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Depois de um tempo ainda em fuga, ouvi o barulho de uma descarga de moto que fez meus passos se apressarem ainda mais, ameaçados. Eu não sabia quem me perseguia, e nem teria tempo de olhar para trás a fim de descobrir. A única alternativa que achei apropriada para despistar o veículo foi sair da estrada e entrar na mata ao redor do caminho. Por ali a moto, talvez, não conseguisse me acompanhar. Continuei correndo, e correndo, esperançosa por não ouvir mais nada motorizado, pelo menos até esse som ser substituído por passos apressados que se aproximavam cada vez mais. Foi uma perseguição horrorosa. Me sentia literalmente como uma presa vulnerável, e mesmo assim não desacelerei. Tinha que ganhar tempo na floresta, mas para quem me perseguia o mato alto parecia não ser empecilho de nada. 

O problema foi que eu não contava com os imprevistos da natureza.
A raiz gigantesca de uma das árvores me jogou com força no chão. Tropecei, e só depois disso percebi que já estava toda machucada e com arranhões causado pelos arbustos que batiam no meu corpo durante a fuga implacável.

Dulce!

A voz tentou me chamar, e mesmo ainda zonza pela queda, tentei continuar fugindo me arrastando de joelhos.

— O que está fazendo?! Pare com isso! — Insistiu novamente a voz.

Tudo era inútil. Qualquer chamado era em vão. Eu estava determinada a ir embora.
Não parei de me arrastar, até ser arrancada do chão pela cintura. Presa, não parei de me debater contra o toque grotesco que me mantinha encurralada e desesperada, clamando por liberdade. Lutei semelhante ao dia em que fui transportada do quarto sujo para a boate calabouço.
Destemida...

— Eu disse para parar!  — A ordem e o cansaço finalmente me fizeram cessar a reluta.

Eu estava chorando nos braços de Christopher. Tremula como quando alguém sente frio.
Ele veio atrás de mim, para que? Não bastava a humilhação daquela manhã.

— Porque fez isso? Está maluca? Quer se matar? — Ele parecia tão apavorado e atordoado quanto eu, mas não me iludi com isso. Os jogos haviam perdido a graça.

Permaneci calada, enquanto Wayne me questionava segurando meu rosto e olhando os locais onde ardiam. O calor da adrenalina já estava desaparecendo e a dor começava a criticar minha imprudência.
Afastei as mãos dele em fúria e cuspi próximo ao seu pé, apenas para expressar o nojo que sentia. Christopher ficou absorto com a minha reação, cessando a fala. Mas eu ao contrário dele tinha muito o que dizer.

— Você é tão desprezível, que me dá nojo!

Pude ver aqueles olhos aderem, flamejantes, bem na minha direção. Pegando meu pulso, fortemente, ele endureceu o maxilar e permaneceu com a expressão intimidadora de todos os dias.

— Não me importo se sente isso, mas querendo ou não você vai voltar comigo.

— Não vou!

— Eu não perguntei Dulce.

Christopher me pegou novamente pela cintura, e me lançou sobre o seu ombro, me carregando como a uma criança mimada. Bati os pés pedindo que me soltasse, mas ele claramente me ignorou e continuou a me segurar ali. Ele era forte, e eu era pequena demais para conseguir vencer uma queda de braços. Era uma luta em vão, desonesta.

— Se continuar fazendo isso vamos nos machucar. — Repreendeu irritado.

— Então me solte! Eu sei andar sozinha!

— Não me tache como tolo. Se eu te soltar você voltará a correr. Sei o quão infantil consegue ser.

— Infantil é a sua avó!

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