"Bom dia" sussurrei em seu ouvido logo que amanheceu
Carlos se remexeu um pouco na cama e tirando o braço que amparava minha cabeça por baixo, ofereceu um dedo do meio, virando para o canto em seguida
"Você é um cretino preguiçoso" debochei enquanto abria as cortinas e catava algumas peças de roupa pelo chão
"Me deixa dormir Anne, mas que porra!" Carlos cobriu a cabeça com o edredom azul marinho resmungando com voz de sono
Bufei. Eu com certeza esperava algo mais romântico vindo dele depois de ter entregado o meu corpo, mas aquilo não parecia fazer muito sentido para um casal fora do padrão
"Você pode ir levantado dessa cama porque eu preciso voltar pra casa, você tem que avisar à minha tia que agora não sou mais uma donzela e que a minha honra foi manchada" me joguei sem jeito na cama o atingindo com o cotovelo
"Mas que porr..." o sorriso dele se abriu antes que o palavrão se completasse "você fica linda de cabelo bagunçado"
Sorri. Aquilo era o que ele devia ter dito há cinco minutos atrás.
"Obrigado... eu acho. Você é lindo de qualquer maneira" fiz um biquinho e me recostei nos travesseiros
"Quer tomar um banho antes de ir?" Ele perguntou se sentando e pegando uma mecha de cabelo, levando os fios ao nariz
"Você gosta mesmo do meu cabelo hein" observei com orgulho. Mesmo que não fosse meu por natureza, ele ainda era meu
"Lembram os cabelos da minha mãe" ele se aproximou e eu estreitei os olhos
"Não quero que fique comigo lembrando da sua mãe, são lembranças dolorosas..."
"Mas são lindas..." ele me olhou nos olhos "Vale a pena sofrer por memórias bonitas, todo mundo sofre" ele beijou minha testa sorrindo de leve
"Acho que vou aceitar o convite para o banho e ainda vou arrumar para você uma escova de dentes, você está com um bafo horrível" desconversei. O que começou como uma risada baixa, logo se transformou em riso solto e simples
Ele riu também e me fez cócegas para que o momento durasse mais. Para que numa fração de segundo o momento se eternizasse. As pessoas não ligam muito imediatamente para esses momentos por que elas acham que eles são eternos, eu sabia que não era. Poderia perde-lo a qualquer momento. Por isso guardei no fundo do meu coração, cada toque de seus dedos, cada risada dele em meu ouvido. Eu queria uma vida ao lado de Carlos e assim eu faria. Por que é isso o que acontece quando você se apaixona, cada segundo conta e é precioso... cada segundo é eterno... e inexplicávelmente efêmero.
Ele me deixou em casa aquele dia. Era feriado nacional e nenhuma empresa que seguisse as regras iria funcionar. Podíamos ter passado o dia todo na cama, brincando de casinha, mas ele preferiu me levar em casa, para que eu me explicasse à tia Deyse sozinha. Filho da puta!
Por mais que eu soubesse o quanto ela era liberal, não tinha certeza se iria reagir tão naturalmente ao saber onde eu tinha passado a noite
"Tia! Já cheguei!" Gritei do corredor dei meia volta e entrei na cozinha
"Não precisa gritar" ela respondeu de mal humor de frente para o fogão
"Hã, desculpa" sorri sem mostrar os dentes
"Nada disso mocinha! Quero saber de todos os detalhes da sua noite ontem" ela se virou e me olhou levantando uma sobrancelha
Eu quase entrei em colapso. Ela sabia do que tinha acontecido só de me olhar? Eu esperava que não fosse tão óbvio para as outras pessoas
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Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...