31 | Brinquedos.

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UM ANO DEPOIS.

 
Meu pequeno Benjamin está sentado sobre o tapete brincando de boneca e com algumas panelinhas que ele ganhou da Lia, porque foi o que o pediu de natal. Eu estou sentada no sofá trabalhando. Jack está no trabalho e Anna na escola, então só Ben e eu estamos em casa.
 
— Mamãe. — Ele chama meu nome e eu olho para o meu lindo garotinho.
 
— Sim, querido? — Indago calmamente.
 
— Eu tenho que brincar com carrinhos? — Ele franze o cenho em dúvida.
 
— Não, meu amor? Por quê? — Rio e fecho meu notebook, o pondo ao meu lado.
 
— O John brinca com carrinhos. — Ele pisca os olhos freneticamente e me sento em sua frente no chão ao se referir ao primo, filho do Tyler.
 
— Mas você não é o John. Se o John gosta de brincar com carrinhos, ele pode brincar com carrinhos, mas se você quer brincar com bonecas, você pode brincar com bonecas. — Dou os ombros.
 
— A Louise disse que eu não posso brincar com bonecas porque é brinquedo de menina. — Ele diz inocentemente.
 
— Ah, meu amor, brinquedo de menina é o brinquedo que a menina gosta de brincar, independente de qual for. Por exemplo, a Anna gosta de dinossauros e carrinhos, mas também gosta de bonecas. Carrinhos e dinossauros não são brinquedos de menino. — Eu rio e acaricio seu rostinho pálido. Felizmente, ele parece mais comigo... em tudo. — Brinquedos são só brinquedos. Você pode brincar com qual quiser. — Arrumo seu cabelo castanho claro ou louro escuro.
 
— Mesmo? — Ele inclina a cabeça para o lado.
 
— Sim, querido. — Solto uma risada.
 
— Então a Anna não vai ser menino se brincar com carrinhos?
 
— Não, porque brinquedos são brinquedos.
 
— Posso brincar de boneca e de carrinho? Você não vai brigar comigo? — Ele é tão doce.
 
— Claro que não, meu amor. Eu te amo. — Beijo sua testa.
 
— O papai brincava de carrinho quando era pequenininho?
 
Eu não sei, querido. O ponto é que não faz diferença. — Sorrio para meu menino.
 
— Então tá bom.
 
— Bem, você pode brincar com o que quiser. — Afirmo e toco seu nariz. Seu rosto se contrai e eu rio.
 
— Você brinca comigo quando terminar de trabalhar, mamãe? — Ele sorri. Falta um dente de baixo e é tão fofo...
 
— Já acabei. Vamos brincar agora! —  Exclamo e ele me entrega uma boneca. — Qual a história?

— Ela é a Lucy. — Ele aponta. — O papai quem escolheu o nome quando me deu. — Ele sorri. — E essa é a Emma, porque é a boneca que eu mais gosto. — Ele diz ingenuamente. Sorrio perante o elogio.
  
 

(...)
 


  
— Como foi seu dia? — Jack diz assim que entro na cozinha.

Ele está sem camisa, cozinhando. Ben está vendo TV e Anna fazendo o dever de casa agora que eu a ensinei como se faz.
 
— Sabe, o Ben me perguntou uma coisa estranha. — Digo e beijo as costas de Jack antes de me sentar sobre o balcão ao lado do fogão.
 
— O que foi? Como ele nasceu? — Jack diz com um sorriso e eu reviro os olhos.
 
— É trivial que foi de uma melancia.
 
— O que ele perguntou? Crianças perguntam coisas demais.
 
— Eu sei, mas a pergunta de hoje foi um pouco estranha mesmo. — Dou os ombros. Jack para em minha frente e põe a mão em minha cintura.
 
— O que foi, amor?
 
— Ele meio que perguntou se ele podia brincar de boneca porque disseram que é brinquedo de menina. — Suspiro e pouso minhas mãos em seu ombro.
 
— Não estou surpreso por dizerem isso a ele. — Ele suspira. — Nossos filhos podem brincar com o que quiser e não é porque o Ben é um garoto que ele não pode brincar de boneca. Eu brincava de boneca. — Ele põe meu cabelo atrás da orelha.
 
— Eu sei, foi o que eu disse, mas ele perguntou se seria menina por brincar de boneca. — Franzo o cenho.
 
— Oh, entendi. — Ele balança a cabeça. — Ah, Emma, se for, não faz diferença. O que isso tem a ver? Eu realmente gostava das minhas bonecas.
 
— Sério?

— Sim, mas eu meio que não contava pra ninguém por vergonha. Eu tinha vergonha deles dizerem que eu era gay, mas isso é tão idiota. — Ele revira os olhos. — Minha mãe e Julie brincavam comigo enquanto eu crescia, mas quando meu pai descobriu, proibiu dizendo que 'não queria um gay' dentro de casa. — Ele suspira. — Mas não acho que brincar de boneca vá te fazer virar gay. É um conceito bem estranho. — Ele ri. — Se for, não vai fazer diferença, é claro. Brincar com uma coisa não fará diferença nenhuma em quem é. Ele é só uma criança.
 
— E eu posso dizer o mesmo, mas sabe, se uma menina de três anos diz isso, imagine quando eles forem mais velhos
 
— Não se preocupe. Ben não tem que ter vergonha por gostar de brincar de boneca. É querido a forma como ele cuida dos bebês e trata bem as bonecas. Você vê que ele trata aquelas bonecas caras e grandes como se fossem suas filhas.
 
— Ele será um bom pai. — Sorrio.
 
— E um bom cozinheiro! Ele fez uma mistura estranha e invisível que eu experimentei e é simplesmente deliciosa! — Ele exclama e eu rio da sua expressão. — Vai que ele se torna um chefe de cozinha!
 
— Ele construiu uma montanha de lego maior que ele mesmo e ficou muito legal. Eu não tenho essa paciência toda.— Rio. — E se ele for um engenheiro?
 
— Bem, a Anna nós temos dúvida. Ela vai ser um dinossauro que acaba com cidades? — Ambos rimos.
 
— Ela pode ser médica! Ela cuida das bonecas do Ben e... bem, e dos carrinhos dele. — Digo, ainda rindo.
 
— Do que você brincava quando era pequena? — Ele pergunta, apertando meu quadril.
 
— Eu brincava com foguetes. Eu queria ser astronauta, mas depois eu joguei um jogo que o astronauta morria e desisti. —  Rio.
 
— Então não temos nenhum problema aqui. Ben pode brincar com o que ele quiser e Anna também. Se eles não ligam e nós não ligamos, qual o problema?
 
— Nenhum!
 
Beijo Jack calmamente e ele se afasta rindo.
 
— Tenho que cozinhar, sra. James. Está atrapalhando meu serviço. — Ele brinca e eu desço do balcão.
 
— Falando nisso, eu manchei quase todas as suas blusas do trabalho porque uma meia vermelha do Ben passou por mim na hora de lavar roupa branca.
 
— Conte-me uma novidade. — Jack revira os olhos.
 
Sorrio para ele. O amo.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora