Eu estava arfante, com os ombros estirados e a pele eriçada. O suor me banhou enquanto o sonho se desenhava na minha mente.
Eram muitas imagens... Em todas elas foi possível assistir Wayne me beijar, rir de mim, me esnobar, me amar. Nós brigávamos e nos envolvíamos tudo na mesma intensidade. Era um jogo de atração incrivelmente excitante.
Abri os olhos com um par de mãos afetuosas me tocando, assustadas. Christopher tinha o olhar graúdo e focado em cada reação minha. Ele com certeza havia acordado com os meus movimentos, mas naquele exato momento não foi isso o que me deixou extasiada, e sim o fato de sentir minha mente explodir como o brotar de uma rosa.
Eu estava. Realmente. Repassando a nossa história.
— Dulce, você está bem? — Ele checou meu rosto segurando minhas maçãs atentamente — Porque esta chorando?!
Sim, eu estava aos prantos. Soluçante como uma criança enquanto o pobre homem na minha frente arriscava descobrir os motivos.
—... Christopher — respondi balbuciando — Wayne...
— O que houve baby? Está sentindo dor? Alguma coisa errada? — mesmo assim a minha voz não saiu e ele se apavorou — Fale alguma coisa, por favor!
Joguei-me sobre o peito descoberto dele e envolvi sua cintura em um abraço firme, aterrorizado, sem voz e em estado de choque. Wayne passou a ponta dos dedos no meu cabelo e os afastou para o lado, com um discreto afago. Depois de um tempo naquela posição fetal, ele buscou meu queixo e o expôs trazendo-o para perto. Quando seus lábios me tocaram, meu coração apertou e eu retribuí.
Esse beijo não era um simples beijo — era uma demanda de amor e conforto contra todos os meus medos e inseguranças.
— Se não me disser, vou ficar cada vez mais aflito — sua fala já estava com ruídos angustiados, falhos.
Ofegante, puxei o ar e ergui a vista para fita-lo. Wayne ainda me encarava ansioso quando minha boca se abriu devagar.
— Eu me lembro...
A ansiedade naquele antigo olhar se desfez em uma lágrima modesta.
— Lembrou?
Aquela não pareceu uma pergunta feita a mim, mas sim a ele mesmo. E mesmo assim, senti necessidade de responder.
— Sim.
Foi uma resposta sussurrada.
Fui pega com tanta euforia, que mesmo estando assustada, Wayne me arrancou um sorriso. Não precisei dar detalhes, nem explicar nada. Nós dois simplesmente sabíamos o que estava acontecendo ali. Ele encostou nossas testas e meu deu mais um beijo afetuoso antes do som de passos, no lado de fora, virem acompanhados das batidas na porta. Nossa atenção foi desviada.
— Senhor Wayne? — Era Alfredo. E por algum motivo estranho ele tinha seu tom de voz corrompido. — Está acordado, senhor? — insistiu.
Christopher não demorou muito para se levantar e caminhar na direção da saída. Até mesmo ele sabia que não era uma coisa muito comum sermos interrompidos durante a noite por qualquer pessoa que fosse. Ele girou a maçaneta e encarou a imagem do mordomo, estático a sua frente — Alfredo ainda usava seu uniforme de trabalho como se nunca o tirasse do corpo. Mesmo com os trajes inadequados de Wayne, para não dizer quase nulos, o homem não parecia incomodado ou desconfortável com a situação, mas sua expressai não era feliz.
— Porque está aqui? — Questionou Christopher, diretamente.
— Vim pedir para que desça até a sala de espera, por um minuto.
— Do que se trata?
— Acho melhor apenas descer senhor Wayne — dito isso, ele se dobrou um pouco para frente e falou o restante ao pé do ouvido de Christopher.
— Vou me trocar.
— Não será necessário. Já separei suas roupas no quarto ao lado.
Eu ouvia toda a conversa e me incomodava o fato dos dois me ignorar, nem que fosse por um misero segundo. Christopher disse mais alguma coisa para o mordomo que o fez se adiantar enquanto ele vinha ao meu encontro.
— Dulce, me desculpe, por favor. Preciso que fique aqui e não saia. Volto logo que possível.
— O que está acontecendo? — insisti.
— Não se preocupe, apenas fique aqui.
Com um beijo apressado ele andou para fora e fechou a porta atrás de si, sem me deixar conseguir dizer mais nada.
Como um momento tão prazeroso se tornou em um fim de noite daqueles? Por que todos pareciam nervosos? Eu sabia que não era correto, mas não podia me obrigar a ficar parada sem entender, muito menos depois de acordar com tantas lembranças bagunçadas. Levantei da cama destemida, sacando do closet um dos muitos hobbies vermelhos para encobrir as roupas finas de dormir que usava.
Tentando refazer o caminho dos dois, cheguei próximo da escadaria avistando seguidamente um grupo de homens vestindo roupas oficiais.
Eram da polícia.
— Quem deu esta ordem tão audaciosa? — rebatia Wayne.
O homem para quem ele havia direcionado a pergunta parecia muito incomodado.
— Não dificulte as coisas. Estamos com a ordem em mãos.
— Então quer dizer que vão me algemar?
— Não pretendemos fazer isso, Wayne. Pela sua reputação, pelo seu nome e por quem é, todos do departamento decidiram fazer esta abordagem nesse horário. Sem curiosos, jornalistas ou escândalos. Por isso, agradeço se vier tranquilamente conosco, ou podemos mudar de ideia e foder com tudo. Inclusive com você.
— Alguém com certeza ira se foder hoje— a ironia foi seguida de uma repreensão de Alfredo que mais uma vez lhe disse algo discretamente.
Quando um dos homens pegou a algema, Christopher apertou o punho e ficou ainda mais com postura.
— Vamos, mas vou sair no meu carro.
Eles não contestaram nada, concordaram dispostos a sair.
Ouvindo o fim da conversa, desci as escadas, veloz, quase tropeçando em um dos degraus. Alfredo foi o primeiro a notar minha aparição. Christopher foi o segundo. Olhando seu semblante de perto, percebi como ele parecia exaltado.
— Escobar! — contestou antes que eu chegasse mais perto.
— Porque você tem que ir com eles?! — Questionei.
— Alfredo, segure-a! — Tentei me desfazer dele, mas o homem já me segurava pelo braço com firmeza — Volte para o seu quarto.
— Não!
— Dulce, eu preciso sair — o pedido foi feito com uma troca de olhar em suplica. Meu coração se rompeu de culpa pela postura juvenil daquele segundo. Mas eu estava desesperada e sem saber o que fazer. Era inaceitável.
Não respondi nada, apenas abaixei a cabeça recusando vê-lo sair.
Quando a porta fechou e as vozes deram lugar ao silêncio. Meus joelhos vibraram sem energia, obrigando meu corpo a entorpecer.
— Senhorita, Escobar... — o pedido do mordomo não me fez tornar.
"Eu vou resolver tudo" foi o que ele disse.
Mas não parecia resolvido, e agora, Wayne estava preso.
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Sold
Fanfiction*Fanfic Vondy A fatalidade une o destino de Dulce Escobar, uma garota de apenas dezessete anos, ao de Christopher Wayne, um homem bem mais velho e misterioso que divide opiniões. Para Dulce a vida não é feita de coincidências, e ela tem mais certeza...