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Theo

Dulce estava deitada, repousando como uma menina indefesa sobre o leito daquele hospital, inconsciente de tudo o que acontecia.

Do lado de fora, os seguranças que sempre nos perseguiam telefonavam em silêncio, me impossibilitando de ouvi-los, mas se fosse algo a se pensar, não precisariam me dizer muito. Eu sabia com quem eles falavam. Só podia ser Wayne. Só de pensar naquele nome minhas mãos se fecharam de rancor.

Sentado em uma das cadeiras a espera de notícias, vi uma enfermeira se aproximar e me convidar para segui-la. Olhei para um dos seguranças, e percebi que todos eles estavam distraídos cochichando entre si.

Fiz o que ela pediu, sem avisar nem um.

Quando entramos na sala, o médico coreano que nos recebeu assim que chegamos e fez os primeiros cuidados em Dulce levantou a vista e me olhou nos olhos.

— Olá. Você é o guardião da Srta. Escobar?

— Digamos que sim.

— Oh, acho que entendi — falou ele, com certo sarcasmo na face.

— O que ela tem? Estou preocupado. É anemia?

Deduzi aquele diagnóstico de tanto ouvir minha mãe falar "coma! Ou vai desmaiar de anemia" Dulce desmaiou, e na mesma hora associei ao conselho materno. Parecia bobagem, mas virou tradição.

— Sim, é anemia. Mas é porque ela está grávida. Parabéns! Acho que você deve ser o pai da criança, certo?

Sem muito o que dizer, tentei digerir aquela informação, mas minha garganta estava fechada. O gosto amargo do ódio deslizava por ela e me deixava ainda mais contrariado com tudo o que aconteceu em menos de uma hora.

Maldição! Fiz meu cérebro berrar.

E mais uma vez, sem que notasse, fechei as mãos em punho e amassei a ponta da minha camisa, amarrotando-a.

Dulce

Quando reabri os olhos Theo estava sentado do meu lado, vivendo a própria angústia, sem perceber meu despertar, até que chamei por seu nome e ele me encarou aliviado.

— Dulce... Consegue me ver?

— Claro que sim. Só desmaiei, não fiquei cega, professor.

Ele sorriu, mas eu fiquei um pouco desconfortável por ter sido grosseira na brincadeira. Talvez não fosse uma boa hora para brincar.

— Você recuperou a memória? Porque parece a mesma briguenta de antes.

— Por enquanto só os sentidos. Ainda estou na mesma — Confirmei —Agora me diga como vim parar em um hospital?

— Depois que desmaiou nos meus braços tentei acordá-la, mas você não retornou, então viemos aqui buscar ajuda.

— O que fez isso? Foi meu estrago na cabeça?

— Também, mas você está anêmica e fraca demais. Isso ocasionou tudo.

— Ah, então vou ter que me alimentar melhor.

— É, vai.

— Que bom que não foi nada grave.

— Quer comer ou beber alguma coisa?

— Pode ser uma água de coco.

— Vou pegar bem rapidinho, me espere.

— Prometo que não vou sair daqui.

Ele sorriu mais uma vez, só que mesmo que sua boca mostrasse uma expressão calma seus olhos pareciam longe, distraídos.

Ignorei aquilo já que teria sentido depois da declaração... — Eu acho que te amo.

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