Era segunda. Me levantei e me arrumei da melhor forma que consegui. Meus jeans estavam ok e minha blusa branca já estava a espera. O ônibus estava extremamente cheio, fechei a cara e saí trombando em todo mundo dentro daquele espaço minusculo. Ouvi algumas reclamações e gritei um sonoro "Vão se foder". Aquilo era uma afronta para os trabalhadores que estavam ali. Várias palavras de baixo calão foram proferidas e em determinado momento, eles nem sabiam porque estavam gritando daquele jeito. Dei um sorrisinho. Espalhar o caos na vida dos outros seria um hobby dali em diante, uma forma de descontar a bagunça da minha vida. A única base que eu tinha havia sido arrancada de mim e eu estava me sentindo um caco. Que se fodessem todos, como eu estava fodida.
"Que bom que voltou" Sara falou com um animo genuíno, como se eu tivesse feito realmente muita falta "Danubia está impossível"
Eu estreitei os olhos
"Você é a segunda pessoa que me fala isso" devolvi meio desconfiada
"E quem foi a primeira?" Danubia em pessoa falou da porta com seu sorriso caloroso de sempre
"Carlos" eu disse sem vontade, a reação dela podia variar bastante quando se tratava dele
"Ele é um grande filho da puta!" Ela rosnou. Pelo menos não colocou a culpa em mim, talvez estivesse solidarizada com a minha perda "fico feliz que tenha voltado, mas estou muito revoltada porque você não respondeu minhas mensagens, nem atendeu minhas ligações, muito menos minhas visitas!" Ela cruzou os braços na altura do peito
"Algum problema com isso? Meu pai morreu Danubia, você queria que eu ficasse saltitante e feliz dando pra uns e outros junto com você? Não obrigado!" passei por ela na porta e me virei acrescentando "Ah, e Carlos pareceu bem ajustado para um filho da puta" respondi ainda sem interesse
Ela levantou uma sobrancelha
"O que quer dizer com isso?" Ela andou até mim e parou. Sara já tinha começado a carimbar os documentos do financeiro, mas senti que ela nos observava
"Ele tem livros e troféus na estante do quarto e é bem sensível quando lhe convêm" eu disse dando um passo em direção às escadas
"Você anda se encontrando com ele sem a minha presença?" O tom era ameaçador
"Danubia, ele não tem a porra de uma plaquinha de privado no pescoço, então não me encha, ele não tem dona!" Fixei meus olhos nela e me certifiquei de que o recado estava bem dado
"Cuidado madmoseillè" ela levantou e marchou em direção à sua mesa
"Eu digo o mesmo querida"
Subi as familiares escadas e me dirigi à mesa de Renato, que estava compenetrado lendo um relatório. Daniel também estava lá. Parecia que haviam se passado séculos desde que ele e Danubia tinham se pegado no portão da escola. Era como estar olhando para um desconhecido. Passei direto por ele
"Atrapalho?" Perguntei a Renato me fazendo de meiga
"Anne, oh Anne!" Ele se levantou e me abraçou forte. Eu não esperava que ele fosse tao caloroso depois de eu ter faltado a beça."
"Eh, me desculpe ter faltado tanto é que..." Eu comecei com o pedido de desculpas ensaiado
"Não eu já sei o que houve, sinto muito" ele apertou minhas mãos entre as suas
"Eu estou bem agora" menti "Ainda posso ficar com o emprego?"
"Mas é claro, você faz falta aqui menina, volte e coloque ordem nas coisas" ele abanou as mãos desesperado
"Obrigado" eu falei e voltei a descer as escadas parando no meio delas ao ouvir uma voz. Era Daniel
"Ei espere" ele desceu apressado
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...