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Possíveis erros ortográficos serão corrigidos assim que percebidos..

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Uma luz fina bateu contra o meu rosto e depois disso percebi que as horas tinham passado como um martírio. Não conseguia lembrar a que horas fui dormir naquele dia, mas ainda era de dia. Alfredo estava como um cão de guarda. Vigiando-me dentro daquele quarto, sentado com um livro de capa preta, concentrado.

Quando notou meu despertar, ele foi rápido em se erguer e largar a distração de lado.

— Olá, senhorita. Obrigado por diminuir meu trabalho, já ia acorda-la.

— Que horas são? — perguntei pondo a mão sobre um local novo de dor na nuca.

Meus olhos pesados queimavam.

— Precisa se apressar, ou vai perder sua consulta.

Ah, claro. As consultas da gravidez. Christopher me contou sobre elas, empolgado, disposto a estar presente em todas. Pensar nisso me fez entristecer antes mesmo de criar consciência.

— Quer ajuda? — Alfredo interrompeu sabendo no que os meus pensamentos estavam focados.

— Obrigada, Alfredo. Vou me cuidar um pouco agora, sozinha.

Ele acenou e saiu devagar, olhando algumas vezes para confirmar se eu havia mesmo me levantado dali.

Dentro do banheiro, me olhei demoradamente no espelho, avaliando o estado abatido em que estava. Era irritante. A gravidez havia me deixado mais emagrecida, com menos cor no rosto e de olhos fundos. Preparei a banheira com água levemente aquecida e me deitei sob ela. De olhos fechados e com o corpo sonolento, joguei a cabeça para trás e respirei fundo.

De todas as formas possíveis tentei afastar e selecionar exatamente o que eu queria lembrar, porém, era inevitável. Encarei a cicatriz agressiva das minhas mãos, quase sentindo novamente a dor e o cheiro de pele queimada. Tudo ali fedia. Os gritos, o pavor, a fumaça.

— Dulce — a voz feminina me forçou a sair do devaneio.

Era Samantha. Ela estava de pé quase ao meu lado.

Eu podia expulsa-la, destrata-la, mas estava muito enfadada para isso, e a mulher não parecia nada alegre.

— O que você quer? — indaguei, sem vergonha de estar despida.

— Deixa eu te ajudar — ela ignorou o que eu disse, pegou uma esponja, alguns sais de banho e se ajoelhou do meu lado — Você devia aprender a se banhar dentro de uma banheira. Sais são obrigatórios, e deixam a pele linda.

Mesmo intrigada com a ação imprevista dela, continuei sendo ignorada. Samantha segurou a esponja, e com bastante espuma, esfregou a mesma nos meus ombros. Lavando minha pele sem nem uma concessão.

— Porque isso, você não é voluntariosa e nem agradável.

— Nossa, — balbuciou — você é muito ingrata, donzela. Eu já te ajudei muitas vezes.

— Samantha, pare.

— Eu quero fazer isso — explicou sem interromper seus movimentos. Agora ela já estava com as mãos mergulhadas na água alcançando meus braços — Pelo seu tom de voz e pela forma que me olha, posso quase deduzir que já lembra muito bem de mim.

— Quem sabe.

— Corrigindo. Eu já tenho certeza que sim — ela sorriu amarelo, quase triunfal, exibindo sua sensibilidade aos detalhes.

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