"Tia!" Ralhei com ela. A última coisa que eu precisava era de conselhos sobre como me tornar sucessora de Danubia

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora