26 | Ben.

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QUATRO MESES DEPOIS

| J a c k |


Acordo em uma cama de hospital, não entendendo muito bem o porquê de estar aqui. Suspiro por uns segundos, olhando para o teto e tentando lembrar do que ocorreu antes de eu acordar e... Ben! O Ben está nascendo. Eu desmaiei.

Pulo da cama e vejo minha mãe sentada na poltrona do canto do quarto olhando para mim. O quê?

- Onde Emma está? Ben já nasceu? Onde Anna está? - Arregalo os olhos e retiro o lençol que cobre minhas pernas.

- Ben está no berçário e a Emma está se recuperando do parto. Anna foi dar uma volta com a Milla porque você sabe que ela, estranhamente, adora hospitais. - Ela diz com um sorriso pacífico.

- Está tudo bem, mãe? - Arqueio as sobrancelhas, em dúvida.

- Sim, querido. Só estou te olhando e pensando o quão orgulhosa estou. - Ela inclina a cabeça para o lado.

- Mãe... - Suspiro.

- Sabe, eu errei tanto... eu te abandonei e você me perdoou, sabe? Eu fico tão feliz com o fato de poder estar aqui e ver meu segundo neto nascer, Jack. Isso é incrivelmente bom. - Ela diz, com os olhos marejados. - E ele é tão bonito... parece mais com a Emma.

- Ele é bonito? - Sorrio, encantado.

- Ele é lindo, querido. - Ela balança a cabeça com um sorriso emocionado. - Ele é tão pequenino e... e eu não acredito que estou aqui para ver isso. - Ela deixa algumas lágrimas brotarem.

- Mãe, está tudo bem. É sério, eu fico feliz que você esteja aqui mesmo que meu pai não esteja. Vamos tentar não pensar no que aconteceu e seguir em frente. Você está aqui e isso é bom. Quero que fique por um bom e longo tempo, amando as crianças, convivendo com elas... Você sabe que eu não te culpo pelo o que houve. - Levanto-me e caminho até ela. - Eu te amo, mãe. Obrigado por tudo. - Eu digo, pondo seu cabelo atrás da orelha.Ela se levanta e me abraça forte.

- Eu te amo, querido. Estou orgulhosa do homem que se tornou. - Ela beija minha testa. - Agora vá ver seu filho antes que os médicos voltem aqui. - Ela arruma meu cabelo.

- Eu vou. - Esfrego as mãos e suspiro.

Estou nervoso. Não é à toa que desmaiei. Corro pelo corredor em direção ao berçário e arrumo minha blusa amassada. Quando para em frente ao vidro da sala, mesmo que hajam outros vinte bebês de azul, eu vejo Ben. Eu sei que é ele, porque os traços são semelhantes ao da Emma e ele está sorrindo e se mexendo. Eu sei que aquele menino lindo é o meu filho. Respiro fundo e limpo meu rosto já molhado.

- Sr. Hayes, pode entrar. - A enfermeira morena de meia-idade que me conhece do parto da Emma, diz gentilmente. - Eu sei que sabe qual é. - Ela sorri e afaga minhas costas.

Caminho até o meu filho... ele é tão bonito. Deus, é meu filho.

- Você pode pegá-lo, sr. Hayes. Não tem problema. Mas nós iremos levá-lo até a sra. James em alguns minutos. - Ela diz calmamente. - Já fizemos todos os exames e ele é um garoto forte e saudável e eu sei que ela quer vê-lo.

- Eu posso... eu posso levá-lo? - Pergunto calmamente, olhando para o pequeno menino enrolado na manta azul e branca. Não gosto do fato de distinguirem por cores. Anna nunca gostou de rosa.

- Pode, claro. Só... só tome cuidado. - Ela diz gentilmente e abre a incubadora. Ela pega Ben no colo e entrega-me.

E quando eu ponho as mãos naquela pequena coisinha tão significativa, o sentimento é o mesmo. O incrível sentimento de poder ser responsável por uma vida, de poder dar amor, carinho, afeto... é tão bom. É maravilhoso poder pegar seu filho no colo e dizer que é o seu filho. E Ben é meu filho, meu garotinho. Meu menino indefeso, pequenino, com horas de vida. Eu irei proteger esse garoto até o fim da minha vida, porque agora ele é a minha vida juntamente à Anna e Emma. E minha família é tudo para mim, eles são minha vida. Acaricio o rostinho dele e Benjamin ri. Ele segura meu dedo e estremeço quando ele se move um pouco. Qualquer movimento é completamente assustador por ele parecer um pequeno boneco. Olhando-o assim, eu sei que ele será igual a Emma... sabe, bom, gentil, amoroso, carinhoso. Eu espero que ele herde toda a bondade e gentileza dela, porque ela tem de sobra. E nossos filhos terão.

Tento empurrar a porta do quarto em que Emma está e quando olho para a minha linda esposa na cama, ela tem uma foto em mãos. Sei que é uma foto da Anna ou dela e da Anna, porque hoje faz oito anos da morte da Anna. Sim, o filho de Emma nasceu no mesmo dia em que sua irmã gêmea faleceu.

- Meus amores - Ela exclama e põe a foto na pequena cabeceira do quarto de hospital amarelo.

- Ele é tão lindo... - Sussurro. Emma estica seus braços, pedindo para pegar Ben e eu a entrego com a maior calma e cuidado do mundo para não magoá-lo.

- Ele é um menino lindo, não é? - Ela diz e acaricia o rosto do garotinho com sua mão trêmula.

Se tem uma coisa na Emma que eu amo, é a sua paixão. A paixão com a qual ela me envolveu e me pôs em sua vida, como se doou de corpo e alma para um idiota, como continua se doando todos os dias. A paixão com a qual ela dedicou cada mísero segundo dos últimos quatro anos à Anna e irá dedicar-se a vida inteira, com paixão, com todo o amor que transborda nela. E agora, a paixão com a qual ela só simplesmente olha para o seu filho, o segura firme em seus braços e acaricia seu rosto pequenino. Sabe, a paixão que ela irá ter durante toda a sua vida, para cada uma das pessoas que vive com ela, porque essa é a Emma: ela transborda amor, porque ela é amor. Ela de tornou amor ao longo dos anos e é a coisa mais linda de se ver.

Ela acaricia o rosto de Benjamin com um cuidado absurdo, com um sorriso no rosto e uma felicidade incontestável no peito. Mesmo ela estando cansada por conta do parto e quase tendo, sem dúvidas, quase quebrado a mão de Becky por ela ter ficado na sala durante o parto, ela está realizada e feliz. Ela não se arrepende e isso é lindo. Não sou eu a sentir a dor que ela sente para dar a luz às duas pessoas que mais amo na Terra, mas se fosse, eu tenho certeza que estaria satisfeito como ela. Tenho orgulho dessa mulher.

- Ele se parece com você. - Sento-me na ponta da cama calmamente, incliando-me para dois dos três amores da minha vida. - Sabe, os traços, o pequeno nariz, a boca. - Digo enquanto Emma contorna cada traço do rosto de Ben delicadamente.

- Benjamin James Hayes. - Ela suspira. - Esse lindo garotinho, forte, saudável, bonito... é meu filho. Jack, é o nosso filho. Dá pra acreditar? - Ela suspira com um sorriso deveras emocionado. Ela é tão linda... meu Deus.

- Temos filhos lindos. E possível esperar menos de uma mulher tão linda?"m - Digo e inclino-me para beijar sua testa.

- Você realmente desmaiou? Ficou tão nervoso que desmaiou? - Ela diz, com um pequeno sorriso. Acho que Ben dormiu, porque ele parou de se mexer.

- Ele está bem? - Arregalo os olhos.

- Sim, só dormiu. - Ela sussurra e puxa um pouco da manta para cobrí-lo mais. - Fique calmo. - Ela sorri.

- Ah, sim. - Suspiro em alívio. - Sim, desmaiei . Acordei em um quarto. - Solto uma risada baixa.

- Meu deus, Jack. - Ela solta uma linda risada. É um som incrível. - Você está bem? Está bem agora? Como se sente?

- Você é real? Porque você acabou de ter um parto normal que desmaiei por ouvir seus gritos do lado de fora, seu filho está em seus braços, dormindo, você passou mais nove meses carregando uma criança dentro de você, e hoje faz oito anos da morte da Anna. E depois de tudo isso nas suas costas, você me pergunta se eu estou bem por ter desmaiado por algumas horas? - Arregalo os olhos.

- Eu só me preocupo com você. - Ela abre um pequeno sorriso.

- E deveria se preocupar ainda mais com você, amor. Você está bem? - Acaricio seu rosto.

- Sim, eu estou bem. Acho que segurar esse pequenino ameniza a dor. - Ela olha para Ben por alguns minutos.

- Eu sei, mas não significa que ela ainda não esteja aí, Emma. Você não pode ser liberada até amanhã, não é? Você veio para cá às sete da manhã, teve o Ben algumas horas depois e agora são quase três da tarde. - Suspiro. - Nossa, eu fiquei desmaiado por um bom tempo.

- Jack, acho que Ben nasceu hoje por alguma razão. Talvez para que todos os anos, quando for esse mesmo dia, ele poder amenizar minha dor de ter perdido uma irmã, por ter ganho um filho. - Ela diz calmamente. - Eu gostaria de ir ao cemitério, mas eu... eu posso fazer isso essa semana. Eu não posso deixar Ben agora. - Ela suspira. - Anna me perdoa por isso. Talvez tenha dedo dela nisso, já que eu sei que ela é um anjo. Sabe, meu anjo da guarda, como sempre foi em vida. - Ela sorri.

- E o que quer fazer agora? - Eu pego uma das suas mãos e acaricio-a.

- Eu gostaria de te ter deitado ao meu lado até eu sair. Eu, você e Ben. Anna deve chegar daqui a pouco e ela vai querer pegar o Ben e entregá-lo para minha mãe ou a sua para morar com uma delas. - Ela solta uma risada e chega para o lado calmamente. - Ela está com ciúmes.

- E quem não estaria? Eu queria que você me pegasse no colo assim. - Brinco acariciando seu lindo rosto.

- Acontece que você é muito grande. - Ela revira os olhos, sorrindo.

- Você insiste em falar desse assunto na frente das crianças. - Semicerro os olhos com um comentário noutro sentido.

- Você é sujo. - Ela solta uma risada e geme de dor. - Ai... - Ela suspira.

- Está tudo bem? Eu eu machuquei? Quer que eu chame alguém? Quer que eu saia? Pegue uma almofada? - Digo rápido e afobado com a ideia dela ter se machucado.

- Não, amor. É que dói um pouco quando eu me movo, às vezes, mas é normal. Aconteceu no parto da Anna também. - Ela tenta me acalmar.

- Estou chegando! - Ouço a voz alta de Anna do corredor. Ela fala muito alto.

Quando a pequenina entra no quarto andando, eu rio. Ela está com um dos seus habituais vestidos, um amarelo, mas segura dois pirulitos em uma mão, um picolé em outra, alguns cordões grandes demais para ela em seu pescoço e um óculos escuro preto. Atrás, entra Lia. É claro que é a Lia fazendo as vontades da Anna.

- Esse é que é meu irmão? - Ela diz, alto demais, visto que Anna não sabe falar baixo. - Eu sou bem mais bonita. - Ela cruza os braços e acaba sujando seu vestido com o picolé vermelho. Emma semicerra os olhos para Lia.

- Bem, a encomenda foi entregue e antes que me matem, eu coagida por essa pequenina. Os cordões são do Tyler e o óculos do Ethan. - Ela diz e passa mão em sua grande barriga. - Eu volto em breve. - Ela sai da sala com um sorriso.

- Anna, esse é o Benjamin. Agora ele faz parte da nossa família. - Emma diz docemente. Retiro os pirulitos da mão de Anna e a sento no meu colo, perto de Emma.

- Ele é estranho, mamãe. - Ela bufa. - Ele é muito pequenininho! - Anna franze o cenho. - Parece minhas bonecas.

- Ele é seu irmão, Anna. Vai ter que nos ajudar a cuidar dele. - Eu digo e retiro os hilários óculos escuros do seu rosto e as correntes. Ela é absurdamente fofa e inocente.

- Eu posso dar banho nele dentro do vaso? - Ela franze o cenho e eu rio.

- Não, querida - Emma diz calmamente e pega a pequena mão de Anna. - Olha, você tem um irmãozinho, Anna. E ele é bem indefeso e frágil, então nós temos que cuidar muito bem dele assim como fizemos com você, mas você sabe que nós não vamos esquecer de você, não é? Nós amamos os dois iguais e você não precisa sentir ciúmes do Ben. Você tem que amar o Ben, Anna. - Emma diz e Anna assente depois de um tempo.

- Prometem? Eu não quero dividir meus papais. - Ela lambe seu picolé.

- Nós somos só de vocês dois. - Digo para a minha menina.

- Mas eu vou ter que dividir o Hate e o Love também? - Ela parece inconformada com a ideia.

- Sim, meu amor. - Emma solta uma risada fraca.

- Hum. - Ela semicerra os olhos. - Vamos ver isso, não é, mamãe? - Ela parece querer negociar.

- Tudo bem, meu amor. - Emma diz, com um sorriso no rosto. - Sabia que eu te amo? - Ela acaricia o rosto de Anna calmamente.

- Eu também te amo. Amo você também, papai. - Ela sorri. - Você também, Ben. Mas é bem pouquinho.

Emma me entreolha com um sorriso no rosto quando Anna testa encostar seus dedos no rosto de Ben. Ela sorri quando o rosto dele se contrai com om toque gelado.

Ah, Deus.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora