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A dor parecia não passar nunca, e o infeliz episódio com Christopher a minutos atrás acabou com todo o meu sono. Meu Deus, porque fui tão humilhada daquela forma? Porque deixei que ele me beijasse?

Aquele foi o meu primeiro, e pior, beijo. Totalmente diferente do que sonhei para o dia em que isso acontecesse.

Mas o que mais destruía a minha dignidade não era o fato de Wayne ter me beijado, e sim de eu ter sentido coisas estranhas quando ele fez isso. Foi como se não houvesse chão abaixo dos meus pés, e a dureza que construí durante todo esse tempo nem existisse. Até que ponto cheguei. Era puro castigo ter acontecido o que ele próprio me alertou. Não... Tudo menos isso. Eu não podia estar apaixonada por aquela pessoa.

Seria a minha autodestruição.

Depois de mais de duas horas na tentativa, consegui dormir um pouco, levantando algumas vezes durante a madrugada.

Acordei com a cena do nosso beijo se repetindo num sonho, sem a desagradável parte final. Estirei o corpo na cama e olhei o teto pensando que jamais seria capaz de entender o que levaria um homem como ele a dar uma quantia tão alta numa pessoa que fazia tanta questão de manter distante e ignorar. Christopher me repudiava, e talvez fosse porque na sua concepção eu não lhe agradava fisicamente. Refletindo, minha autoestima decaiu e eu fiquei vagamente decepcionada. Isso me levou a ir frente ao espelho para me autoanalisar.

Meus traços não eram feios, meu corpo não era flácido, e mesmo que fossem, qual o problema nisso?

Com um lento giro me olhei de todos os ângulos, mas logo me policiei balançando a cabeça negativamente "Qual o seu problema Dulce? Desde quando se importa com o que ele pensa?!".

Até onde eu sabia, a única coisa pela qual lutei por todo esse tempo foi para impedir o abuso contra mim e contra o meu corpo. Lutei para não ser objeto de ninguém, e querendo ou não, Christopher tinha me comprado daquelas pessoas a pedido do pai. Mas porquê e para que?

Não liguei para quem me veria, e nem quem estaria acordado naquele horário, apenas abri a porta do quarto, abruptamente e sai. Não sei como, mas nem um daqueles brutamontes estava do lado de fora me vigiando. Desacreditando na sorte, andei devagar, olhando ao redor de tudo, confirmando que eles realmente não estavam por perto.

Corri pelo corredor apressadamente e fui de imediato para o quarto dele. O lugar que nunca deveria ser violado...

"Foda-se!"

A porta também não estava trancada, e aquela foi a segunda surpresa do dia.

Pego pela minha imagem deprimente de baby-doll, Christopher parou de engolir a água que bebia e me encarou, pela primeira vez desde que o conheci, verdadeiramente surpreso. Mas aquilo não era o pior. Como se não bastasse, diferente dele, Samantha me olhou de cima a baixo "Arqueando aquele par de sobrancelhas finas e horripilantes" de forma crítica. Se fosse possível, cavaria um poço e me jogaria dentro. Naquela altura eu já tinha me arrependido amargamente de ter saído do meu quarto.

Porque ela tinha que estar lá também!

— Pensei que as suas pernas fossem mais grossas. — A voz irritante daquela mulher quase fez minha mão voar na cara dela. Por sorte, Christopher pareceu notar o fogo sair pelos meus olhos e se pronunciou.

— Samantha, é melhor continuarmos a conversa mais tarde.

Isso! Vai saindo sua bruaca de quinta! Pensei internamente, quase gritando, mas nem foi necessário, ela nitidamente percebeu o que eu sentia.

Levantando do divã, Samanta pegou sua bolsa e andou para perto dele, beijando seu rosto, lentamente, e proposital. Revirei os olhos pela inocência dela achar que eu me importaria com aquilo. Ao passar pelo meu lado, ela sorriu sutilmente e fechou a porta.

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