O novo ano chegou sem grandes mudanças (A não ser que tínhamos passado sozinhos em casa depois do incidente de Natal, o que nunca tinha acontecido). Eu continuava igual, apesar de nos últimos tempos ter reparado que tinha perdido alguns quilos devido a correria que tinha se tornado a minha vida por causa do meu trabalho. Mesmo que eu só trabalhasse durante meio período, era suficiente para me fazer queimar muitas calorias. Eu passava o dia todo andando de um lado para o outro entregando documentos importantes em outros setores da empresa o que consistia em subir e descer escadas. Também tinha me matriculado em um curso de inglês, por sempre ter sido apaixonada pela língua do tio Sam. Minha mãe pela milésima vez estava me arrumando problemas:
"Você vai desperdiçar o dinheiro em um curso de inglês?" Ela gritou se aproximando de mim me fazendo encolher
"Eu não acho um desperdício, é um investimento" minha voz tremia e eu me perguntei se conseguiria continuar firme
"Você é idiota?" Ela lançou sem piedade "Eu e seu pai estamos nos matando para poder manter essa casa e você me vem com essa de investimento?"
"Eu já conversei com o papai e ele disse que tudo bem" eu tentei me defender
Ela chamou meu pai que alguns minutos depois apareceu na porta com cara de sono. Ele geralmente dormia antes de enfrentar um dia de trabalho
"Você deixou essa pirralha entrar em algum curso?" Ela perguntou de forma ameaçadora torcendo para que resposta fosse não
"Algum problema? Os jovens de hoje precisam de conhecimento e ela já esta trabalhando, não vejo porque não"
"Mas nós precisamos do dinheiro" ela falou rispidamente
"Zara pode muito bem trabalhar também, afinal ela já tem idade suficiente" ele colocou a mão no queixo
Minha mãe suspirou pesado como se aquilo fosse um insulto
"Zara tem que focar nos estudos, não pode sair por aí trabalhando. Daremos um jeito" ela falou e se arrastou opressiva para a cozinha.
"Valeu mesmo!" Eu me virei para meu pai que ainda estava em pé me olhando
"Faça valer a pena garota" ele me deu um beijo no topo da cabeça e voltou para o quarto
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A escola ia recomeçar e eu me senti ansiosa. Na realidade eu queria reviver o clima de pessoas se divertindo e conversando enquanto fingiam que as fórmulas matemáticas não ajudariam em nada no futuro.
"Está animada?" Danubia falou baixo pela primeira vez em meu ouvido
"Com o que?" Eu tornei franzindo as sobrancelhas
"Volta às aulas!" Ela voltou ao seu tom normal, para a minha derrota
"Uhul!" Levantei os braços sem humor
"Nossa! Você parece ótima!" Ela riu e pegou uma caixa com documentos que estava atrás de mim
"Na verdade estou com um pouco de medo" confessei
Eu não tinha ideia do que realmente me esperava. Apesar dela já ter me explicado antes que as pessoas não eram tão más.
Ela própria não era má pessoa. Mantinha um bom humor invencível e me ajudava em muita coisa
"Não precisa se preocupar" ela colocou a mão em meu ombro como quase sempre fazia "As pessoas não são tão ruins quanto fazem pensar" ela descarregou a caixa em cima da mesa
"Você fala como se já tivesse estado lá" observei ajudando-a a tirar os papeis da caixa
"Na verdade, sim. Pela minha experiência de dois anos nesse turno, posso dizer que no máximo existem pessoas vadias, preguiçosas e que adoram fumar maconha ou matar aula para ir em alguma festinha. Mas afirmo solenemente" ela colocou a mão sobre o peito "que eles não se metem com você se você não se meter com eles"
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Doze Meses
Teen FictionO que acontece quando todos os princípios são abandonados? Quando tudo o que você acredita desmorona bem na sua frente? Os miolos de Anne estavam em conflito. Adolescente comum, ela se sente estranha com suas roupas e seu cabelo anelado. Acredita...