Doze Meses

Revelações no Paraíso

O sol de Cancun não é como o do Brasil. Bom, é a mesma bola de fogo em todos os lugares, mas pelo menos tem mais requinte. A Isla Cancun, que compreende quase todos os hotéis, praias e atividades turísticas, estava à minha frente, em seu formato de "sete" e seus vinte e três quilômetros de extensão. O clima quente e úmido me deixava um pouco desconsertada, mas não menos admirada pelo local.

Meu cabelo esvoaçava e minhas roupas arejadas se enchiam um pouco com a areia alva do chão. Meus olhos estavam cuidadosamente tampados da luz do sol com enormes óculos escuros que eu fizera questão de colocar, depois de dividir a garrafa de whisky com Carlos.

Caminhávamos a passos lentos em direção aos aposentos onde Luís e Danubia estavam. Acenando animadamente, Danubia veio correndo em nosso encalço.

"Como vão?" 

"Para de gritar caralho" repreendi em tom baixo levando a mão na cabeça que ainda não sarara por completo

"O que houve?" Luís perguntou aparentemente preocupado

"Não houve nada, só estamos de ressaca" Carlos respondeu por mim. Também usava óculos escuros e roupas leves e Jesus... estava extremamente gostoso

"Ora, eu não tenho nada a ver com isso, então, por favor não encham meu saco e não estraguem meus planos para o dia de hoje"

"E quais são seus planos querida?" perguntei. Ela dizia como se Cancun fosse sua segunda casa

"Não sei, mas de qualquer maneira, vocês não vão estragar!" diante dessa resposta eu acabei rindo dela

"Podemos ficar discutindo o dia todo, ou podemos sair da porta desse hotel, antes que achem que somos assaltantes" Luís deu seu parecer, incomodado

"Tem razão irmãozinho, vamos sair daqui" Carlos bateu de leve em seus ombros e se pôs a andar

Como se eles não fossem bandidos no Brasil...

Saímos rumo a algum lugar interessante para ver e na falta de entendimento por algumas coisas, Luís e Carlos decidiram procurar alguém como guia para conhecer um pouco mais do lugar enquanto eu e Danubia comprávamos umas bugigangas para levarmos de presente na volta pra casa.

Ela não parava de dizer o quanto estava feliz por estar ali e no quanto sua mãe e sua irmã ficariam felizes em receber alguns mimos.

Por menos contato que eu tivesse com minhas irmãs, resolvi levar um presentinho para ambas e também comprei algumas coisas para minha tia, que certamente iria me cobrar.

A única que iria ficar sem presente algum era a amargurada da Margot, a quem eu não queria nem ver pintada de ouro.

Enquanto eu e a faladeira de cabelos agora curtos batíamos papo sentadas à sombra de um quiosque, Carlos e Luís voltavam com boas notícias

"Já conversei com Juarez, ele vai nos levar para um passeio por alguns parques e algumas praias e logo ao pôr do sol, vamos ver El Mirador" Carlos voltou sorrindo, contente pelo que acabara de conseguir

Não era nem um pouco fácil arrumar um guia particular e confiável. Juarez no entanto, parecia uma pessoa de bem. Tinha mais ou menos um e setenta e suas rugas de idade começavam a aparecer nos cantos dos olhos. A linha fina abaixo do nariz, formava uma boca sem muitos atrativos. Os olhos porém, de um castanho profundo passavam riqueza em conhecimento e uma gratidão enorme pelo lugar onde morava.

"Espero que nesse tal de El Morador tenham pessoas bonitas, preciso transar" Danubia anunciou em alto e bom som me arrancando risos e dos outros também "todo mundo transa nessa porra, nem me venham com falso moralismo" ela apontou para nós