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Meus braços se alongaram preguiçosos, acompanhados da incômoda dor no ventre que finalizava o meu martírio mensal. Rezinguei e comprimi meu corpo em concha, como resposta. Ao fazer isso, meu olhar foi atraído pelo bilhete alaranjado sobre o criado mudo. Arrastei o corpo para perto do objeto e segurei o papel.

"Tome"

Era a única coisa escrita.

Quando retrocedi a vista percebi que possuía uma cartela com analgésicos. Na descrição estava claro que eram para dor. Pensei imediatamente em Alfredo. Ao lado de onde a embalagem estava, um copo pela metade de água complementava a preocupação do mordomo quanto ao fato de eu realmente me medicar. Nem era preciso pedir, por Deus, minha barriga estava levando facadas naquele exato momento e eu precisava parar com isso.

Engoli um dos comprimidos e bebi a água, esperando um certo tempo até me levantar totalmente da cama. Na pia do banheiro, frente ao espelho, molhei meu rosto com as mãos e fitei meu reflexo, relembrando os últimos encontros calorosos com Christopher, onde nossos corpos faiscavam abrasados de tesão. Minha mente reviveu um turbilhão de pensamentos no qual alguns foram capazes de me atropelar, entretanto, segurei na borda do lavatório devolvendo-me a sensatez que pretendia se perder. Respirei fundo, elevei os ombros e meneei a cabeça afastando as reações selvagens.

Com a toalha de rosto nas mãos, terminava de secar a face quando encontrei Alfredo estacionado próximo a porta, com os braços por trás das costas. Ele estava estático, ostentando a postura firme de costume.

— O café está servido.

— Vou descer logo — Respondi — Ah, e muito obrigada pelos remédios. A dor melhorou muito.

Ele me admirou duvidoso.

— Desculpe, mas de que remédio está falando Srtª Escobar?

— Hoje, ao acordar eu... — Me interrompi avaliando os fatos — Não foi você quem os deixou aqui?

— Certamente que não. Não sabia que a senhorita sentia dores. Almeja mais alguma coisa para ajudar a aliviar?

— Não. Estou bem agora.

— Certo. Lhe aguardo na mesa.

Concordei e ele se foi. Pensativa, peguei o celular e digitei sem tranquilidade.

De: Dulce Escobar
Assunto: Deixe claro suas ações
Data: 25 de junho de 2014
Para: Christopher Wayne

Christopher, eu gostaria mesmo de saber que foi você quem deixou os remédios para mim esta manhã.

Dulce Escobar
Prisioneira do Sr. Wayne, inc.

Enviei e arremessei-o na cama para terminar de me arrumar e pentear as madeixas. Assim que peguei o celular de volta, a tela já cintilava uma luz azul — a mesma que elegi para identificá-lo— anunciando a notificação de correio eletrônico.

De: Christopher Wayne
Assunto: Dramática até pela manhã
Data: 25 de junho de 2014
Para: Dulce Escobar

Primeiramente, um bom dia, Dulce.

Sim, foi eu quem pensou na sua dor. Deixei os remédios bem cedo e como ainda dormia não quis ser indelicado e acorda-la. Você parecia um anjo. Espero que eles tenham ajudado.

Obs: Srtª. Escobar, já pode mudar a sua identificação. Ou ainda se considera uma prisioneira?

Christopher Wayne
CEO, Wayne Enterprises, inc.

Porque pensei em Alfredo? Talvez porque não confiasse que Christopher seria capaz de dar atenção a um detalhe tão bobo como aquele, mas não, eu estava errada. Ele não só tinha dado atenção como também procurado uma solução.

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