Maio - O quinto mês

235 38 17
                                    

Eu não ia à escola havia uma semana. Danubia e Sara sempre ligavam e mandavam mensagens me dando uma força e Carlos também estava me confortando e me tratando como vidro nos últimos tempos. Ele também ligava e mandava alguma mensagem e apesar de eu não atender, sentia que ele se importava comigo. Fazia eu me sentir querida. No último dia em que estive em sua companhia, tinha acordado em sua cama

"O que aconteceu" eu estava meio sonolenta. Olhei pela janela e vi que já era tarde "Meu Deus, preciso ir!"

"Calma aí gatinha!" Ele colocou a mão no meu ombro

"O que era aquilo?" Perguntei me sentando na cama e sorrindo um pouco. Meu corpo estava muito relaxado e eu me sentia levemente eufórica

"Aquilo era uma mistura de algumas coisas que você não tem que saber" ele se levantou e andou até a janela, tragando seu costumeiro cigarro

"Era um coquetel de drogas não é?" Perguntei com raiva

Ele apenas assentiu e eu tentei processar a informação com o maior cuidado.

"Você não podia ter feito isso!" Falei meio com raiva, mas não estava me sentindo nervosa na verdade

"Você está quebrada Anne! Precisava descansar e não ia fazer isso só se eu pedisse" ele me olhou e depois voltou a encarar a janela

Me levantei e fui até ele. Enlacei-o pela cintura

"Obrigado" sussurrei e senti-o se mover. De repente, estava me encarando "Mas não torne a fazer isso!"

"Você é uma pessoa boa Anne, não merece sofrer." Ele disse jogando o resto do cigarro pela janela e se aproximando dos meus lábios. O cheiro forte da maconha me fez tossir um pouco

"Desculpe" eu coloquei a mão na boca e ele riu um pouco

"Não por isso. Vamos, eu deixo você em casa" ele me deu um beijo no topo da cabeça e eu o segui. Pela primeira vez, minha mãe não se deu conta de que eu tinha chegado tarde...

Eu também não quis ir ao trabalho. Fiquei dentro do meu quarto com a minha camisa preta, que antes tinha sido do papai. Mesmo com toda a insistência da minha mãe sobre o dinheiro que eu ia perder se não trabalhasse, eu não me importei. Meu pai tinha mentido para mim e eu não tinha nem esclarecido as coisas com ele. Talvez ele estivesse precisando de ajuda e eu não tinha conseguido ver. Talvez ele estivesse com mais problemas do que deixava aparentar. Mas a família vinha em primeiro lugar para ele. E enquanto priorizava os membros de dentro de casa, ele morria um pouco mais. Eu amava meu pai. Mas ele tinha me deixado. Eu estava com um buraco que julguei ser visível para muitas pessoas. Eu estava quebrada. Eu não tinha podido fazer nada pelo homem que tinha me amado e me criado da melhor forma que conseguiu. Estava um lixo. Alguém sempre deixava um prato de comida ou uma xícara de café em cima da minha cama e houve um dia em que Danubia tinha aparecido para ver o que tinha se passado. Eu não atendi. Não queria que ao abrir a boca, torrentes saíssem pelos meus olhos. Acabada. Era o que eu estava. Viva sua vida, ele dissera; nunca deixe de ser feliz! Foi o ultimo sorriso dele.

A dor era grande demais. Horrenda demais. Meu peito ficou apertado por muito tempo e eu me senti aleijada durante algumas semanas antes de aceitar falar com alguém

"Oi" tia Deyse entrou no quarto escuro. Minha mãe tinha optado por mudar Zara e Elizabeth de lugar. No minimo ela queria que eu sofresse sozinha.

"Oi" minha voz era um murmurio

"Quero que saia desse quarto" ela ordenou levemente

"Sempre mandando na vida alheia" eu observei olhando fixamente para frente. Não havia humor na minha voz

Doze MesesOnde histórias criam vida. Descubra agora