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Um tempo se passou até que eu pudesse fazer a minha primeira prova de conhecimentos gerais. O método de avaliação de Theo era baseado em reunir todas as matérias, a fim de me instigar a estudar tudo, e principalmente ganhar mais tempo nas correções. Eu e ele nos dávamos tão bem que as vezes eu esquecia que éramos aluna e professor, o que na minha vida passada sempre foram bem estabelecidos – odiava manter relação de amizade com professores – mas com ele era diferente. Theo me revelou durante uma das aulas de literatura que tinha apenas 23 anos, e junto com isso o meu conforto ao seu lado melhorou bastante. Nossa diferença de idade não era tão exuberante comparada a de Wayne.

Juro que o subestimei muito a princípio pela sua jovialidade, mas a capacidade dele de ensinar se submergia perante o meu senso crítico. Ele me fazia rir como ninguém e era muito prazeroso nossas longas conversas no tempo livre. Theo era mais um bom amigo que fazia questão de ter ao meu lado nessa nova fase.

Ao último risco feito com a caneta vermelha sobre o meu exame, e então ele sorriu me mostrando satisfeito o A, sem o "mais", por um erro mínimo numa das questões.

— Não fique com essa cara tão ruim, você foi bem.

— Você é cruel.

— Sou seu professor agora, deixe de querer me subornar pela intimidade!

Ele gargalhou por causa da minha imatura competitividade e exigência pessoal. Nos estudos sempre fui, desde criança, a menina prodígio, aquela que buscava a perfeição em tudo.

— Ora de esquecer a nota, devia sorrir mais, hoje é um dia especial.

Franzindo o cenho confundida pela estranha comemoração dele, observei o homem de olhos azuis erguer sua pasta marrom e retirar de dentro dela uma embalagem coberta por um papel dourado brilhante.

— Meus parabéns! — Ressoou contente me estendendo o objeto dourado.

— Isso é pela minha nota? — Questionei pegando o presente sem desamarrar o laço.

— Como assim? Hoje não é 20 de junho?

Recuei os ombros imediatamente, e apertei o presente dele contra o meu peito. Aquela era mesmo a data certa... quando perdi a noção do tempo?

Era o meu aniversário.

Theo percebeu que algo estava errado assim que comecei a dar passos para trás, trêmula, impedida apenas pela parede. Ele andou até o meu lado antes da primeira lágrima decidir invadir o meu rosto. Segurando minhas mãos e ouvindo o meu soluço o homem pareceu não saber o que fazer.

Foi um choro incontrolado, que mal me deixava respirar.

— Dulce, você está bem? Eu disse algum coisa ruim?

Neguei a preocupação dele apenas movimentando a cabeça, alimentando ainda mais a sua confusão.

— T-tenho que ir.

Sem dar mais explicações, corri da sala de estudos e fui em direção as escadas, porém, quando ceguei até elas, decidi não subir assim que um um desejo estranho me assolou. Olhei para o corredor que levava as salas do andar de baixo, e repeti o trajeto indo até a porta diferenciada do escritório, o mesmo dos quadros de morcego e da passagem secreta.

Só que desta vez a porta estava trancada, deixando a minha necessidade reclusa. Forcei mais algumas vezes inconformada até a voz do mordomo me assustar.

— O que faz aqui senhorita Escobar?

Alfredo estava sério, mas mudou de expressão ao ver o meu estado depressivo. Ele relaxou os músculos da face e refez a pergunta, desta vez de uma forma mais tranquila.

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