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Havia muita gente dentro daquele lugar, e todas elas pareciam apenas olhar para nós dois. Era extremamente perturbadora a maneira como éramos analisados. Com muita raiva invejei a forma tranquila de Wayne em lidar com toda a atenção recebida. Todos pareciam querer falar com ele, tocá-lo, sorrir para ele. Era subversivo, animais prontos para idolatrar padrões e status. Realmente eu estava no lugar errado aquela noite.

— Vamos nos afastar por um momento? — Disse após descansar o sorriso dado ao último casal que veio nos cumprimentar.

Quis perguntar por que, mas fui interrompida.

— Olhem só! Que bom vê-los.

A voz marcante de Samantha foi impossível de não se destacar, mesmo com a música de fundo. Ela também estava longe de passar desapercebida, dentro daquele vestido preto, tomara que caia, envolvido numa echarpe. Wayne soltou meus braços nesse momento.

Sua silhueta magra e alongada andou até nós dois, parando bem na frente de Christopher. Ele era quem a interessava. A mulher deu um beijo em cada uma das bochechas dele, ajustando habitualmente a sua gravata borboleta. Franzi o cenho enfadada pela ação nada haver. A gravata estava muito bem arrumada antes dela decidir ser útil.

— Você está lindo como sempre, Christopher.

Percebendo minha expressão ela me olhou e soltou Wayne.

— Não seja tão ciumenta, Dulce. O ciúme só destrói.

Ela gargalhou e passou a mão na saia do vestido.

Parece que a vaca sabia o meu nome, a final.

Reneguei as palavras e olhei o lado oposto — Dulce, mantenha a calma — repeti internamente, duas ou três vezes. Ela só podia estar louca ao dizer que eu sentia aquilo por ele.

— Já pode levá-la com você.

— Claro querido, está tudo preparado.

Fitei Wayne, nervosa, em busca de alguma reposta do porquê dele me deixar nas mãos daquela mulher. Puxando seu braço, eu o arrastei alguns centímetros, nos deixando a certa distância dela.

— Samantha vai retocar sua maquiagem no toalete — se adiantou, reprovando minha reação de tocá-lo daquela forma — Ela é a única em quem confio para deixar você.

— Tem certeza?! — Sussurrei, olhando-a de longe. Ela segurava a echarpe sem tirar o sorriso do rosto — Ela me odeia.

— E com você é diferente?

A pergunta dele soou como uma crítica aos meus comportamentos diante de Samantha. Eu podia não falar quase nada nos encontros com ela, mas minhas reações eram fáceis de ler. Wayne sabia que eu reprimia sentimentos. Será que podia perceber todos?

Ele me convidou a voltar para perto dela, e nós fomos. Assim que chegamos Samantha pegou na minha mão e me levou inesperadamente até o banheiro.

Algumas moças se retocavam e conversavam quando entramos. Foi engraçada, e não surpreendente, a maneira como elas também cumprimentavam Samantha. As mulheres sorriam e mal se tocavam. Pareciam tem medo umas das outras. Era estranho a abominação delas ao contato físico. Os beijos formais eram dados a distância, pegando-se apenas pelas pontas dos dedos.

Inevitavelmente dei um riso ridículo, e todas me encararam. Assim que percebi a forma que me olhavam, disfarcei olhando para o teto. A luminária de cristal era mesmo bonita.

— Vamos ver primeiro esses olhos.

Próximas do espelho, ela puxou da bolsa duas paletas com cores semelhantes às que eu usava antes, me pedindo para fechar os olhos. Obedeci, ainda desconfiada, mas fiz. Depois de tingir as pálpebras, ela passou lápis escuro e finalizou com rímel, um pouco mais de blush e iluminador.

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