49 | A verdade.

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UM ANO DEPOIS.

| E m m a |


- Mãe, pai, nós podemos conversar? - Ben chama nossa atenção enquanto desce as escadas para sala.

Eu estou deitada no sofá com a cabeça no colo de Jack, a ler um livro de romance bobo, e ele permanece respondendo e-mails de trabalho no celular. Uma música alta do Green Day toca enquanto permanecemos assim, juntos. Fazemos isso grande parte do tempo. Paro a música para ouvir o que o meu filho tem a dizer.

- Claro, querido. - Sorrio, assentindo.

Jack sorri e me sento ao seu lado. Ele solta o celular e eu, o livro. Meu marido passa se braço pelo meu ombro e me puxa mais para si. Eu gosto quando ele faz isso.

- Então... - Ele diz, extremamente nervoso. - Eu preciso contar algo para vocês. - Ele respira fundo.

- Pode dizer, filho. - Jack tenta incentivar com um sorriso.

- Faz algum tempo que eu me sinto dessa forma e preciso dizer a vocês, mas eu só não faço ideia de como. - Ele passa a mão pelos cabelos e anda de um lado para o outro.

- Pode dizer, meu amor. - Afirmo.

Eu sei o que ele irá dizer.

- Eu espero que entendam e não briguem comigo. Eu não consigo mudar isso e a coisa que acabaria comigo seria que vocês se afastassem ou seja o que for. - Ele respira fundo.

- Não precisa enrolar. - Eu rio, balançando a cabeça.

Jack pega minha mão e jogo minhas pernas sobre a sua.

- Não sei como dizer. - Ele solta um suspiro frustrado.

- Você está usando drogas? - Jack arqueia as sobrancelhas.

- Não. - Ben solta uma risada nervosa.

- Roubando? - Ele investiga.

- Não.

- Matando? - Jack afaga minha perna.

- Não. - Ele ri.

- Fazendo bullying com alguém? - Eu arqueio as sobrancelhas.

- Também não, mãe.

- Fumando? - Jack prossegue.

- Não mesmo.

- Você bateu em uma mulher? - Pergunto.

- Nunca faria isso. - Ele puxa seus cabelos.

- Você está se cortando? Passando por um transtorno alimentar? Tem depressão? - Jack suspira, não entendendo.

- Não, pai. Não é nada disso. - Ele suspira, esfregando as mãos.

- Você joga lixo no chão? Você corta árvores? Você diz coisas ruins para alguém? Você maltrata animais ou pessoas? Você faz parte de um grupo terrorista?

- Não, mãe. - Ele ri.

- Você apoia Donald Trump? - Eu pergunto com um sorriso.

- De modo algum! - Ele arregala os olhos.

- Engravidou alguém? - Arqueio as sobrancelhas.

- Não mesmo. - Ele suspira.

- Então não importa o que diga, não ficaremos decepcionados, chateados ou irritados com o que quer que seja. - Jack o conforta.

- Ok, só espero que compreendam. - Ben suspira, finalmente parando e olhando para nós com os olhos marejados.

- Vamos, filho. Diga. Seja o que for, te amamos e vamos entender. - Jack assente.

Ele também sabe.

- Bem... mãe, pai. Faz algum tempo que eu me sinto diferente, mas eu sei que isso é desde sempre. Não sei se vocês já notaram, mas não importa. Eu não quero decepcioná-los e nem que me odeiem. Eu não quero que achem que é porque eu quero e que é para algo direto. Eu quero que me desculpem e entendam. - Ele suspira. - Realmente não sei como dizer isso.

- Diga de vez. - Meu marido diz, segurando minha mão fortemente.

- Eu sou gay. - E então ele diz, soltando um longo e profundo suspiro de alívio.

A sala emerge em silêncio. Os olhos do meu filho de apenas quinze anos estão marejados e ele está mexendo em suas mãos desesperadamente, receoso com a nossa reação que poderia ser a pior possível, mas não será. E eu espero que, no fundo, ele saiba disso.
Olho para Jack, deitando minha cabeça no sofá. Ele ele está comprimindo ambos os lábios e olhando para mim. Eu tenho um sorriso pequeno em meu rosto, querendo que ele não reaja a essa notícia de forma equivocada, porque não quero que Ben se sinta mal. Não mesmo. Eu realmente não acredito que vá haver uma reação equivocada da parte dele.

Ele olha para mim por alguns instantes e aperto sua mão o máximo possível, porque não consigo entender o que se passa na sua cabeça.
Meu medo da sua reação é direcionado a forma como ele irá falar com Ben. Ele pode ser intolerante, mesmo que eu duvide. Ou ele pode o abraçar. Eu apoio meu filho e sempre soube quem ele era. Sei que Jack também, mas ele queria ouvir isso da boca de Benjamin.

E então Jack solta um suspiro longo e se levanta, parando na frente de Ben, meu lindo filho, de braços cruzados. Benjamin fecha os olhos com força, deixando algumas lágrimas dolorosas, mais em mim que nele, rolarem pelo seu rosto corado.

Os braços de Hayes se envolvem ao redor de Ben e todo o medo se dissolve dentro de mim. Não consigo conter as lágrimas involuntárias que rolam pelo meu rosto. Ben aperta o pai contra si ao máximo e chora. Ele não chora pouco.
Jack se afasta de Ben com olhos vermelhos de segurar as lágrimas o máximo possível.

- Desculpa. - É a única coisa que Ben diz.

- Por quê? - Jack questiona. Levanto-me e paro ao seu lado.

- Por ser assim. Me desculpem. - Ele mexe as mãos rápido demais.

- Não pode pedir desculpas por amar. Não pode pedir desculpas por ser você. Nunca peça desculpas a ninguém por ser quem você é. Não é errado. - Jack sorri e solta um suspiro de felicidade.

- Não chora, mãe. - Ben ri. - Você não vai dizer nada? Você não quer? Está decepcionada? - Ele fica apreensivo

- Decepcionada? Por que diabos eu ficaria decepcionada com você, meu amor? Não existem meios de eu me decepcionar com o meu menino. - Seguro suas mãos. - E eu sempre soube. - Dou os ombros e rio por entre as lágrimas.

- Desde quando? - Ele engasga.

- Sou sua mãe. - Reviro os olhos. - Eu só sabia. Simplesmente sabia.

- Vocês são os melhores pais que alguém poderia ter. Eu pensei que fossem surtar e sei lá. - Ele coça a nuca.

- Por que caralhos faríamos isso? - Jack leva as mãos ao ar. - O meu maior medo disso é a forma como as pessoas vão encarar e os julgamentos. - Ele suspira. - Mas deixe-me dizer uma coisa, Ben: sua vida não é da conta de ninguém. Não absorva os apelidos maldosos, as brincadeiras de péssimo gosto e os julgamentos duros. Faça o que você quiser, quando quiser e com quem quiser. É claro que você não pode invadir o espaço alheio, mas isso não invade. Faça o que te faz feliz. Isso não faz mal a ninguém, então prossiga. Seja feliz, meu filho. Ame e se divirta. A vida é melhor do que parece. Será duro com a sociedade hipócrita, falsa-moralista e preconceituosa que temos, mas não precisa dar ouvidos a ela. Você não é nenhuma aberração. Você não é uma pessoa ruim, e sim um garoto forte, independente e inteligente. Não deixe as pessoas te deixarem para baixo por conta disso. Você é muito melhor do que eles dirão que é. - Jack diz sabiamente. - O preconceito está em todos os lugares, e temos que combatê-lo de qualquer forma. E mesmo que se as coisas irem mal, nós estaremos aqui. Nunca iremos te julgar por amar, porque a vida sem amor é um erro. Não deixe que sua vida seja um erro por medo de ser quem você é da sua maneira. Não está incomodando ninguém sendo você. E se eles se incomodarem, mande-os se foder. - Ele termina com um sorriso.

Benjamin abraça Jack com força.

- Ele está dizendo isso porque o mundo as vezes pode ser mau, então cabe a você ser bom. Você pode mudar a má percepção geral das pessoas. A liberdade é limitada, mas não para coisas boas. Não há erro. Não erre em questão a isso. Seja você sempre e não tenha vergonha. Nós somos livres e o amor também. Nós te amamos e estaremos aqui sempre que precisar. - Acaricio seu rosto corado. - Somos uma família e estamos aqui para isso. Eu não pus nenhum filho no mundo para ser normal e nem para ter medo de ser quem é. Eu pus filho no mundo para ser quem é e, principalmente, ser feliz. - Tiro seu cabelo do rosto. - Eu não fui a mãe perfeita, mas nunca iria te tomar como decepção. Nunca. Independente do que fizesse. Sabe por quê?

- Por quê? - Ele pigarreia.

- Porque você é bom. Você e Anna tem um coração puro e verdadeiro e nunca fariam nada errado. Vocês são o motivo mais puro da alegria da minha vida. Eu estou orgulhosa por você ter conseguido admitir isso, porque é difícil. Você é meu orgulho, Benjamin James Hayes, e sempre será. - Digo, já entre as lágrimas.

Meu garoto me abraça com força e Jack também nos abraça.

Um barulho da porta é ouvido e ouço a voz meiga de Anna a dizer:

- Ah, ele contou! - Ela grita, extremamente animada. - Eu sabia que vocês reagiriam bem! - Ela abre um sorriso de orelha a orelha. - E eu também quero um abraço. - Ela puxa em cima de nós com um belo sorriso no rosto. - Eu disse que ficaria tudo bem, bobão. - Ela diz quando nos afastamos.

- Verdade. - Ele suspira. - Temos os pais mais legais do mundo. - Ele dá uma cotovelada no braço da irmã.

- Sim, nós temos. - Ela sorri.

Eu e Jack nos entreolhamos e eu sei que ele se sente infinitamente feliz, assim como eu. Temos a família mais bonita existente e eu tenho orgulho disso. Meu coração me enche de amor ao encarar isso.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora