Danubia ainda não tinha conseguido fisgar Carlos, mesmo tendo feito mais uma tatuagem, dessa vez, uma coruja no pescoço. Quando perguntei o que significava, ela sorriu e disse que era porque ela sempre estaria de olho, em tudo e em Carlos. Ela estava começando a me assustar.
Às vezes eu o pegava olhando para mim de uma forma estranha, mas depois daquele dia da cocaína, eu não tinha ousado dirigir a ele mais do que algumas poucas palavras. E para piorar, meu pai tinha piorado
Quando eu digo piorado, não é como se ele tivesse pegado uma gripe e isso tivesse evoluído para pneumonia, mas sim, ao fato de que de uma hora para outra ele tenha ficado relapso, nervoso e deslocado. E tudo isso na mesma sentença era uma coisa muito estranha.
As contas estavam se acumulando. Os juros do empréstimo que ele tinha feito eram altos demais e de novo, estávamos em uma sinuca de bico. Eu estava emprestando mais do que o habitual, porém nem assim estava resolvendo
"Acho que vou ter que começar a trabalhar" Zara disse enquanto trocava o uniforme da escola
"E a mamãe vai surtar" respondi já sabendo que minha mãe não gostaria que ela trabalhasse antes de completar o ensino médio
"Ela não tem porque fazer isso, uma vez que é para o bem de todos" ela conferiu algo no celular e sorriu
Zara, sempre pensando no bem da minha mãe. Será que ela já tinha se dado ao luxo de levar suas próprias considerações em conta?
"Talvez você ache algo que preste afinal" suspirei. Ela podia ser teimosa como um burro
A mesa do almoço já estava posta. Meu pai estava trêmulo e suava um pouco também. Estava chovendo.
"Você está bem?" Perguntei pegando sua mão, estava um pouco fria
"Estou sim" ele disse com o olhar meio perdido como se se perguntasse quem eu era.
"Não precisamos de ninguém doente por agora Henrique" minha mãe apareceu na porta com cara de poucos amigos
"E você acha que eu não sei disso?" Ele berrou. A rudeza dele me assustou. Meu pai era sempre tão pacífico. "Mas se você não tivesse me fodido, talvez eu pudesse me dar ao luxo de ficar doente!"
"Não precisa nos deixar surdos" Zara pegou uma garrafa de cerveja na geladeira "Isso deve acalmar seus ânimos" eu sabia que ela se sentia um pouco culpada, mas não deixava isso transparecer.
Nem parecia que ela só tinha dezesseis anos. Era tão madura
"Vamos comer logo, antes que eu morra" Eliz chegou já se sentando e acabando com o clima estranho
Quase na hora da sobremesa, minha mãe anunciou:
"Deyse quer que vocês façam companhia para ela esta noite"
Eu tomei um gole do suco de laranja e suspirei. Que pena que eu não poderia ir. A escola estava em primeiro lugar naquela família, mesmo que o ensino fosse uma droga
"E porque?" Zara me tirou dos meus devaneios
"Porque ela vai fazer um encontro sei lá do que e precisa de ajuda"
"Hmm, e porque ela não contrata alguém, eu tenho cara de empregada?" Elizabeth reclamou com um beicinho
Folgada, eu pensei
"Porque você não vai ver se eu estou na esquina procurando o que fazer?" Minha mãe fez uma careta "Não discuta comigo e vá logo arrumar suas coisas, vocês voltam no domingo à noite" ela recolheu os pratos, deixando o meu em cima da mesa. Desde o dia no hospital, ela não tinha trocado um "bom dia" sequer comigo
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Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...