29 | Mordida.

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CINCO MESES DEPOIS
 
| J a c k |

— Bem, sr. Hayes, necessito ser direta com o senhor em questão à Anna. — A diretora da escola de Anna se inclina para frente, juntando ambas as mãos. — Não admitimos comportamento agressivo de qualquer aluno nesta instituição, e Anna acaba por quebrar estes padrões tão necessários para a convivência em sociedade. Creio que o senhor e sua esposa não a tenham dado este tipo de ensinamento em casa, então, necessito da ajuda de vocês para controlar sua filha. — Ela termina.
 
— Mas o que Anna fez? — Franzo o cenho.
 
— Pela segunda vez na semana, sendo hoje, quarta, Anna mordeu colegas em sua turma. Segunda-feira foi Dannah Hans. Hoje, infelizmente, Dylan Mackenzie.  Ela informa. — Não podemos aceitar este tipo de comportamento de uma menina tão bem educada com renome no país. Sobrenome de Anna Hayes é de extrema importância, visto que o presidente Tom Hayes regeu o país por anos e nos salvou de um grande e perigosa crise econômica momentânea. — Sua voz é grossa.
 
As rugas de sua pele aparentam a idade a bater na porta. Ela usa mais maquiagem que o comum para esconder as imperfeições, e um vestido largo e estranho em preto. Seu cabelo está louro com fios brancos aparentes. O batom vermelho dela é irritante.
 
— Sim, sem dúvidas. — Suspiro. — Pois bem. Eu e Emma criamos Anna da melhor forma possível e não podemos admitir tal comportamento indevido vindo de uma criança tão bem educada dentro das rédeas. E Anna sempre fora um doce, muito inofensiva, o que leva a duvidar do comportamento equivocado vindo justamente dela.
 
— Sim. Espero que o senhor e a senhora Hayes possam resolver esta questão. Senão, infelizmente, haverão problemas maiores que me levarão a ter de expulsar Anna da escola. Não desejo isso, porque é uma boa aluna e está um ano adiantada. — Ela suspira.
 
— Sim, claro. — Olho pela janela procurando Anna no pátio.
 
— Foi um prazer, sr. Hayes. — Ela assente. — Espero que tudo dê certo. —  Ela diz.
 
Levanto-me e saio da sua sala apenas acenando. Sigo o corredor do grande colégio até encontrar a saída para o pátio, visto que é a hora do intervalo.
Anna está sentada em uma mesa de madeira sozinha. Todas as crianças estão brincando ou sentadas em outras mesas em grupo. Mas ela... ela está só.
O semblante da minha menina é triste enquanto ela toma o suco de uva de caixinha e sua lancheira azul está sobre a mesa de madeira. É o favorito dela.
Quando a garotinha me vê, abre um sorriso que quase rasga seu rosto, mas, um tempo depois, ela arregala os olhos, sabendo o porquê de eu estar aqui e sabendo que está ferrada.
Sento-me ao seu lado no longo banco de madeira e semicerro os olhos. Ela desvia seu olhar esverdeado e suspiro.
 
— Sabe por que estou aqui, não sabe? — Acaricio seus cabelos castanhos.
 
— Sim, mas... — Ela tenta dizer, mas interrompo.
 
— Não pode morder as pessoas. — Digo com calma. As coisas são mais fáceis de resolver quando estamos calmos.
 
— Eu sei, mas não fui eu quem comecei. — Ela cruza os braços e fecha a cara.
 
— Quer me contar o que aconteceu? —  Arqueio as sobrancelhas.
 
— Cadê a mamãe? — Ela pergunta.

A Emma é bem mais compreensiva que eu, então Anna prefere conversar com ela, mesmo que eu a ache mais apegada a mim. Emma é a mistura de mãe e psicóloga em momentos como esse, então sabe bem como agir de forma que nada dê errado.
 
— Ela está no trabalho, então eu tive que vir. — Comento.
 
— Tudo bem. — Ela assente. — Papai, eu não fiz nada. Quando eu fui para a turma deles, eles ficavam falando coisas ruins para mim. — Ela se mostra triste.
 
— Que tipo de coisas, querida? —  Intrigo-me.
 
— Eles me chamaram de gorda e burra. — Anna abaixa a cabeça. — Isso foi a semana passada toda. — Ela suspira. — Mas, na segunda, a garota loira puxou meu cabelo quando eu estava pintando o desenho que a tia passou e era pra mamãe, e aí borrou. Então eu mordi a mão dela! Era pra mamãe e ficou feio, eu fiquei triste. Todo mundo riu de mim. — Seus olhos lacrimejam. — Hoje, o tal Dylan também foi mau comigo. Ele me empurrou na hora da entrada e eu caí. Aí todo mundo riu de mim de novo e ele disse que eu era burra e não devia estar na turma dele. Eu mordi os dois braços dele pra ele nunca mais encostar em mim e ele correu chorando pra diretora. — Ela pisca os olhos freneticamente para não chorar. — Eu não sou gorda, feia e nem burra, não é, papai? Ou eu sou? Você e a mamãe são inteligentes e bonitos. Até o Ben é bonitinho. Por que eu não sou? — Ela desvia seu olhar para a caixa de suco.
 
— Olha, Anna, primeiramente, você é muito inteligente. Você está em uma série avançada, o que te torna a mais inteligente de todos eles. — Afirmo. — Quando a Emma era pequenininha como você, as pessoa dizia coisas ruins para ela e agora sua mãe é maravilhosa. Você é linda, filha.
 
— A mamãe é mais bonita que eu. Por isso é assim.
 
— Não, Ann. Você e a mamãe são lindas na mesma medida. As meninas mais lindas e inteligentes do mundo. — Sorrio para ela. — Não se importe com o que eles dizem. Eles são bobos e querem que você se sinta mal. Eles não podem te deixar mal se você não ligar. Algo só te fere, se você acredita nisso. — Acaricio sua bochecha. — Acredite em mim, meu amor. Você é linda demais.
 
— Mas todo mundo diz isso e fica rindo. Eu tenho vontade de chorar, papai. — Ela deixa algumas lágrimas caírem e eu as recolho.

— Olhe para mim. — Peço. Ela o faz. — Você é incrível. É inteligente, bonita e muito legal. Quem perde são eles. Você tem a mim, a mamãe, Ben e todo mundo que tanto te ama. Eles não importam e você deveria esquecê-los. — Beijo sua testa. — E quanto a ela ter puxado seu cabelo e ele te empurrado, não é certo reagir mordendo-os. Você deveria falar com a professora.
 
— Eu falei para a tia e ela brigou com eles, mas eles continuaram. — Ela abaixa a cabeça.
 
— Ok, entendi. — Suspiro. — Mas, olhe, próxima vez que alguém te disser coisas ruins, ignore. Se alguém encostar um dedo em você, conte para mim e para a mamãe. Nós iremos resolver, e não deixar por isso mesmo. Te amamos e não queremos que nada de ruim aconteça. O mundo está cheio de pessoas más, então seja uma pessoa boa.
 
Anna balança a cabeça e fica de pé sobre o banco para me abraçar.
 
— Obrigada, papai. — Ela beija minha bochecha. — Você é o melhor papai do mundo. — Ela diz ao segurar meu rosto com suas pequenas mãos.
 
E então, tudo, absolutamente tudo o que eu fiz até hoje, passa a valer a pena e fazer sentido quando noto que faço algo certo com uma garotinha que tanto me é importante para mim.
 
— Eu te amo, querida. — Beijo sua testa.
 
— Te amo, papai. — Ela solta uma gargalhada fofa. — Vamos brincar de carrinhos? — Seus olhos brilham.
 
Assinto e a ajudo a pegar todos e jogar no chão. O trabalho que se dane. Minha filha é mil vezes mais importante que qualquer papel no computador ou número na conta bancária.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora