19 | Família.

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| E m m a |

 
Suspiro, tentando avaliar as fichas dessa semana. Hoje é domingo e eu deveria estar descansando, mas preciso manter minha mente ocupada. Sugeri levar Anna para passear, mas ela está dormindo e eu não tenho o que fazer, a não ser tentar esquecer tudo o que está havendo neste momento.

Minha mãe foi ao mercado e eu disse que ficaria bem sozinha, mas eu não estou nem um pouco bem sozinha. Eu não consigo parar de pensar no que está havendo, no que ele fez. Eu realmente pensei que as coisas entre mim e Jack fossem verdadeiras, mas eu fui uma boba em pensar isso. Ele provavelmente se cansou de olhar para mim todos os dias, de tocar meu corpo, de beijar meus lábios. Ele se cansou de todas essas coisas e o que mais me machuca é que eu sei que nunca irei me cansar dele; eu nunca irei me cansar de olhá-lo, de tocar cada pedacinho do rosto dele, de apreciar aqueles profundos olhos verdes, de arrumar seu cabelo bagunçado pela manhã. Eu nunca irei me cansar de beijá-lo como se eu dependesse daquilo e nunca irei conseguir parar de amá-lo tão intensamente e inteiramente. E é isso o que mais dói: Ele se cansou de mim enquanto eu nunca irei me cansar dele. Enquanto eu ainda serei eternamente louca por tudo nele. Mesmo tendo visto o pior dele, ainda o amo, porque até o pior dele é bonito. Mas ele? Acho que não mais.
 
Meu advogado disse que iria enviar o divórcio ao Jack assim que ele voltasse de Chicago. Eu não me importo, só não quero vê-lo mais. Eu sei que se ele abrir a boca e disser tudo o que ele costuma dizer sempre, eu irei perdoá-lo e não é isso que eu quero. Não posso ser a esposa traída, que fica em casa cuidando dos filhos, enquanto ele procura alguém melhor para foder. Não vai ser assim. Eu não vou ser assim.
 
— Mamãe? — A voz doce da minha menina chama meu nome. — Tá chorando de novo? — Ela inclina a cabeça para o lado.
 
Eu não notei que estava chorando. Que merda, Emma.
 
— Não, meu amor. Quando eu fico com sono, choro um poquino. São lágrimas de reflexo, não de tristeza. — Sorrio, retirando os papéis que estavam em meu colo e limpando meu rosto. — Vem aqui. — Inclino-me para pegar Anna e a sentar em meu colo.
 
— Vamos pra casa hoje? — Ela se senta em minha pernas esticadas no sofá.
 
— Você gostaria de se mudar? —  Questiono calmamente, respirando fundo.
 
— Para uma casa com piscina? — Seu sorriso se alarga.
 
— Talvez para um apartamento, depois podemos comprar uma casa com piscina. — Ponho seu cabelo atrás orelha.
 
— Você não gosta da nossa casa? Cresceu lá. Também quero crescer lá. — Ela parece não entender.
 
— Gosto, mas não seria mais legal?
 
— Ah, mamãe, eu gosto da nossa casa. Tem espaço pra toooodo mundo. — Ela solta uma gargalhada fofa. — Mas se a gente deixar o seu bebê lá e ir embora, eu aceito. — Ela diz inocentemente e eu rio, negando com a cabeça.
 
— Mas você se importaria se fôssemos morar em outro lugar?
 
— Se você, papai, Hate, Love e eu estivermos lá, tudo bem. Gosto quando todo mundo tá junto. — Ela sorri e brinca com meus dedos.
 
— E se só eu, você e Love estivermos lá? — Suspiro com um pequeno sorriso, aparentando ser convincente.
 
— Por que o papai e o Hate não vão? —  Ela franze o cenho.
 
— Talvez o papai e a mamãe não ficarão mais juntos como namorados, mas como amigos e amigos não moram juntos. — Suspiro, mexendo na sua franjinha.
 
— Mas por quê? Vocês não se amam? — Seus olhos lacrimejam.
 
— Sim, eu amo o papai, mas, de vez enquando, as coisas não dão certo entre os adultos. — Tento explicar calmamente.
 
— Mas não pode. — Anna abaixa a cabeça. — Mamãe e papai tem que ficar juntos, porque se amam. — Ela cruza os braços.
 
— Sim, mas...
 
— Não, mamãe. Não pode dizer 'mas'. Você disse que ama o papai e tem que ficar com o papai. Papai disse que ama você e tem que ficar com você. Vocês tem que ficar juntos pra sempre. Não pode separar. Pronto, o papai vai com a gente. E o Hate é meu melhor amigo e vai também. — Ela abre um sorrisinho.
 
— Meu amor, não é assim, entende? —  Acaricio seu rosto.
 
— Claro que é. Você fica triste quando não está com o papai. Olha, você está triste e o papai não está aqui. Quando o papai está aqui, você fica feliz. — Ela sorri. — Você tem que ficar feliz, mamãe. Você é muito mais bonita quando está feliz.
 
— Estou feliz, meu amor. — Beijo sua testa. — Porque você está comigo.
 
— Podemos brincar, mamãe? Não quero mais falar disso. O papai e o Hate vão com a gente.
 
— Do que quer brincar? — Arqueio as sobrancelhas e engulo o choro.
 
— Hum... — Ela pensa. — Podemos desenhar? — Ela sorri.
 
— Claro, eu amo desenhar! — Beijo sua testa.
 
Amo Anna, mas não quero magoá-la. Essa coisa toda não deveria atingí-la. Ela não deveria ter que ser afetada por essas coisas quando não é culpada por nada e nem faz noção. Ela é só uma criança e quer os pais juntos. Não a culpo, é claro, mas as coisas não são assim. Eu quero tanto que ela seja feliz e tenha tudo o que quer, mas eu simplesmente não posso prosseguir com isso. E mais uma vez, Jack está sendo egoista. Ele me trai e agora vamos ter que nos separar e a Anna será obrigada a ver isso. Babaca.
 

(...)

 
Anna pega o giz de cera azul calmamente e pinta sobre a folha de papel no chão. Ela está deitada de bruços com as perninhas no ar. Eu estou na mesma posição, mas deitada de frente para ela. Eu desenhei o rostinho dela, da mesma forma a qual ela está agora.
 
— Terminei. — Digo, pegando meu desenho e a entregando.
 
— Você desenha muito bem! — Ela sorri e se senta. — Mamãe, parece muito comigo!
 
— É você, meu amor. — Toco seu nariz e seu rosto se contrai.
 
— O meu não está tão bonito quanto o seu, mamãe. Olha. — Ela me entrega a folha.
 
No desenho, há Anna, com um vestidinho verde, eu ao lado dela e Jack do outro lado dela. Hate e Love estão espalhados no ar no desenho. É um pouco bagunçando e típico de uma criança de quatro anos, então sorrio por ter uma pequena artista.
 
— Está bem mais bonito que o meu. —  Sorrio. — Está lindo, amor.
 
— É a nossa família. — Ela abre um sorriso. — O Hate e o Love são da nossa família também.
 
— Sim, eles são. — Sorrio.
 
— E a mamãe fica com o papai, porque a família tem que ficar junta. Pra sempre. — Ela sorri.
 
Suspiro. Não sei o que fazer.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora