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Eu voltava para casa, no banco detrás daquele carro, como se fosse a primeira vez. Alfredo e eu estávamos do mesmo jeito, simulando o mesmo silêncio e estranheza de quando nos conhecemos. Preferi não iniciar um assunto que não conseguiria prosseguir. Ele muito menos tentou saber.

Quando chegamos na mansão, olhei em volta das escadas, antes de subi-las, reconsiderando os motivos que realmente me mantinham naquele lugar. "Dulce não era apenas uma encarcerada" eu era muito mais. Eu tinha medo do que seria obrigada a enfrentar se saísse mesmo dali. Teria que crescer, ser mulher suficiente e encarar as verdades do mundo.

No banheiro, molhei o rosto jogando água sobre ele, várias vezes, deixando escapar até mesmo para os cabelos. Eu queria acordar da raiva e relaxar os músculos, antes de ter algum ataque. Entretanto, ao sair do cômodo, meus olhos reviraram e os meus pulmões se estenderam. Christopher já estava posicionado como de costume, de pé, com a mesma expressão controlada que o tornava tão superior a mim.

— Não é uma boa hora — Rebati precipitando a conversa.

— Tenho certeza que não quer falar comigo agora, mas se eu não viesse possivelmente não ia dormir esta noite.

Andando um pouco sem rumo, procurei algum lugar menos comum para parar, e foi então que decidi sentar no estofado da janela, pondo os pés em cima junto ao meu corpo. Christopher queria se manter perto, e de forma recuada ele andou devagar na minha direção, medindo os passos com cuidado.

— Não penso que haja algo mais para falar — reforcei ainda convencida — Nós dois estamos com os pensamentos aflorados demais para decidir alguma coisa.

— Exatamente — Disse firme — você não pode tomar uma decisão num momento difícil. Elas nunca são sãs.

— O que eu disse no seu escritório não foi fruto de um "momento difícil", mas sim dos fatos contínuos que vivemos. Você sabe.

Em nem um momento mantive contato visual com Wayne, era mais fácil renegá-lo sem ter de olhar nos seus olhos. Eles sempre me enfraqueciam. A final, não era tão ruim admirar as estrelas brilhosas no céu já escurecido.

— Eu já pedi perdão.

— E eu já perdoei.

— Então porque que não vejo verdade nisso?

— Perdoar nunca foi esquecer — Expliquei entrelaçando os dedos — Sei que resolve tudo a sua maneira, porém, elas não são as minhas.

— Você chegou aqui bagunçando tudo, mudando os meus preceitos, e simplesmente pensa que é justo se afastar e me deixar sem nada, ou sequer explicações.

— Estou deixando claro os meus motivos. Quer que eu explique mais do que isso?

— Quero que seja minha... É isso o que quero.

Christopher já estava próximo o suficiente quando resolveu me golpear com palavras. Minha vista foi recuperada quando seus dedos seguraram meu maxilar, dispostos a me obrigar a segui-lo.

— Responda olhando nos meus olhos, do jeito que está agora, nessa mesma distância, sem muros ou escudos. Você não me quer mais Dulce?

Meus lábios tremeram, chateados, odiosos.

— Você está sendo injusto, me usando, obrigando que eu esqueça o seu erro.

— Apenas me responda.

— Wayne, eu não posso passar a mão na sua cabeça.

— Dulce, diga.

— Não.

— Por favor, diga, e eu juro que se for: não, mando levarem você para outro lugar, longe de mim, para viver como achar melhor.

Soltei-me dele, e me encolhi ainda mais, renegando a resposta que tanto queria. Eu não consegui dizer nada, mas Christopher estava disposto a sair dali com a sua reposta nas mãos. Determinado ele segurou meu rosto outra vez, com mais força e com as duas mãos, olhando-me com tanta decisão que foi inevitável não franzir a testa contendo a falência.

— Eu preciso que fale...

— Sim! — Gritei de olhos apertados — Eu quero.

Meus lábios tremeram, e o toque dele se tornou inda mais firme. Christopher sugou o meu lábio inferior, apressado, o umidificando com saliva. Sua respiração contornada me envolveu, trazendo uma calmaria inaceitável.

— Não me faça renunciar a nós — balbuciou ainda sobre a minha boca — Não...

— Você é louco... — retruquei, ofegante.

— Por você.

Wayne foi tão agressivo quanto a sua imparcialidade. Ele me moveu, pondo-me de costas contra o vidro, abrindo minhas pernas para se encaixar no meio delas. Puxou meus ombros, meus cabelos, e latejou próximo do meu sexo insinuando sua rigidez instantânea. Eu gemi mesmo com a boca vedada pela sua língua, deixando que beijasse meu colo assim que baixou a alça da minha camiseta. Eu estava sem sutiã. Meus seios não demoraram para serem expostos, mesmo sob a luz do espaço, revelando-lhe a visão da profusão. Christopher me encarou, antes de segurá-los, usando a ponta da língua para aventurar-se com eles. Eu empinei a cabeça, jogando-a um pouco para trás, dando-lhe a autonomia de segurar minha cintura, ainda sem cessar o movimento das lambidas.

Esquivei-me por reflexo, e em um segundo de fragilidade, ele caiu em si. Wayne sorriu pela sua própria falta de juízo, e por seu autocontrole abalado o fazerem sempre implorar por toques como aquele.

— Desculpe... — Ressaltou subindo a minha camisa de volta, pondo-a no lugar, atenciosamente — Não quero resolver nada assim.

— Pode me deixar sozinha? Com você aqui eu não consigo raciocinar.

— Estamos bem? — Ele me encarou, buscando certeza antes de partir.

Mas ao invés de falar, eu curvei os lábios, tímida, e peguei no seu rosto com a mão direita, lhe dando um beijo discretamente carinhoso. Christopher retribuiu o beijo, um pouco mais entregado, encostando o nariz no dorso da minha mão, a mesma que o tocava.

— Durma bem.

Assenti e nos despedimos.

***

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