A mesa estava recheada de comidas, tantas que me fazia questionar porque aquelas mulheres preparavam aquela quantidade de coisas sem que eu nem comesse metade. Era um desperdício. Com a fatia do bolo de leite nas mãos, abocanhei, solitária, olhando a cadeira em que Christopher habitualmente sentava, vazia.
Alfredo estava parado do meu lado apenas acompanhando a minha refeição daquela manhã.
— Onde ele está? — Murmurei.
— Viajem de negócios.
— E quando volta?
Alfredo me encarou com aquele olhar fraterno de sempre, e pousou sua mão no meu ombro.
— Em breve, senhorita.
Aquilo soou como um tempo indeterminado, em que nem mesmo o mordomo que tanto controlava os passos de Wayne saberia dizer. Talvez fosse a minha presença "patética" que o incomodasse tanto como ele mesmo havia dito na manhã do dia anterior. Eu devia mesmo ser irritante, além de sozinha, e sem nada.
Aquilo me fez lembrar da minha verdadeira casa, e em como ela estaria, largada em West-Coast. Quase tinha certeza de que a hipoteca entregou a propriedade de vez ao banco depois dos meses sem meus pais para quitar as pendências.
— Alfredo, quero que se sente comigo.
O meu pedido foi como uma ofensa para ele. O homem pareceu estupefato.
— Isso está for de cogitação senhorita Escobar, meus princípios não permitem tal atrevimento.
— Estou pedindo a você, e não há nada de errado com isso.
— Sinto muito, mas ainda não acho apro...
— Alfredo! — Interrompi mais apelativa — Por favor, preciso conversar olhando nos seus olhos. O senhor Wayne não está aqui, só há nós dois.
Ele parecia muito desconfortável, mas Alfredo era humano demais para negar algo a alguém que realmente precisava. O mordomo se sentou como se a cadeira tivesse coberta de espinhos no estofado, e me viu sorrir satisfeita pela presença dele. Automaticamente o homem se rendeu.
— Preciso da sua ajuda.
— Em quê?
— Tenho que saber como está a minha casa — explanei controlando a tristeza — Foi a única coisa que me restou deles.
— Como eu faria algo assim? Sou apenas um mordomo.
— Mas você tem acesso à internet, pode pesquisar para mim, ver o que encontra.
— A senhorita também tem acesso, através do seu celular.
Minha mente clareou ao ouvir aquilo. Claro! Eu tinha um celular, podia usá-lo para saber mais alguma coisa. Alfredo nem precisou de explicações minhas. Só de olhar a forma como sorri, ele compreendeu que eu não tinha pensado naquela possibilidade.
Levantei rapidamente da mesa de jantar e corri até o lugar onde passava meus dias. Trancafiada, acessei todos os sites de busca, a procura de alguma notícia sobre acidentes de carro na época em que voltávamos de viajem, pesquisei endereços, qualquer coisa, mas a pesquisa foi sem sucesso. Não encontrei nada que falasse sobre o meu acidente, e nem da casa. Com uma sensação terrível, joguei o celular para longe de mim e me encolhi na cama, lamentando a má sorte.
Durante aquela semana dediquei meu tempo a leitura, e sem reclamar, permaneci dentro do quarto, fora os dias em que Alfredo me recordava da curta liberdade que Wayne tinha me cedido mesmo depois daquele episódio no escritório secreto. Aproveitando também a ausência dele, me alimentei nos horários corretos, todos os dias na sala de jantar, numa solidão implacável.
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Sold
Fanfiction*Fanfic Vondy A fatalidade une o destino de Dulce Escobar, uma garota de apenas dezessete anos, ao de Christopher Wayne, um homem bem mais velho e misterioso que divide opiniões. Para Dulce a vida não é feita de coincidências, e ela tem mais certeza...