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— Acordem!

A ordem foi seguida de esguichadas d'água que fez todas as garotas e eu levantar num salto. Acordamos molhadas pela mangueira que Madame Leonor arranjou para fazer questão de nos humilhar. Red mal pôde se mexer, a pobre coitada apenas se arrastou do seu colchonete para uma distância onde a água não batesse. A acompanhei para não deixa-la sozinha.

— Droga, hoje é o dia... — sussurrou desvanecida.

— Dia de que? — perguntei protegendo o rosto.

Vamos, hoje vocês precisam tomar um banho digno — ressoou a mulher, desligando a mangueira, sorridente.

— Red, que dia é hoje? — voltei a perguntar.

— Quer saber minha querida? — a intromissão dela me assustou. Meu tom de voz estava baixo, praticamente inaudível.

Como ela ouviu?!

— Dia de Leilão!

Dito isso, ela saiu.

Virei imediatamente para Red, que parecia saber exatamente o que eu ia perguntar, se adiantando em falar:

— Hoje seremos leiloadas para passar uma noite ao lado de algum homem.

Ofegante, levantei e perambulei eufórica. Ia me manifestar, mas recordei das câmeras que haviam ali. Voltei para perto de minha amiga, e fiquei abraçada nela. Red estranhou a minha atitude, franzindo o cenho.

— Você sabe que aqui tem câmeras?

— Claro. Todas sabemos disso. — ótimo, pelo menos um dos mistérios foi desvendado.

Aquele era o motivo pelo qual todas elas sempre ficavam reprimidas em brigas. Sabiam que estavam sendo vigiadas o tempo todo.

— Precisamos fugir desse lugar. Talvez hoje seja a oportunidade certa.

— Dulce, desista. Essa gente é perigosa.

— Mas somos maioria, somos muitas. Quem sabe nos unindo...

— Não somos maioria — rebateu com desesperança — Lá fora existem muitos deles, treinados para matar todas que se atreverem a ir contra o sistema.

— E você quer passar a vida toda aqui? — questionei indignada.

— Não! Eu vou quitar minha dívida.

Red parecia mesmo acreditar naquilo. Ela tinha as esperanças que a mulher havia mencionado. Era duro imaginar que a ingenuidade dela a impedia de ver o que realmente havia por trás de tudo.

Horas após a visita da Madame, algumas moças, inclusive eu, fomos levadas para um cômodo cheio de roupas e maquiagem. Incumbidas de se banhar e pôr vértices adequadas. Havia muito brilho, peças curtas e decotadas, tudo muito exuberante. Não tinha como recusar fazer o ordenado. Dentro daquele lugar haviam cinco homens armados, prestes a deferir algum tiro sobre qualquer uma de nós que decidisse sair dali.

Red me ajudou com a maquiagem e as roupas, já que ela sabia que eu não faria aquilo por livre e espontânea vontade. Fui vestida, em clima de funeral, e como se não bastasse, estava mesmo preparada como uma fruta banhada na feira. Enfeitada por coisas chamativas.

Quando ficamos todas prontas, a mulher adentrou, analisou as mercadorias e apontou para as que lhe interessava. Todas que foram vítimas do seu indicador saíram pela porta acompanhadas por mais homens armados. Red tinha razão, havia muitos. Chegando na minha vez, paralisei, ficando imóvel, em estado de choque total. Até aquele momento ainda não tinha caído a minha fica do que acontecia ao meu redor.

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