21 | Perdão.

762 90 20
                                    

| E m m a |


Caio de joelhos no chão da cozinha desta maldita casa. Minha cabeça está doendo, minha mente girando, meus olhos embaçados pelas lágrimas que deixam minha visão turva.

Atiro a merda da garrafa de vinho contra a parede recém pintada da cozinha da minha mãe. O amarelo se curva à cor escura que a tinge e a irá manchar. Tudo, cada pequena parte do meu corpo frágil e magro, dói. Cada célula, cada átomo, cada maldito verme... tudo dentro e fora de mim dói e me leva ao chão. Meu coração foi desfeito em pedaços tão, mas tão pequenos, que se é impossível de apenas imaginar. Absolutamente tudo em mim dói.

Meu celular vibra sobre o balcão. Já é a vigésima que que ele toca em dez minutos. Bem, talvez seja mais que isso, mas eu já parei de contar desde a vigésima.
Meu advogado disse que entregou os papéis do divórcio para o Jack e ele estava bêbado, com a cara de quem chorou por um longo tempo, mas eu não ligo. Eu não posso me importar.
Anna está com Becky e Luke. Eles pediram para passar a tarde com ela para que eu pudesse ter algum tipo de privacidade e pudesse desmoronar sem ter uma garotinha me vendo dessa forma. Eu nunca suportaria ver Diana assim, independente da minha idade... talvez isso ficasse para sempre na minha mente, e eu não quero isso para Anna. Não quero nada de ruim para a Anna.

- Olá. - Uma simples e doce voz é ouvida atrás de mim. Não quero me virar. Não quero ver quem é. Seja quem for, não quero que me veja assim.

- Vá embora. - Minha voz bêbada e rouca grita e mexo a mão para trás.

- Está negando sua avó de ver sua pequena neta? - Lilian diz com um sorriso aberto em seu rosto.

- Lilian, eu não estou em condições de conversar com alguém. Por favor, me deixe em paz. - Respiro fundo, limpando meu rosto.

- E é exatamente por isso que eu estou aqui, Emma. - Ela diz. Sei que está sorrindo.

Sinto suas mãos macias e magras em minha pele, puxando-me para cima. Meu corpo não suporta ficar de pé, então escorrego, mas ela ainda me ajuda e me senta em um dos bancos do balcão.

- Uma pessoa bêbada não pode conversar. - Escondo meu rosto em minhas mãos e minha voz sai abafada.

- Não está tão bêbada assim. Está mais consciente que muitas pessoas sóbrias. A dor não absorve o álcool. Experiência própria. - Ela sorri e retira minhas mãos do rosto, limpando minhas lágrimas.

- Eu não quero conversar, vó. Eu quero ficar sozinha. - Respiro fundo.

- Que tal um café? - Ela sorri, ignorando por completo, minhas palavras.

(...)


- Uma vez, - Ela começa.- Um garoto apareceu a minha porta, totalmente aflito atrás de uma jovem garota triste e despedaçada. - Ela sorri assim que me entrega a xícara.

- Não quero ouvir sobre isso. - Nego, bebendo um pouco do café.


- Mas vai. - Ela pisca. - Enfim, Emma. - Ela revira os olhos e puxa uma cadeira para ficar à minha frente. - Eu não sabia aonde essa menina estava, mas ele também não. Éramos dois perdidos, porém, ele estava mais. Ele estava perdido nela e nos sentimentos que o rondavam em questão a essa garotinha em destroços que viva em meio ao caos completo e constante. Pois então, o menino me contou o que ocorrera. Ele já a havia beijado duas vezes quando estavam bêbados. Talvez mais, mas não lembrava bem disso. Ele disse que não sentiu muita coisa na primeira vez. Era só um beijo. Na segunda vez, havia algo tão diferente... ela estava o beijando para ajudá-lo a esquecer duras palavras. Contudo houve uma terceira vez, na noite anterior a que ele me contava. Ela descobriu que a mãe havia morrido. Ela estava partida e tudo o que o garoto queria, era mudar isso. Ele queria pegá-la, envovê-la e apagar sua memória. Ele acabou sendo rude e dizendo mais do que deria, mas não queria. Eu sei que não queria. E, no fundo, ela também sabia. Enfim... quando ele a beijou pela primeira, quando ambos estavam em uma chuva quase tão intensa quando o beijo e os sentimentos reprimidos, ele sentiu tudo. Ele queria tanto amá-la e cuidar da garota para o resto da vida dela, que se tornava doloroso. Ele sentia-se tão diferente e bem quando perto dela, e aquilo era tão especial... eu não sei, só notei que ele a amava. Ele não sabia disso. Todavia ele notou o que sentia e tudo o que ele sentia era maior que as palavras que existiam em todo o dicionário ou em qualquer língua. Era indescritível. Ele disse isso. E eu logo pensei: Se existe amor verdadeiro, é isso. Mas, posso ser sincera? O amor verdadeiro existe. Eu notei isso quando ambos estavam no dançando juntos em sua festa de casamento com a filha de quase um ano no colo. Eu nunca vi algo tão bonito, puro e verdadeiro quanto aquilo. Uma criança nunca será tão amada quando a filha daqueles dois. Uma mulher nunca será tão amada quanto a esposa. Um homem nunca será tão amado quando o marido. Uma família nunca será tão perfeita e imperfeita ao mesmo tempo quanto aquela. Aquilo é amor verdadeiro e, independente do que tenha ocorrido com aqueles dois jovens, nada NUNCA irá superar o amor que um sente pelo outro. Todos têm um amor inesquecível. Ela foi o dele. Ele foi o dela. Aquela menininha foi a de ambos. E seja como isso terminar, alma gêmeas existem. O amor existe. Não preciso sentir. A energia daquelas duas almas, ambas destinadas uma à outra, irradia para tudo e todos. Aquilo era amor verdadeiro. Seja como for, o amor sempre vence. Aquele garoto ama aquela garota mais que a si mesmo e aquela garota... oh, a única coisa que ela ama mais que ele é sua filha. Ele também. - Ela termina assim que meus olhos já não possuem mais lágrimas para derramarem.

- O-o que você sabe sobre amor? Você troca de namorado por semana, vó. Isso é ri-ridículo! - Gaguejo, tremendo.

- Querida, eu sei muito sobre amor. - Ela ri e aperta minha mão. - Eu amava seu avô, Emma. Oh, como eu amava. Eu amava-o tanto, que me separei dele. Porque eu amava mais a Diana e a mim mesma. Ele consumiu tudo de mim e tudo da sua mãe com a bebiba e as drogas. Eu o amava... eu o tentei concertar, ajudar... Mas não se pode ajudar o que não quer ser ajudado. - Ela suspira. - Ele morreu de overdose quando sua mãe tinha 14 anos. Seu pai, que tinha 17, viu. Ele jogado na banheira, com comprimidos e bebidas. - Ela respira fundo. - Eu perdi o amor da minha vida, eu sei. Mas descobri que o amor da minha vida era Diana, - Ela sorri. - mas, Emma, o amor da sua vida não é só Anna, tanto quanto Jack. Você ama Jack. Você daria a sua vida por ele e ele por você. Emma, não que eu apoie o que ele fez, mas você realmente sabe sabe se ele fez isso? Você conversou com Jack depois do que ocorreu? - Ela tem seus olhos cuidadosos sobre mim. - Passar sua vida dentro dessa casa, bebendo e quebrando as coisas não adianta de nada. Você não pode. - Ela suspira. - Olha, converse com ele. Só isso. Dê-lhe o privilégio da dúvida.

- Eu não quero. - Pigarreio.

- Você o ama? - Sua pergunta é objetiva.

- O quê?

- Você o ama? Você ama o Jack? - Ela franze o cenho.

- Amo. Claro que eu amo. - Soluço. - Amo aquele idiota mais que eu amo qualquer coisa no mundo. Você sabe que ele só fica atrás da minha filha e minha irmã. - A entreolho.

- Você acredita que ele fez isso? Emma, é o Jack. Eu, particularmente, não acredito que aquele bobão faria algo assim. Se fez, eu espero que ele queime no fogo do próprio rabo, que pode ser mais quente que o do inferno. - Ela diz, fazendo-me rir. - Entretanto, no fundo, você acredita que ele não fez, meu amor. - Ela abre um pequeno sorriso. - No fundo, você sabe que ele te ama mais do que é possível imaginar. - Ela acaricia meu rosto. - Desculpa, mas eu não posso deixar um amor verdadeiro ser jogado fora por uma hipótese. Se ele fez isso, vai assumir, e eu mesmo o mato a sangue frio. Mas custa você perguntar?

- Não quero vê-lo. Eu irei perdoá-lo só quando vir seu rosto... ele é tão lindo. - Suspiro.

- Quais as bases do amor, Emma? - Lilian questiona com os olhos semicerrados.

- Confiança, compreensão e... - paro.

- E?

- Perdão.

- Não preciso dizer mais nada. - Ela sorri e beija minha testa. - Vai ficar tudo bem. - Ela diz e se afasta, saindo.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora