20 | Divorcio.

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| J a c k |

 
A porra do vôo de ontem foi cancelado por "condições duvidosas de tempo". Mas que caralho é isso? Parece que o mundo está fazendo um complô contra mim para que eu simplesmente não vá para casa e salve meu casamento.
Eu tentei ligar para Emma quase mil vezes, no sentido mais literal possível. Sua caixa de mensagens tem milhares da mesma e eu enviei mil mensagens para ela. Sim, literalmente mil mensagens. É impossível o fato de eu não conseguir falar com ela.

Eu consegui falar com Amanda. Ótimo, Jack. O engraçado é que Amanda sempre foi a queridinha do meu pai desde sempre. O pai de Amanda é amigo do meu pai desde bem antes dessa.... argh... dessa mulher vir ao mundo, e meu pai simplesmente se encantou pela Amanda assim como é encantado pela Angelina. Para eu conseguir descobrir que foi ele que a mandou e ela que mandou Victoria, não me custou muito. Vi registros das merdas das câmeras do hotel e tudo fazia muito sentido, ainda mais com tudo o que eu ouvi. Se eu fiquei puto? Eu fiquei irado! Ele realmente ainda está tentando destruir a porra da minha vida? As coisas não são assim. Ele não pode reaparecer subitamente e tentar sabotar meu casamento só porque ele não aprova e isso não o faz feliz. Eu amo meu pai, mesmo depois de tudo o que ele fez, mas eu não posso mais viver em função dele. Eu não dependo dele para nada; eu não o devo nada. Durante toda a minha vida, fui carente de atenção do meu pai, jogado de um lado para outro do país, sem mãe, sendo cuidado apenas pela madrasta e vendo a filha da mesma receber mais atenção que eu. Ele me fodeu e não pode esperar que eu o perdoe, mas eu perdoei. Ele poderia vir não visitar regularmente; Ele podia ter vindo ao nosso casamento, ao nascimento da Anna, às festas de aniversário. Ele podia estar aqui no natal, ano novo, ação de graças, Páscoa, dia dos pais, das mães... ele podia ter estado em todas essas datas, mas ele não quis. O que ele quer é destruir a minha vida, mas eu não o irei deixar fazer isso, porque aquela mulher e aquela garotinha são tudo o que mais importa para mim. Eu não as irei deixar ir tão fácil por conta de uma armação de merda do meu pai. Não mais. As coisas não vão correr assim. Eu o perdoei por tudo o que ele fez, mas eu não consigo perdoá-lo por isso. Eu entendo quando Emma diz que ele pode viver conosco como uma família, mas ela nunca o irá perdoar. Agora eu a entendo.

É quase noite quando finalmente chego à cidade. Até chegar em casa, que é um pouco longe do aeroporto, mais meia hora, mais ou menos. Também me lembrei de comprar o dinossauro da Anna, que tinha em uma loja no aeroporto.
Quando entro no meu carro estacionado no aeroporto, disco o familiar número em meu celular. Só sou atendido na terceira chamada.
 
— Por que você quer me foder? — Grito enquanto dirijo.
 
— Oi, filho. — A voz dele é carregada de presunção.
 
— Não tem essa, Tom. Por que você não se conforma com o fato de eu estar feliz? — Berro, batendo a mão contra o volante. — Você tem algum problema?

— Não sei do que está falando. — Ele solta uma gargalhada.
 
— Vai se foder.
 
— Tenha mais respeito. Sei que me odeia, mas ainda sou seu pai. Você gostaria da sua filha te xingando, Jack? — Ele ri novamente. Foda-se.
 
— Eu, diferente de você, nunca faria nada para estragar a vida dela, pai, porque eu a amo. Ela é a coisa mais importante que eu tenho e eu nunca faria o que você vive constantemente fazendo comigo. — Berro, irado.
 
— Eu também te amo. Faço o que faço porque quero o seu bem acima de tudo. — Ele diz sem se importar. — Essa garota não é boa para você.
 
— E por que diabos você quem tem que decidir o que é bom ou ruim para mim? Eu decido isso! — Prossigo gritando.
 
— Você é apenas uma criança para saber o que quer.
 
— Não, eu não sou uma criança. Eu me formei no colégio, formei-me na faculdade, tive uma filha linda, casei-me com a mulher da minha vida, sou muito bem sucedido, ganho o meu próprio dinheiro, tenho tempo de sobra para passar com a minha família, amo minha filha e minha esposa e eu nunca poderia estar tão feliz. Todas essas coisas são dignas de um homem. Você é a criança. — Digo entredentes. — Você nunca ligou para mim, pai. Por que quer fingir que liga agora? Você tem todo o direito de não gostar da Emma, mas eu tenho todo o direito de gostar. Você não tem o direito de interferir na minha vida assim. — Rio. — Você nunca esteve lá e nunca estará, então não tem direito de querer opinar sobre o que é bom ou ruim para mim, pai. O seu conceito de "bom" para mim, me fodeu. Agora, deixe alguém que sabe o que realmente é bom para mim, consertar.
 
— Você é pai, meu filho. Você não sabe o que é bom para a sua filha? — Ele ri.
 
— Sim, pai. Eu sei o que é bom pra ela porque sou um ser humano racional e ela só tem quatro anos de idade. Ela ainda não sabe direito o que é bom para ela, visto que ainda não é um ser humano formado. Eu tenho 25 anos. Sei muito bem o que é bom para mim. E eu sei qua Anna saberá o que é bom para ela quando tiver 25 anos. — Reviro os olhos.
 
— Não importa a idade, filho.
 
— Olha, eu quero que você diga à Emma o que vez. Ela quer se divorciar pela merda da sua armação idiota. —  Suspiro. — Você r ex-presidente dos Estados Unidos da America, Tom. Não tem mais o que fazer?
 
— Ótimo, deu certo.
 
— Você é um completo idiota.
 
— Cuidado, Jack. — Ele avisa.
 
— Com o quê? Vai mandar atirar em mim de novo? Não fode. Até nunca mais, Tom. — Desligo o celular e o jogo no banco do passageiro. Merda.
 
Paro o carro na entrada de casa e não ligo muito para pegar minhas malas, só pego a sacola amarela no banco do passageiro.
Todas as luzes estão apagadas, inclusive as da entrada. Estranhamente, ainda não são nem 21h da noite, quando eu costumo apagá-las. Ok, vamos lá. Talvez ela esteja dormindo, mesmo que Anna não consiga dormir antes das 23:00.
Abro a porta com a chave e respiro fundo ao entrar. Ligo as luzes da sala, mas ela não está lá. Vou até a cozinha e nada, assim como na sala de jantar. Subo as escadas e paro no quarto de Anna. Ela não está lá, assim como vários brinquedos seus e... suas roupas. Fecho os olhos com força e caminho até o nosso quarto. O lençol da cama está desfeito e não há nenhuma roupa da Emma no armário. Merda!
 
— Hate? Love? — Grito. Não tem latido e nem um furão se escondendo entre minhas pernas.
 
Disco o número da Becky tentando ficar um pouco calmo, ao menos.
 
— Alô? — A voz dela diz.
 
— Becky? Por favor, me escuta. — Tento dizer.
 
— Eu não quero falar com você, seu bosta. — Ela diz, brava.
 
— Espera. Me ouve, por favor. — Eu digo. — Eu estou desnorteado, porque eu não sei onde Emma está. — Respiro fundo. — Eu sei que parece que eu fiz algo que eu não deveria, mas não foi assim. Eu nunca trairia a Emma. Ela é tudo pra mim. — Fico ofegante. Estou sem ar.
 
— Não me deve explicações, deve à ela. — Becky diz friamente.
 
— Só me diz se ela está com você. Por favor, me diz que ela está bem. — Engulo o choro.
 
— Como você acha que ela está? Sim, ela está viva, respirando, mas ela está arrasada. Como você acha que ela está se sentindo, seu idiota? — Ela grita. — Eu não entendo as pessoas que se casam e depois traem o parceiro. Se você quer outra pessoa, não case ou se separe dela. Isso é falta de caráter. — Ela bufa.
 
— Eu não traí a Emma, Rebecca.
 
— Tchau, Jack.
 
— Onde ela está? Becky, por favor. Eu preciso salvar meu casamento. Me diz se ela está com você. Por favor, foi uma armação.
 
— Eu não sei de nada. — Ela suspira. — Milla. — É tudo o que ela diz. — Olha, eu estou confiando em você, mas se você estiver mentindo ou machucá-la de novo, eu arranco suas bolas, seu idiota. — É tudo o que ela diz antes de desligar na minha cara.
 
Não hesito em voltar para o carro e seguir para a casa da Milla o mais rápido possível. Bato na porta e eu espero que Emma atenda. Eu realmente espero. Mas quem atende é a Milla com Anna no colo.
Anna tem seu rosto sujo de chocolate e o cabelo preso em um rabo de cavalo.
 
— Papai! — Seu rosto se ilumina e ela estica os braços para que eu a pegue no colo. O faço.
 
— Oi, meu amor. — Sorrio ao vê-la e todo o desespero e angústia se dissolvem.
 
— Hoje já é terça? — Ela franze o cenho.
 
— Hoje é segunda, querida. Papai chegou mais cedo porque estava com saudades. — Sorrio e beijo sua testa.
 
— Você trouxe meu dinossauro? — Ela sorri com seus dentes em falta.
 
— Sim, está aqui. — A ponho no chão e entrego a sacola com um dinossaueo verde quase do tamanho dela.
 
De repente Hate corre até mim e pula. Quase caio, é óbvio.
 
— Oi, amigão. — Acaricio seu pêlo
 
— Anna, você pode me deixar falar com a vovó? É rapidinho. — Abaixo para ficar do seu tamanho, mas ainda fico bem maior que ela.
 
— Você vai brincar comigo? — Ela sorri.
 
— Vou, sim. Eu já vou. — Beijo sua testa. — Eu te amo, querida. — Suspiro.
 
— Também, papai. — Ela sorri, beija minha bochecha sobre a barba rala e corre para dentro.
 
— Eu preciso falar com a Emma. — Digo para Milla assim que me levanto.
 
— Você não vai. — Ela dá os ombros.
 
— Por favor, Milla. Eu não fiz isso. Eu não a traí. — Afirmo, desesperado.
 
— Você não vai entrar. Volte para casa, respire fundo, repense em seus atos e volte quando ela estiver mais calmo.
 
— Ela está bem? Só me diga isso. Me diz que ela está bem. — Eu imploro.
 
— Ela está bem. — Ela diz simplesmente.
 
— Ela não está bem. — Afirmo.
 
— Se você sabe, por que perguntou? — Ela revira os olhos. — Se você quer ouvir que ela está bem, você pode ouvir, mas você sabe que ela não está.—  Ela dá os ombros. — Depois da morte da Anna, nunca a vi tão arrasada. — Ela suspira. — Eu estou decepcionada. — Ela abaixa a cabeça. — Eu realmente esperava mais de você, Jack. Você ignorou sua família por trabalho, viajou e acabou, aparentemente, teve relações sexuais com outra mulher, quando você é casado. Eu sempre confiei em você, acreditei que você fosse melhor que isso e eu sei que você é. Por que diabos está agindo assim? Você ainda não entendeu que a familia é tudo o que temos? Acha que sua filha merece ser criada por pais separados? Acha que a Emma merece isso? Você realmente acha? — Ela balança a cabeça com um olhar de desaprovação.
 
— Eu não transei com aquela mulher, Milla. Eu amo a Emma. Eu não quero me separar. Eu não quero ninguém além dela. Você sabe o que eu sinto por essa mulher. Você sabe que ela salvou minha vida; eu serei eternamente grato a ela. A única forma de agradecer é a dando todo o meu amor. Eu sei que eu errei quanto ao trabalho e eu estou arrependido, mas eu juro que foi armação do meu pai. Não foi isso. —  Respiro fundo, tentando me acalmar e não chorar como uma criança. — Eu tentei ajudá-la e ela estava bêbada. Ela é amiga da Amanda. Quem mandou foi o meu pai. Eu juro, eu juro.
 
— Ok, volte depois. Não vai vê-la agora. — Ela suspira. — Filho, eu acredito em você, mas eu realmente... realmente pensei que seria diferente entre vocês. Ela não quer te ver e eu irei respeitar a decisão dela, ok? Sinto muito. — Ela beija minha testa e fecha a porta.
 

(...)

 
Eu estou bêbado. Eu não sei quantas garrafas de vinho e outras bebidas que não me lembro bem, eu bebi. Eu sei que estou no jardim, sentado na grama, bebendo e chorando feito a porra de uma criança por só fazer merda e por só fazerem merda comigo.
Deve ser umas oito da manhã. Passei a madrugada da exata forma como estou agora: bêbado, chorando, pensando no quão filho da puta eu sou e querendo me matar por ser tão babaca assim.
Um soar da campainha toca, mas eu ignoro. Eu realmente não quero ver ninguém, ainda mais nesse estado, quando não estou vendo as coisas direito e estou querendo vomitar. Além de ter fumado um maço de cigarros por inteiro, é claro.
 
Mas pode ser a Emma, meu subsconciente bêbado aponta.
 
Apago o cigarro entre meus dedos na grama e consigo ir até a porta escorando-me nas paredes
Abro a porta e, infelizmente, não é a Emma, só um cara engravatado de merda.
 
— O que você quer? — Minha voz saiu estranha demais.
 
— Sr. Jack Campbell Hayes? — O homem diz.
 
— Eu mesmo. — Tusso. — Olha, volte outro dia. — Bufo, tentando fechar a porta.
 
— O senhor está bêbado? — Ele arqueia as sobrancelhas. Ele é estranho pra porra.
 
— Está tão na cara? — Ironizo e reviro os olhos.
 
— Sou o advogado da sra. Emma James. — Ele diz e arruma sua gravata. — Este é um documento oficial requerido pela sra. James, o qual o casamento entre o senhor e a sra. James almeja ser revogado pela mesma. Quando o senhor estiver em pleno estado de juízo, deve assinar estes papéis e contatar seu advogado. Sra. James anseia o documento assinado até o fim desta semana ou haverão complicações. — Ele diz.
 
— Não entendi nada do que você disse depois de "divórcio". — Bufo. — Pode ser mais claro e objetivo?
 
— Ela quer se separar de você até o fim da semana porque você é um babaca e ela acha que merece algo melhor que um cara que trai a esposa. — Ele dá os ombros. — Tome. — Ele entrega os papéis. — Leia bem quando estiver sóbrio e assine depois. Você tem até sábado para assinar ou salvar seu casamento. — Ele diz e se vira, andando de volta a merda do seu carro preto.
 
Respiro fundo, batendo a porta.
Eu não irei ler isso e nem assinar isso, então eu simplesmente rasgo essa merda de papel e deixo jogado no chão da cozinha.
E

ssa casa está tão vazia sem a Anna gritando, correndo atrás do Hate e carregando Love de um lado para o outro, com o rosto sujo de chocolate ou suco de uva, que é o favorito dela. Sem Emma esbarrando em tudo pela casa, queimando comida, misturando roupa colorida com branca e rindo das coisas mais sem sentido. Eu sinto falta delas. Eu sinto tanta falta, que dói. Dói irracionalmente, mas não vai ficar assim.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora