48 | Não.

568 92 4
                                    

UM ANO DEPOIS.
 
| E m m a |
 
 


— Não. — Digo, rindo com ironia.
 
— Por favor, mãe. — Benjamin insiste.
  
— Eu disse que não. — Insisto.
 
— Mas todo mundo vai.
 
— Você não é todo mundo. Não sou mãe de todo mundo. Sou sua mãe e eu disse não. — Reviro os olhos, fechando meu livro.
 
— Pai? — Ele franze o cenho para o Jack.
 
— Eu não vou me meter. Se a sua mãe disse 'não', é não. — Jack dá os ombro e continua com seus olhos focados no notebook.
 
— É só uma festa. Anna vai à festas. — Ele revira os olhos.
 
— Anna tem dezoito anos. —  Eu reviro os olhos. — Mesmo assim, ela me pede.
 
— Por favor, mãe.
 
— Nessas festas têm bebidas, drogas e sempre termina com um vizinho chamando a polícia. Vocês já comemoraram a vitória do time mais cedo, agora é tarde, você tem quatorze anos e eu disse que você não vai.
 
— Você está sendo chata.
 
— Ótimo, assinei um contrato que dizia que eu era obrigada a ser assim que você nasceu. Me esforcei muito para cumprir meu dever árduo.

Jack ri. Temos um trato que consiste em sermos irônicos quando os nossos filhos nos enchem sendo persistentes depois de várias negativas. A melhor parte é debocharmos da situação na qual o outro se encontra, pois isso os deixa mais irritados ainda.
 
— Por favor. — Ele implora.
 
— Se você pedir mais uma vez, tiro seu celular. Eu estou com dor nos ombros, não encha o meu saco, Benjamin. —  Suspiro.
 
— Quer uma massagem? Já terminei. —  Jack pergunta com um sorriso doce.
 
— Sem dúvidas. — Sorrio. As mãos de Jack se movem para os meus ombros. — Meu Deus. — Murmuro.

Ele tem mãos mágicas.
 
— Por que vocês simplesmente não podem me deixar em paz?
 
— Somos seus pais, estamos aqui para te não te deixarmos fazer tudo o que queremos. Quer você goste disso, ou não. É mais divertido quando você não gosta. — Sorrio.
 
— Essa é a melhor parte de ter filhos, aliás. Enchê-los a paciência. — Jack acrescenta.
 
— Realmente. É um momento mágico. — Ironizo. — Você não tem que dormir para a aula amanhã?
 
— Saí do ballet. — Ele diz, subindo as escadas.

Olho para o Jack por um instante bufo.
 
Nós dois nos levantamos e seguimos escadas acima. Empurro a porta do quarto do Ben e ele está mexendo no celular.
 
— Não encham. — Ele diz.

Anna e Ben se parecem muito quando querem testar nossa paciência sendo filhos extremamente irritantes.
 
— Esse é o nosso trabalho. Já disse.
 
— Por que saiu do ballet? Você é bom. Você consegue manter um equilíbrio entre o ballet e o futebol e é bom nos dois. — Jack se senta na cama.

Pego o celular das mãos do Ben para que ele preste atenção na conversa.
 
— Eu não ligo — Ele dá os ombros.
 
— Benjamin James Hayes, você pode me explicar o que está havendo? — Deito-me ao seu lado.
 
— Nada, mãe.
 
— Eu te dei a luz, garoto. Eu te conheço muito bem para acreditar no seu nada. — Acaricio seus cabelos em um louro escuro.
 
— Só queremos te ajudar. — Jack joga uma almofada vermelha na cara dele.
 
— Eu só enjoei. É chato.
 
— Você ama aquilo. — Balanço a cabeça.
 
— Deixei de gostar. Isso acontece, sabia? — Ben revira os olhos. Estou começando a me preocupar.
 
— Você pode explicar o que houve? Eu não gosto quando você fica assim, meu amor. — Suspiro.
 
— Eu... não importa. — Ele tenta dizer, mas para.
 
— Se sente mais confortável se eu sair? — Jack sugere e Ben nega com a cabeça.
 
— É que eles ficam dizendo que é coisa de garota e me zoando por nada. Eu sou um homem e isso é ridículo. — Ele resmunga.
 
— Quando a Becky me entregou a lista do que precisava comprar para as aulas, não tinha vagina.  — Ironizo.
 
— Verdade, amor. Ela deve ter esquecido de pôr. — Jack também apela ao sarcasmo. — Durante toda a sua vida, nós te dissemos que não existe isso de coisas de menino e menina, Ben. Você é um garoto maduro e inteligente demais para se importar com isso.
 
— Eu sei, mas é bem desconfortável. Só tem garotas na turma do ballet. Elas não falam nada, mas o pessoal do colégio fala.
 
— Querido, o que as pessoas falam não importa. Só importa o que você pensa de si e sempre tem que ser positivo. Desde que você nasceu eu te ensinei que não há essa distinção entre coisas de menino e coisas de menina. Você só tem que fazer o que gosta. — Suspiro.
 
— Sua mãe tem razão. — Jack assente.
 
— Eu não quero mais.
 
— Ben, querido... você ama aquilo. — Inclino a cabeça para o lado.
 
— Não mais. — O garoto dá os ombros.
 
— Você não pode se importar com o que as pessoas dizem. — Balanço a cabeça.
 
— Mãe, você sempre nos disse que quando você era da minha idade, se importava com o que as pessoas pensavam.
 
— E quando eu notei que isso não importava, eu parei. Não fiquei com você nove meses dentro da minha barriga, para você fazer o que as pessoas dizem ser certo. — Cruzo os braços.
 
— Ok... eu vou tentar, ok? — Ele mexe no seu cabelo castanho claro.
 
— Promete? — Jack diz.
 
— Sim. — Ben revira os olhos. —  Obrigado.
 
— Ajudar os filhos também estava no contrato. — Sorrio. — Vem cá, meu bebê. — Digo, puxando Ben e beijando sua bochecha.
 
— Ah, mãe. Pare. — Ele resmunga e eu rio.
 
— Eu te amo. — Beijo sua testa.
 
— Eu também te amo, mãe. Você também pai. — Ele suspira.
 
Eu e Jack nos levantamos e seguimos até a porta.
 
— Posso ir à festa? — Ben questiona quando estamos saindo.
 
— Não. — Eu e Jack dizemos em uníssono.
 
Nós sabemos o porquê dele querer ir à essa festa. Benjamin quer parecer maduro e um homem, mas ele é. Ele não tem que se importar com o que as pessoas dizem, porque isso não importa, porém também entendo como é difícil. Fico triste perante o fato de que a pessoas não aceitam as escolhas alheias e precisam dar opiniões desnecessárias para magoá-lo.

The Love Lessons | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora